Não continuem a tentar. Vamos saber resistir

OPINIÃO06.05.202119:07

Posso dar mais ideias para impedir que o campeonato seja anormal; para se ‘normalizar’, tal como Pinto da Costa aprecia. Por exemplo: dar voz de prisão a certos jogadores

P RONTO! Chegou aquele momento que raramente, ou nunca, imaginámos: todos (ou quase) os sportinguistas vão torcer pelo Benfica, no jogo de hoje, contra o Porto. Se os da Luz vencerem, o Sporting, que já assegurou a entrada direta na Champions e uma série de milhões, fica a um ponto de ser campeão e com três jogos por jogar: Boavista em casa, Benfica na Luz e Marítimo em casa. Ou seja, chegará o momento que tanto esperavam os repórteres que ouvem os treinadores no final dos jogos: Rúben Amorim assumir que o Sporting é candidato ao título.
É claro que isto só poderá ser verdade por o campeonato não ser normal, do ponto de vista do presidente do FC Porto. Não era suposto uma equipa chegar à 31.ª jornada sem nunca perder (24 vitórias e sete empates); não é habitual ganhar-se com menos um jogador a uma equipa que luta pelo pódio; não é comum o Porto não conseguir vencer o Sporting em qualquer encontro; não é trivial ter apenas 15 golos sofridos nesta altura do campeonato. Nada neste Sporting é típico, nem o golaço de Paulinho, uma obra de arte de um avançado que tardava em justificar a contratação. Espera-se que o ditado tardou, mas arrecadou se cumpra e este grande golo seja recordado como um dos que deu o campeonato ao Sporting. Muito embora, como bem recordou o treinador do Sporting, nada esteja ganho, porque o Porto, através de uma normalidade (que é real), pode ganhar ao Benfica, ficar a seis pontos e ainda discutir nos últimos três jogos, que valem nove pontos, a perda da vantagem leonina. Até porque, como se sabe, o futebol tem razões que a razão desconhece e, sobretudo, tem esquemas que uma pessoa simples não consegue compreender.


URGÊNCIAS E ERROS

O jogo de ontem, não sendo decisivo, revelava-se como muito importante. Por isso, a normalidade tornava urgente que umas palavras de Rúben Amorim fossem devidamente analisadas, de modo a que seis meses depois lhe fosse aplicada uma pena: ir para a bancada. Mas os senhores (e senhora) do CD não sabem que o Sporting tanto joga com Rúben na bancada, como queriam, como com Rúben no banco como aconteceu? Aliás, o jogo mais épico dos últimos tempos foi ter ganho ao Braga, fora, com menos um, e o treinador no camarote. 
Por isso devem insistir mais. Tentar impedi-lo de entrar num estádio, por exemplo. Ah! É verdade, já pensaram nisso com aquela coisa do processo que ameaça suspendê-lo de um a seis anos por não ter habilitações. Algo de que a Associação Nacional de Treinadores se lembrou em março de 2020… há mais de um ano, e que está em apreciação, com aquele pormenor de tentar ser uma espada presa por um pelo de crina de cavalo (a espada de Dâmocles), a pender sobre o pescoço de Rúben. Não vai resultar.
Como não resultou, em Braga, expulsar Gonçalo Inácio no início do jogo; nem o exagero de três penáltis por marcar e, pelo menos, uma expulsão clara por decidir, no jogo seguinte, contra o Nacional. Onde vai um, vão todos. E todos são também os que saltam do banco para o golo, como Matheus Nunes em Braga e Jovane em Alvalade contra os madeirenses.
A questão da última suspensão era, porém, a mais ridícula. O CD decretou seis dias de suspensão porque Rúben disse que houve dualidade de critérios, e que o penálti, óbvio e imediatamente marcado pelo árbitro de campo, mas revertido pelo VAR, por falta de Zaidu sobre Pedro Gonçalves, devia ter sido mantido e o jogador do Porto expulso. Algo, portanto, que nunca se ouviu a qualquer treinador. Apesar de, momentos depois, ter reconhecido que não devia ter dito, o treinador do Sporting (desculpem, na altura era treinador-adjunto, uma pessoa não se lembra destas coisas dos cursos), seis meses e meio depois, conhece a sanção do CD. É fantástico!
Como se sabe, os outros treinadores nunca dizem nada. A Sérgio Conceição já o ouvi dizer: «Senhor árbitro, com a devida vénia, lhe significo ter uma opinião ligeiramente diferente sobre o cartão amarelo que acaba de mostrar; salvo melhor opinião, o meu jogador não tocou nem ao de leve no adversário, pelo que encarecidamente lhe peço que reconsidere.» É claro que o treinador do Porto, ou do Benfica, ou do Braga, ou de qualquer clube, dirige-se deste modo aos juízes da partida, mas por falarem rápido conseguem resumir tudo a uma ou duas palavras que não vou aqui citar. E eis o problema de Rúben (algum tinha de ter): não sabe resumir.
Ontem este jornal fez uma bela síntese das expulsões e suspensões, e não há dúvida que estamos perante um meliante sem igual. Duas vezes protestou com decisões de Luís Godinho (jogo contra o Porto em outubro e contra o Famalicão em dezembro). Neste último, foi anulado um golo a Coates a 15 segundos dos 90 minutos, que daria a vitória, em vez do empate. Ainda hoje não se percebe a reversão que o VAR voltou a fazer… Mas, nesse jogo, além da expulsão de Pedro Gonçalves, Rúben apanhou 15 dias de suspensão. Pelo meio, na Taça da Liga, houve uma multa, e a 15 de abril, no segundo jogo (e empate) com o Famalicão, uma frase dirigida a Rui Costa custou-lhe mais 15 dias. E assim vamos… para não falar em incidentes estranhos como a expulsão de Palhinha, por segundo amarelo, sem qualquer falta cometida (o que o árbitro, o mesmo Fábio Veríssimo de ontem viria a reconhecer); ou o quinto amarelo para Adán, curiosamente, a segunda vez que um guarda-redes do Sporting atinge tal marca. A primeira foi no ano em que ganhámos o último campeonato.


UMA CHAMPIONS JÁ ESTÁ

O Sporting venceu a Champions em futsal. Foi outra vitória épica, a começar por perder 0-2 com a potência Barcelona e virar para 4-2, finalizando em 4-3. Aqui o sofrimento foi menor, o futsal é uma modalidade em que o resultado pode mudar substancialmente num minuto (como aconteceu com os dois golos do Sporting, até ao empate, já no segundo tempo) e nada está a salvo. Sabe-se isso, e sabe-se que é um jogo de nervos, no qual a equipa conta, mas em que a habilidade individual é ainda mais importante do que no futebol.
Como disse Nuno Dias, o treinador que já arrecadou duas Champions para o Sporting (2019 e 2021), além de vários campeonatos, taças, Supertaças e Taças da Liga, num total de 20 troféus em nove anos, falta agora Amorim e a equipa de futebol terem a sua festa na Câmara de Lisboa, como é tradicional quando uma equipa vence a Liga. E vamos vencê-la. Nuno Dias disse ter «uma convicção enorme», e penso que é essa a atitude dos sportinguistas, finalmente unidos, como teve oportunidade de frisar o presidente do clube.
Varandas tem, aliás, a oportunidade de fazer mais em três anos do que os seus antecessores. Isto não significa que o caminho tenha sido sem obstáculos, apenas que provavelmente aprendeu com os erros, e está a equilibrar um clube, e a liderá-lo de um modo eficaz.
Mas eu, que sou persistente, ainda não desisti da luta por se dar importância à democracia, à transparência e à representatividade dentro do clube. Nas horas boas e nas más, precisamos de bons estatutos, de forma a podermos ter boa governança e excelente transparência. Sei que há muito a pensar quando se está a dar tudo para ganhar o campeonato que nos foge há 20 anos. Mas, nas horas boas como nas más, precisamos ter a mesma cara e o mesmo desígnio. Sei que não nos faltou esforço, devoção e dedicação. Na última segunda-feira começámos a ter bastante glória, quando derrotámos o Barcelona em futsal. Para a semana, espero que tenhamos uma glória maior.


CHAMPIONS 

Além da Champions de futsal, há a mais conhecida, de futebol, cujos finalistas ficaram ontem conhecidos. O Manchester City, que nunca fora a uma final, vai, depois de afastar o PSG, encontrar-se com o  Chelsea, que derrotou o Real Madrid. Dir-se-ia que os citizens são favoritos, mas arranjar um favorito num jogo destes é temerário. De qualquer modo, os dois clubes ingleses encontram-se, já no sábado, em Manchester, para a Premier League.


CLÁSSICO

Hoje o Benfica recebe o Porto com um duplo objetivo: saber quem vai ficar em segundo (assim o espero) e desse modo tem entrada direta na Champions da próxima época, ao lado do Sporting. Disse um dia Carlos Lopes, grande campeão sportinguista, que o segundo é o primeiro dos vencidos… é sempre verdade.