Muito provavelmente, decisivo!
Se o Benfica ganhar será campeão, se perder dificilmente o será e se empatar empurra com a barriga a decisão para Alvalade. É simples!
DIZEM os treinadores, na sua expressão minimalista do futebol, que todos os jogos são importantes e decisivos. Percebe-se a intenção, mas, a ser assim, há uns mais decisivos que outros. O Benfica-SC Braga de hoje é um desses jogos. Muito provavelmente, decisivo. E se quisermos navegar as mesmas águas da maior proximidade objetiva possível, a coisa é simples: se o Benfica ganhar, será campeão; se o Benfica perder, pelo contrário, só muito dificilmente o será; se o Benfica empatar empurra com a barriga a decisão para Alvalade, mas com uma diferença significativa, porque sabe que vai jogar no fio da navalha, que é coisa, como devem calcular, que não dá muito jeito.
É previsível que os benfiquistas mais otimistas lembrem que, aconteça o que acontecer, ao princípio da noite, na Luz, o Benfica continuará líder do campeonato. É também uma verdade objetiva. O problema é que o futebol e as equipas que o jogam é, em si mesmo, uma representação da expressão humana. De alegria ou de angústia, de confiança ou de descrença, de personalidade ou de indefinição de caráter, de atitude positiva ou de passividade, de força ou de fraqueza, de consistência ou de fragilidade, de otimismo ou de fatalismo. O futebol e as equipas que o jogam são, no fundo, como diria Manuel Sérgio, a expressão real dos homens e das mulheres que chutam a bola. Por isso, se diz que há equipas que transpiram saúde, o que, como se sabe, é mais do que um estado de ausência de doença. É um estado físico e psicológico que lança a vitória e o sucesso como uma consequência lógica e inevitável.
Isto quer exatamente dizer que o jogo, provavelmente decisivo, entre o Benfica e o SC Braga pode e deve ser decidido, mais do que por pormenores ou atos individuais valorosos, por atitude, por fé, por personalidade ganhadora.
Ou seja, por tudo aquilo que o Benfica não conseguiu ter no jogo com o FC Porto, onde falhou a decisão definitiva do campeonato.
Teremos, portanto, um Benfica que tem vindo em perda, que procura, lentamente, recuperar a sua força, o seu estado físico e psíquico, a sua confiança nos valores, a sua imponência competitiva, tão saudada no início da época, e um Braga que, na penumbra, sem holofotes apontados, tem vindo a crescer, a crescer, a crescer, até se tornar da dimensão futebolística dos grandes, estando a quatro jornada do fim do Campeonato na luta pelo título. Por inteligência e por mérito.
O Benfica terá como primeira e crucial prova, o regresso de si próprio à extraordinária equipa que já foi esta época, capaz de jogar de forma avassaladora e de não deixar jogar o adversário, tornando-o pouco mais do que indigente. Se o conseguir, terá todas as condições para resolver o jogo e o campeonato. Porém, se o Benfica voltar a ser, como já foi em tempos recentes, uma equipa assustada, menor, nervosa, insegura, desconfiada de si própria, apesar dos sessenta mil que, no estádio, estarão a gritar por ela, então não se pode esperar, nem que seja campeão, nem que mereça sê-lo.
Na verdade, o futebol só não é tão simples quanto parece, porque tem, sempre, a complexidade própria do homem. Na sua genialidade, mas também na sua fragilidade; na sua capacidade de afirmação, mas também nas suas dúvidas existenciais; na sua personalidade afirmativa, mas também na sua inquietação e dúvida.
O Braga, nestes aspetos mais humanos, parece ter tudo para acreditar. O Benfica está em fase de recuperação e tem o peso maior da responsabilidade. No entanto, ainda é líder e a um líder se exige comando, determinação, confiança e fome de conquista.
UMA PAIXÃO NAPOLITANA
Trinta e três anos depois, Nápoles volta a ser campeão de Itália e a honrar o maior ídolo da História do clube: Diego Armando Maradona . Rei de Itália e imperador do mundo, uma das últimas grandes figuras verdadeiramente populares da História do futebol, quando o nome não era uma marca, mas a identificação humana de um deus terreno. Nápoles festeja o sucesso até à loucura. Conheço bem a realidade italiana e percebo bem porquê, o que significa para os povos pobres do Sul uma vitória sobre a riqueza arrogante do Norte.
NA POLÍTICA DE CAMISOLA VESTIDA
Não me quero referir e muito menos analisar o teatro político que se assistiu nas peças encenadas em S. Bento e em Belém. Apenas refiro que estive atento ao doloroso desempenho da maioria dos comentadores, desde aqueles que aceitaram a missão impossível de comentarem tudo antes do tempo, até aos que viram vitórias no seu pequeno mundo de convicções e de interesses. Não há, como na política e na economia, exemplo de comentadores que mais vistam a camisola e se recusem a despi-la. Os do futebol são meros amadores...