Nada bem

OPINIÃO21.06.201904:00

João Félix

Aputativa transferência de João Félix merece uma análise diferente da que ordinariamente é feita em operações que envolvam cifras muito expressivas. Começando desde logo pela assaz surpreendente posição, para só dizer o mínimo, adoptada pelo SL Benfica, que continua a negar oficialmente a existência de qualquer processo negocial tendo por objecto a transação do jovem avançado. Tanta clareza só pode querer significar uma de três coisas: i) ou o clube está a mentir, o que não se concebe nem concede; ii) ou está a dizer a verdade, e então não se percebe porque raio andará o rapaz Félix a jantar em Madrid com Jorge Mendes e a visitar as novas e magníficas instalações dos colchoneros; iii) ou está a fazer um exercício de semântica, decorrente da activação do mecanismo operativo das cláusulas de rescisão unilaterais, caso em que não tem de haver, formalmente, qualquer processo negocial, porquanto basta que o próprio atleta ou um clube - in casu, o Atlético madrileno - deposite o montante correspondente à cláusula rescisória. Parece ser esta a hipótese mais provável. Em todo o caso, à hora em que escrevo esta crónica (tarde de 5.ª feira), assumo ser irreversível a transferência, a qual pulveriza todos os recordes envolvendo clubes ou jogadores portugueses. E assim se chega ao mirabolante montante de 300 K € (trezentos milhões de euros)! Uma só palavra basta para definir a compensação destinada ao clube que detém a academia do Seixal: fantástico negócio. Eis aqui a prova de quão errado estava quem dizia que nunca aceitava quando lhe propunham um negócio porque se fosse bom não lho teriam proposto. Concluindo: agora que o rapaz João num breve instante se tornou milionário mais se deseja também que o Félix seja Feliz. Porque a falta de dinheiro pode implicar infelicidade mas o dinheiro não traz necessariamente a felicidade. Já agora, uma coisa mais: por favor, por favor, alguém que o aconselhe a não vir dizer que ir para o Atlético de Madrid era um sonho que tinha desde pequenino! Porque nenhuma criança sonha com o segundo clube de Madrid. As crianças sonham sempre com os melhores. E os melhores são sempre os mesmos: o Real, o Barcelona, o Bayern de Munique, a Juventus, o Liverpool ou o Manchester United. Só mesmo num pesadelo se poderia imaginar o Atlético a fazer parte deste rol.

Por falar em Real Madrid, convém recordar um facto do passado e alguns do futuro próximo. Assim, creio que ninguém poderá razoavelmente pôr em dúvida o seguinte: se os blancos tivessem querido João Félix tê-lo-iam contratado. E, evidentemente, não seria outro emblema de Madrid quem o impediria. Bastaria ao Real fazer com Félix o que fez com Éder Militão. Perguntar-se-á: então porque é que não fez? A resposta é simples: porque entendeu haver não um, nem dois, mas sim três soluções melhores do que Félix para reforçar a sua linha mais avançada. Recapitulemos então: o primeiro a chegar foi Vinícius Júnior, na temporada transacta. Impôs imediatamente a sua categoria de forma concludente e só não fez mais porque se lesionou com alguma gravidade. Agora acabam de chegar mais dois: Jovic e Rodrygo. O primeiro foi escolhido em resultado de apurada e aturada série de prospecções, as quais concluíram ser o avançado do Eintracht de Frankfurt aquele que detém maior capacidade goleadora. Ironicamente, agora que tanto se fala das prodigiosas vendas do Benfica, quase ninguém lembra que ele estava no citado clube alemão porque os responsáveis encarnados acharam que ele não era suficientemente bom para o clube da Luz. Vai daí, venderam-no aos  teutónicos pela fabulosa verba de 5 milhões, os quais o revenderam aos madrilenos por 60 milhões!  Por fim, a estes dois, Vinícius e Jovic, juntou-se Rodrygo. Sinceramente, estou mesmo convicto de que a dupla dos moleques brasileiros vai realmente rebentar. Apesar de contratados por verbas galácticas, os dois, por junto, ficaram, ainda assim, mais baratos do que João Félix. Que, não tenho dúvidas, muito vai sofrer pela comparação directa que necessariamente será feita. Assim como o técnico Diego Simeone e a administração do Atlético não poderão deixar de ser questionados se o rendimento do jovem lusitano não atingir, ab initio, o nível da excelência. Ou, pelo menos, não for superior ao patenteado por Jovic, Vinícius ou Rodrygo.
Em todo o caso, nesta fase do campeonato, uma coisa parece certa e indiscutível: o melhor reforço do FC Porto é, sem dúvida alguma, a saída de João Félix do maior rival. E ainda por cima vai receber uns trocos por isso. Mas tal não deve obviar a que se insista na pergunta: quem foi o responsável pela sua dispensa?

Alex Telles

Confesso que já começo a ficar farto e fartinho destas gentes do Atlético de Madrid. Souberam vir ao Dragão buscar de borla o Herrera - coisa que, aliás, não me entristeceu particularmente. Abra-se aqui um breve parênteses para recordar o comportamento adoptado pelo Senhor Radamel Falcao que, não sendo o capitão, ao invés do mexicano que ostentava a braçadeira, fez questão de não abandonar o Dragão sem antes renovar o contrato, com o consequente incremento da cláusula rescisória. Fim de parênteses. Depois vieram buscar Felipe. Ainda não percebi bem se pelo valor da indemnização contratualmente estabelecida ou por verba inferior. Superior é que não foi, de certeza absoluta. E agora ainda se permitem o despautério de querer comprar Alex Telles.  Repito o que já aqui disse: não podem ser recebidos para ouvir qualquer proposta. Se quiserem deixem o cheque. Sem mais conversas.

Zés Luíses

Em definitivo, as coisas não andam a correr mesmo nada bem lá para os lados do Dragão. Se noutros anos, por esta altura, já havia dois ou três cabazes de supostos reforços, agora tem sido a pão e água. O que não impediu que o FC Porto reconquistasse o título. Mas logo que houve oportunidade de fazer asneira, não a desperdiçou. Dispenso-me de fazer a anatomia da verdadeira arte de como não contratar. Mas duas coisas devem ser ditas. Primeira: de todas as contratações feitas nos dois últimos anos só uma (a de Éder Militão, evidentemente) foi à Porto. E, com toda a franqueza, não me parece que tal operação tenha resultado de uma proposta do treinador. Segunda: seria um escândalo sem nome se nesta pré-época se repetisse a inqualificável situação de dispensar - antes sequer do estágio terminar - jogadores acabados de contratar, e não exactamente a custo zero. Já basta ser gozado por um antigo presidente do Spartak de Moscovo que pede urgência na aceitação da proposta portista por Zé Luís alegando para o efeito que se o jogador tivesse nível já se teria notado.

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