Mercado de inverno

OPINIÃO03.02.202205:55

Se a transferência de Félix para o Atl. Madrid envolveu cerca de €126 milhões, a de Luis Díaz teria de valer, no mínimo, €126 milhões mais um euro

A organização competente e atempada é sempre a única chave para o sucesso. Fechou a janela do mercado: quem tem poder económico conseguiu contratar os jogadores que mais se destacaram e que podem superar eventuais fragilidades das equipas. Os clubes nacionais mantêm o destino de descobrir jovens talentos e de os formar com qualidade, para atingirem outras paragens que acenam com verbas com que a maioria não pode competir. Por vezes, as escolhas que prometiam percursos fantásticos acabam em eclipse total, por falta de aconselhamento competente na escolha do clube. O FC Porto mantém a qualidade da formação dos mais jovens, porque assim se consegue reforçar a equipa e criar mais-valias e títulos. Um dos capitães do FC Porto, Sérgio Oliveira (empréstimo com opção de compra), já seguiu para a Roma de Mourinho, deixando saudades e marcando o golo da vitória no seu primeiro jogo em Itália, onde já fez assistências para golos: felicidades campeão! Eustaquio, o jovem médio do Paços de Ferreira, tem condições para crescer e se tornar um elo preciso na engrenagem do FC Porto: humilde, lutador e com vontade de evoluir, poderá crescer muito mais com o trabalho de Sérgio Conceição, para o ajudar a tornar-se um elemento valioso. Rúben Semedo é uma contratação por empréstimo para os dragões, sem cláusula de compra obrigatória no final da época, para se poder manter o equilíbrio na estrutura defensiva do FC Porto, neste campeonato e talvez no futuro. Nem sempre as expectativas se concretizam. Dois exemplos contraditórios: João Félix e Luis Díaz. O primeiro foi negócio muito inflacionado que não resultou. Não basta arrecadar milhões, de qualquer forma, porque as consequências podem ser muito graves, com perda de grandes oportunidades, numa veloz desvalorização que tem prejudicado a carreira do jovem craque. Em relação ao avançado colombiano do FC Porto - coloca o jogo acima de tudo, sempre no máximo, luta até ao fim de cada lance, foca-se no momento, vem atrás e vai à frente, sempre em velocidade e com uma técnica invejável e inteligência para servir a equipa, quando o jogo precisa de maior definição, liberta a arte, constrói momentos inesquecíveis sem egoísmos, vivendo para cada jogo e dando o seu máximo - o caso é diferente e a sua valorização deveria ser muito maior. O valor dos dois exemplos citados caminha na razão inversa: João Félix a tentar recuperar condições para o talento que revelou, que tem, mas que continua a não conseguir exibir. Luis Díaz, simplesmente excecional, acrescenta ao seu talento a capacidade de concentrar responsabilidades até ao limite, por isso é jogador muito desejado. Quando se fala em valores, vemos as duas faces do jogo: quem tenta recuperar a oportunidade para se superar (com dirigentes do clube que valorizaram mais o negócio e menos o futuro do atleta) e quem se supera todos os dias, com humildade e genialidade ao serviço do coletivo, Luis Díaz. Esses dois exemplos atingiram somas díspares. O atleta do FC Porto é valor seguro e deveria ser das maiores transferências neste momento. Se a transferência de João Félix para o Atlético de Madrid envolveu cerca de 126 milhões de euros, a de Luis Díaz teria de valer, no mínimo, €126 milhões mais um euro (mesmo com a pandemia e seus efeitos na economia). Assim, vai envolver unicamente valores que o clube necessita, mas a sua qualidade deveria ser muito mais valorizada, pois a transferência foi muito inferior à cláusula de rescisão (€80M): jogará no Liverpool, lutando por títulos nacionais e internacionais e o FC Porto encaixará um valor global que pode atingir os 60 milhões de euros (nos quais se integram os 45 milhões pela cedência, a título definitivo, dos direitos de inscrição desportiva do jogador, incluindo eventual remuneração variável, mais comissão do agente do jogador por serviços de intermediação de 10 por cento do valor da venda, depois de deduzido o montante de solidariedade, pelo que o global poderá atingir os 60 milhões de euros). Sérgio Conceição está, naturalmente, triste pelo negócio, mais uma vez vai ter de criar alternativas, num momento complexo. Assim, só campeões continuam a construir campeões! A falta de planificação bem como a decisão da UEFA criaram exigências que deveriam ter sido antecipadas. É momento decisivo para nunca deixar de aperfeiçoar pormenores, evitar alterações inesperadas e reforçar a confiança para manter a capacidade ganhadora da equipa, que solidifica a qualidade em cada jornada. Há jogadores que valem títulos e pelos quais se devem fazer os maiores sacrifícios (até pessoais) para os conseguir manter até ao final da época. Para isso, as administrações têm ser capazes de ultrapassar os impossíveis durante a competição, sem horizonte curto mas, pelo menos, de médio prazo. Um título justifica todos os esforços e a máxima contenção, por quem tem de dar o exemplo motivador. Nos minutos finais, FC Porto accionou cláusula de recompra e Galeno volta a ser jogador dos dragões.

António Oliveira defende que há jogadores que justificam o impossível para ficar no plantel


FUTEBOL COM FUTURO  

O futuro é sempre a consequência das escolhas assumidas. Por vezes, surgem decisões que permitem desenvolvimento e outras vezes acontecem retrocessos com pesadas consequências. No futebol, como em todas as áreas, existem vários modelos organizacionais. Cada vez mais, os adeptos devem ser valorizados e responsabilizados como importantes contributos do universo do clube: a sua opinião é importante. Só dessa forma se evitam manifestações agressivas e se preserva a razão de ser do clube. Nos jogos de poder que decidem os futuros próximos, há presidentes que se distinguem pela liderança vencedora e projetos de crescimento imparáveis, reforçando a matriz original. Só com transparência e cooperação os clubes podem sobreviver ao mais alto nível, sem ficarem reféns de grupos de poder externos. É urgente criar mecanismos de supervisão, com regras e decisões claras que assegurem a estabilidade do clube e a ligação fundamental dos adeptos. No FC Porto, o património do clube é o seu universo. O futebol tem de assumir regras e modelos que garantam evolução sem perder a tradição. A procura incessante dos golos torna o futebol mais imprevisível e fascinante. As pisadelas, simulações, encenações e perdas de tempo são adversários para excluir. Os protagonistas dos relvados têm de ser protegidos porque lhes é exigido o máximo. A tecnologia é sempre um contributo importante, desde que permita corrigir as falhas com eficácia e nunca criando mais polémicas.


DESTAQUES DA SEMANA 

Taça da Liga/Leiria: depois do fator sorte ter apurado os rivais de Lisboa nas meias-finais, o jogo que atribuía o troféu ao vencedor surgiu numa partida disputada sem atingir grande qualidade, na qual o Benfica teve a oportunidade de conquistar a taça, mas não conseguiu manter a vantagem da primeira parte. O Sporting aproveitou para conseguir o troféu, vencendo, por 2-1, uma águia ferida, com a difícil tarefa de tentar recuperar. 

Liga: FC Porto venceu o Marítimo, mantendo a liderança no campeonato, mesmo com arbitragem infeliz. O Vizela surpreendeu o Guimarães (3-2).  
 

REMATE FINAL  

Vitinha, o jovem médio do FC Porto, é talento que coloca a máquina a funcionar sem parar. Tem sempre a capacidade de circular e de passar a bola, dando novo espaço para a receber e manter a posse, com objetivo de aproximação à baliza adversária, para finalizar. Também formado nos escalões jovens do FC Porto, consegue impor um ritmo muito forte à circulação e certeza de passe que supera a organização adversária, vence duelos, mantém dinâmica focada no golo. Mais um jogador de grande intensidade, para quem a bola passa de forma constante e com uma velocidade de execução invulgar, assim como uma cobertura eficaz. Vitinha, como grande talento, tem influência direta na estrutura coletiva e dos seus pés saem golos e assistências. A maior parte do jogo passa por si e as suas assistências com golos são um hino ao futebol. Joga com o prazer de vencer e de criar oportunidades, numa ação imparável. Considerado como o melhor jovem, em várias situações, distinguido pela Liga e pelo Sindicato dos Jogadores, Vitinha é um prazer para os estádios pela sua capacidade de entrega e pela construção de momentos surpreendentes.
Taremi marcou o golo que colocou o Irão na fase final do Mundial, ao vencer o Iraque. 

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