Não contem comigo para festas da Taça como estas
Olivais e Moscavide-Sporting no Campo Alfredo Marques Augusto, em 1995. Foto A BOLA

Não contem comigo para festas da Taça como estas

OPINIÃO07:10

Uma boa ideia subvertida de cada vez que Sporting, Benfica ou FC Porto deveriam visitar campos mais pequenos

Acredito que não vai ser possível, por questões de segurança, jogar no Albano Martins Coelho Lima. É a nossa casa, onde gostamos de jogar, mas vamos ter de encontrar outro espaço para esse jogo.

Rui Machado, presidente do Pevidém, sobre o duelo com o Benfica, no dia do sorteio da Taça

A Federação Portuguesa de Futebol introduziu há anos ideia bem interessante para a primeira eliminatória da Taça de Portugal na qual participam os clubes do primeiro escalão (já usada noutros países): esses clubes ficam obrigados a jogar fora nessa ronda e sempre contra equipas de divisões inferiores.

O objetivo é levar a festa da Taça a todo o Portugal, e a terras que habitualmente o futebol profissional não visita. O objetivo foi parcialmente alcançado. Daqui a semana e meio teremos, por exemplo, um Anadia-Estrela da Amadora, um Lagoa-Famalicão ou um Maria da Fonte-Arouca. O problema é quando os jogos envolvem Sporting, Benfica ou FC Porto.

Logo no dia do sorteio, o presidente do Pevidém avisou que o campo do clube não teria condições para receber a partida com o Benfica, por motivos de segurança. A isso há a juntar as condições necessárias para transmissões televisivas (para não falar que jogar num estádio maior dá mais receita...). E por isso o Pevidém-Benfica vai ser em Moreira de Cónegos e o Sintrense-FC Porto na Amadora, dois estádios de liga.

Não critico as opções, por vezes contrariadas, dos clubes, mas perde a festa da Taça e perde-se o espírito dos regulamentos. Não faria mais sentido, em casos em que o campo do clube de divisão inferior não tem condições para receber o jogo, mudá-lo para o estádio da equipa visitante? Se eu jogasse no Pevidém, preferia claramente defrontar o Benfica na Luz do que em Moreira de Cónegos, e a receita também seria maior.

Há quase 30 anos, em 1995, estive num Campo Alfredo Marques Augusto cheio que nem um ovo para um Olivais e Moscavide (então na 2.ª Divisão B, o terceiro escalão do futebol português)-Sporting, dos quartos de final da Taça. Os tempos eram outros, claro, e nem todos os jogos do Sporting tinham de dar na televisão. E nem todos os lugares no estádio tinham de ser sentados – em tardes de verão, um dos melhores lugares do campo para ver a bola era atrás da baliza sul, numa colina, que tinha a sombra duma árvore, e ficar de pé ou sentado no chão era mais confortável do que a pedra da única bancada (depois fizeram uma segunda…). Nessa tarde duma quarta-feira tudo correu bem, não houve problemas, e os adeptos do Olivais e Moscavide puderam ver o Sporting (com Figo, Sá Pinto, Capucho ou Oceano, entre outros) onde um mês antes tinham recebido o Fanhões. Na época passada, no reencontro entre os clubes na Taça, o jogo foi na Amadora.

Aquela, a de há 30 anos, é a minha festa da Taça. Para estas, de agora, não contem comigo.