Mercado parado ou diferente?

OPINIÃO01.07.201901:40

Há quem olhe para o mercado e o veja parado. Ou, no mínimo, menos agitado do que noutros anos. Tendo a concordar, embora talvez estejamos a ser injustos. Afinal, temos dois meses pela frente e só mesmo no final poderemos, se quisermos ser justos, compará-lo com mercados passados. Mais vale, pois, deixar as contas para depois de 2 de setembro - sim, este ano será, até, mais longo do que o habitual em virtude de 31 de agosto calhar num sábado e ditarem os regulamentos que, quando assim é, o fecho das inscrições passa para o primeiro dia útil seguinte. Não tiremos, pois, conclusões precipitadas. Ainda assim, e porque está aí o início dos trabalhos, é possível tirar algumas conclusões deste primeiro mês e pouco das movimentações que, à falta de futebol a sério - a Copa América, o CAN ou a Gold Cup (por muito que assistir a um Martinica-Jamaica possa ajudar numa qualquer madrugada de insónias…) não chegam para entusiasmar - nos vão, por cá, animando.
Está, então, o mercado mais parado do que, por exemplo, há um ano? Sim, é um facto, pelo menos se nos limitarmos a olhar para os três grandes. Mas há, numa análise um pouco mais profunda, razões que o explicam.


Comecemos, seguindo a ordem da classificação de 2018/2019 - até porque ela tem influência na forma como águias, dragões e leões se estão a movimentar -, pelo Benfica. Parado? Nem por isso. Confirmada a brutal venda de João Félix ao Atlético de Madrid - aceitar a SAD encarnada a proposta dos colchoneros é, percebe-se, mera formalidade -, Vieira decidiu gastar 20 milhões num avançado que possa disfarçar as marcas do inevitável adeus de Jonas. Muito dinheiro? Depende do que fizer Raúl de Tomás, sendo certo que devem estar os benfiquistas cientes de que exigirem ao espanhol que os faça esquecer o brasileiro será tremendo erro. Parado? Bem, se um mês em que se movimentam 140 milhões de euros em apenas dois negócios é parado, o que será um movimentado? Além disso, tem mexido muito a SAD encarnada, que por força de uma forte, e bem sucedida, aposta na prata da casa preferiu gastar dinheiro na manutenção dessa prata da casa (mantendo-a, de preferência, feliz…) do que gastá-lo em jogadores desconhecidos. Não é para quem quer, é para quem pode.


O FC Porto viveu, é um facto, um mês complicado. Ganhou bom dinheiro com Felipe e Militão, talvez venha a ganhar mais algum com Marega e Alex Telles, mas perdeu Herrera e Brahimi, e perderá Casillas, sem com isso ganhar um cêntimo. Recuperar da saída de tantos titulares nunca seria fácil, mas seria menos grave se a SAD dos dragões pudesse usar os euros que amealhou nas transferências possíveis, juntando-lhes mais uns milhões de uma presença financeiramente positiva na Champions. O problema é que está o FC Porto condicionado pelo fair play financeiro da UEFA, que complica bastante as contas. Por isso ainda só conseguiu garantir Saravia, perdendo, com uma facilidade a que os seus adeptos não estavam habituados, negócios que davam como garantidos. Há quem se confesse preocupado. E com razão. Afinal, os jogos que decidirão a presença na Champions estão à porta. A pressa é, quase sempre, inimiga da perfeição, mas não há, no Dragão, muito tempo para hesitações…
O Sporting é, dos três grandes, aquele que mais condicionado parece a nível financeiro, pelo menos enquanto não for confirmada a previsível venda de Bruno Fernandes. Tem apostado, por isso, em jogadores mais acessíveis, ao mesmo tempo que procura poupar alguns milhões nos ordenados de jogadores excedentários e, até, nalguns que, sendo importantes, têm ordenados demasiado elevados. É uma estratégia. Arriscada, é certo, mas já temos experiência suficiente para saber que nem sempre quem gasta mais ganha. Percebem-se, ainda assim, as cautelas de Varandas na abordagem à próxima época. Pode custar a ouvir, mas é melhor, mesmo que seja mais difícil, do que andar a vender ilusões.
Em suma, se o mercado decidisse o campeão o Benfica pareceria, hoje, em vantagem. Mas não decide. Pelo menos não a 1 de julho…