O «brilho» de Ronaldo
6 x Messi - (CR7: Sarri)
EMessi lá conquistou a sua sexta Bola de Ouro. Não há nada a dizer. Ou melhor, até há. Aquilo que foi dito por, entre muitos outros, o vencedor da edição anterior (o croata Luka Modric) e o segundo mais votado desta (o holandês Virgil van Dijk). E o que disseram todos eles? Que a escolha do astro argentino era justíssima, não assistindo sombra alguma sobre o mérito do vencedor.
Só foi pena Cristiano Ronaldo não se ter dignado comparecer à habitual cerimónia onde são entregues tais distinções. Porque dá assim razão a quem diz que só lá vai quando ganha. Ainda por cima tudo isto sucede poucos dias depois daquele lamentável episódio em que abandonou os seus e a casa comum de todos os juventinos, logo após a sua substituição, sem sequer esperar pelo término do jogo. E se o treinador Fabio Capello o acusa, com algum exagero, de há três anos não fintar um único adversário, já do suposto elogio que lhe foi feito pelo seu próprio técnico brota cinismo por todos os lados, pelo que certamente CR7 de bom grado o dispensaria. Lembremos o que disse o treinador da Juventus: «Recuperou em termos de resistência. O próximo passo será recuperar algum brilho.» Traduzindo: como só se pode recuperar aquilo que se perdeu, Maurizio Sarri assume que o madeirense sofria de um défice atlético. Mas o problema não era só o físico. Era também de rendimento, de qualidade, enfim, nas palavras do técnico italiano, de «brilho». Ainda falta «recuperar algum brilho», disse ele. Note-se que o transalpino já nem espera o esplendor de outrora. Ou seja, todo o brilho entretanto perdido. Não. Ele já se contenta se, no «próximo passo», Ronaldo «recuperar algum brilho». Se isto é um elogio o nosso capitão deve preferir as críticas.
Aboubakar, o mártir que vai ser feliz
Ocamaronês Aboubakar é um jogador talentoso. Mais do que lhe foi permitido mostrar até agora. Por razões nem sempre razoáveis. Foi o caso do empréstimo ao Besiktas.
Na época transacta lesionou-se com assustadora gravidade. E quando voltou a jogar voltou também a lesionar-se. Recentemente jogou mais tempo pela sua selecção do que até aí havia feito em toda a presente temporada de dragão ao peito. Pelo meio, uma ou outra vez pairou a suspeita de nova cedência a clubes turcos. Agora, surpreendentemente, recuperou pela primeira vez a titularidade num jogo decisivo, a contar para a Liga Europa. Não menos surpreendente foi o seu desempenho - vitória portista com dois golos de Vincent Aboubakar. E ele muito justamente aclamado como herói da partida. Mas no último desafio, contra o Paços de Ferreira, a contar para a Liga, estava jogada pouco mais de meia-hora, Aboubakar lesionou-se outra vez. Ao que parece, desta vez sem especial gravidade. Que recupere de uma vez por todas! E que marque muitos golos, o melhor antídoto que existe contra a infelicidade.
Zé Luís, o ourives inesperado
CHEGOU acompanhado de um preço considerado alto e de uma expectativa medida por baixo. Mas logo de início exibiu um fortíssimo jogo de cabeça (ninguém domina o trânsito aéreo como ele, quase de certeza, e não somente nas chamadas bolas paradas). Depois apresentou-se também como goleador, através de remates em jogadas corridas, sobretudo de pé esquerdo. Até que no já citado encontro com o Paços de Ferreira teve de substituir o herói infeliz. E foi então que, em vez de um golo, o avançado cabo-verdiano resolveu esculpir nos céus das alturas uma peça de arte cravejada de magia e espanto. Aquele golo não é golo. Estamos já fora do futebol. Entrámos nos domínios da mais sofisticada ourivesaria.
Brescia
O Brescia é o último classificado da Série A do campeonato italiano, o que pode ser considerado normal. Assim como também é normal ter resolvido despedir o treinador, de seu nome Fabio Grosso. Até aqui tudo normal, portanto. Pelo menos enquanto não forem feitas duas perguntas auxiliares: 1) há quanto tempo estava o técnico em funções? 2) quem é o seu sucessor?
Resposta correcta à primeira questão: três semanas. Exacto. Fabio Grosso foi contratado a 5 de Novembro para exercer o cargo de treinador do Brescia, em substituição do seu compatriota Eugenio Corini.
Resposta correcta à segunda questão: Eugenio Corini. Exacto, não é coincidência. Não há dois técnicos com o mesmo nome. Só há um Eugenio Corini, e um só apenas. O que significa que o Brescia despede um treinador e três semanas depois volta a contratá-lo. Independentemente do seu valor, duas conclusões óbvias podem desde já ser extraídas. Uma: em Brescia não há quem conheça o conceito chinês de «não perder a face». Outra: com decisões de tão resplandecente inteligência por parte de quem manda no clube, só um lugar lhe pode assentar bem: precisamente o último.
Já havia quem padecesse de uma maleita que consiste em sentir uma estranha e perigosa atracção pelo abismo. Agora há também quem sofra de uma irresistível tentação de ir pelo cano.
Entrevista imaginária
- Antes de mais nada, parabéns pela vitória e…
- Não diga mais coisa nenhuma, sob pena de redundância!
- Uma questão só: onde foi buscar a inspiração para uma manobra táctica tão disruptiva?
- A um lobo, a uma cabra e a umas quantas couves.
- Perdão?
- Está perdoado. E explico, já agora. Isto é como ter de atravessar um ribeiro com uma pequena barcaça e só poder transportar um elemento de cada vez. Como sempre, há muitas opiniões, mas uma só solução. Porque se levo primeiro as couves, o lobo obviamente come a cabra. E se levo primeiro o lobo é a cabra quem me come as couves… está-me a seguir ou quê?
- Sim, acho que sim, continue por favor.
- Bom, então é assim: levo primeiro a cabra, porque o lobo não me vai dar cabo das couves; volto e levo então o lobo - mas, atenção!, quando o deixo na outra margem trago de volta a cabra; de seguida, deixo a cabra e levo as couves; finalmente, volto para levar a cabra. E assim ficam todos na outra margem sãos e salvos. Compreendeu agora?