O céu é o limite
O português Pichardo, sem mas nem meio mas; Duplantis olha a fasquia de cima para baixo; Nuno Mendes e Vitinha de igual para igual
O 18.º Campeonato do Mundo de atletismo consagrou mais uma vez Pedro Pablo Pichardo, português nascido em Santiago de Cuba há 29 anos, uma evidência que é preciso realçar sempre que chega a hora de lutar contra o racismo, a xenofobia e a discriminação, porventura três das piores características do ser humano. Vozes de burro não chegam ao céu, sentencia o povo, mas como mais vale prevenir que remediar importa estar atento e combater sem tréguas os cavaleiros do apocalipse por mais ruidosos que sejam os decibéis que consigam vomitar quando subordinam os princípios aos interesses egoístas da conjuntura.
Pedro, o Grande, assim titulou A BOLA, em manchete, o momento de glória nascido de um triplo salto de 17,95 metros rumo ao ouro em Eugene, nos Estados Unidos da América. O mesmo que assegurou em Tóquio nos Jogos Olímpicos de 2020 que se realizaram no ano seguinte em tempos de pandemia. Ao vê-lo correr antes de levantar voo e aterrar na areia, fica a sensação de que nunca usa todo o arsenal de talento de que dispõe como se o melhor estivesse sempre para vir.
Talvez se esteja a guardar para atacar o recorde do mundo do inglês Jonathan Edwards, selado a 18,29 metros no distante dia 7 de agosto de 1995, em Gotemburgo - PPP tem a sétima melhor marca de todos os tempos, a 18,08 m, a 28 de maio de 2015, em Havana. O céu é o limite, Pedro. Sem vozes de burro a incomodar.
Todos os verões valem a pena, verão com Mundial, Europeu ou Copa América de futebol então nem se fala, mas os verdadeiramente inesquecíveis são aqueles que contam com os cinco anéis e a chama olímpica acesa na primeira quinzena de um qualquer querido mês de agosto. Modalidade rainha dos Jogos Olímpicos, o atletismo reinou por estes dias no outro lado do Atlântico, quase no Pacífico, e nem só Pedro Pablo Pichardo se sentou no trono.
Outra alteza real, Armand Duplantis, saltou com vara até bater mais um recorde do mundo, agora a 6,21 m, após ter subido de 6,15 m, a 17 de setembro de 2020, para 6,16 m, a 30 de junho último. Quando o jovem prodígio sueco, de 22 anos, salta a impressão que fica é que a fasquia nunca está alta demais e que, ao contrário de Ícaro, pode aproximar-se do sol porque não tem cera a colar-lhe as asas como o filho de Dédalo na mitologia grega.
Ainda me lembro do sublime Sergey Bubka, um dos meus atletas favoritos, atingir a barreira que se julgava inalcançável dos seis metros, a 13 de junho de 1985, em Paris. O céu era o limite para o ucraniano, o céu é o limite para Duplantis, que, tal como o velocista jamaicano Usain Bolt olhava para os adversários enquanto cruzava a meta a desacelerar e a contemplar, também mira a fasquia de cima para baixo como se dissesse nem penses que te vou tocar.
Onde é que estavam em maio de 2021? Se a pergunta for dirigida a Nuno Mendes e Vitinha, ambos a brilhar na cidade-luz ao serviço do PSG, a resposta permitirá perceber que também para eles o céu é o limite. O lateral-esquerdo terminara a época como campeão no Sporting, lançado na anterior já por Rúben Amorim, o médio regressara ao FC Porto depois de empréstimo ao Wolverhampton que não acionou cláusula de compra de €20 milhões.
Um ano volvido, Nuno Mendes é campeão de França, Vitinha é reforço dos parisienses garantida dobradinha em Portugal para a qual contribuiu decisivamente como pedra de toque que mudou a face de um novo dragão idealizado por Sérgio Conceição. Na digressão de início de temporada, no Japão, mostraram argumentos para convencer Christophe Galtier a dar-lhes a titularidade e que gozo vê-los ao lado de Messi, Neymar e Mbappé de igual para igual.