Melhor equipa portuguesa
Rúben Amorim
Todos os anos sucede algo de muito positivo no nosso campeonato indígena: a revelação de novos treinadores de qualidade. Mas este ano a colheita parece ser de excepção. Por causa de Rúben Amorim. Uma dúzia de jogos pelos arsenalistas minhotos e toma lá dez milhões de euros para vir fazer de taumaturgo em Alvalade. Sim, estou a par das críticas menos veladas ou mais veementes que, em virtude dessa decisão, têm rebentado como petardos sobre a direcção do Sporting. Mas aqueles que agora os lançam estarão também entre os primeiros a guardar as canas para fazer o foguetório quando os leões se curarem. Porque muita coisa vai mudar em Alvalade. Não o digo por Rúben ter vencido no Dragão e na Luz. Digo-o pela personalidade que desde início exibiu, jamais mostrando receio do adversário. E também pela clareza do seu modelo de jogo, invariavelmente sistematizado em 3x4x3. Que, aliás, é quase siamês do adoptado pelo Wolverhampton de Nuno Espírito Santo.
Manafá
Entre o FC Porto e o lugar de defesa-direito parece haver um irreconciliável conflito desde que Ricardo Pereira foi vendido ao Leicester. Apesar de ser o melhor jogador português na posição, em regra não lhe é reconhecido o seu verdadeiro valor. A começar pelo próprio Dragão que o havia emprestado ao Nice - e logo por duas épocas! Para tentar colmatar a sua saída foram comprados uns quantos candidatos. Porque alguém na casa se deve ter esquecido de que meia dúzia de anões não fazem um gigante. Nesse entretanto, chegou Manafá, cuja função de origem era a de extremo-esquerdo, depois convertido em lateral por Folha, à data o técnico do Portimonense. No Porto jogou quase sempre como lateral-direito. E se ainda hoje não consegue dissimular algumas fragilidades a defender, já a atacar não há ninguém no plantel capaz de o fazer com a mesma velocidade e semelhante verticalidade. Bem mereceu o grande golo marcado ao Santa Clara. Só não entendo a contínua preterição de Tomás Esteves. E daí até talvez perceba…
Bruno Fernandes
Quando, por fim, Bruno Fernandes foi oficialmente transferido para Old Trafford, tive oportunidade de deixar escrito nesta página o seguinte: «Não precisa de períodos de adaptação coisa nenhuma. (…) Afinal é tudo muito simples. Desde que se tenha categoria para tal. E isso é coisa que não falta a Bruno.» Pois, parece que não, assim o indiciam as sucessivas nomeações como Man of the Match (melhor jogador em campo).
Jurgen Klopp
Palavras do técnico da melhor equipa do mundo após a partida com o Chelsea, traduzida na segunda derrota consecutiva do Liverpool: «Não tenham pena de nós!» Como gostaria de o ouvir dizer isto naquele país onde «o fair-play é uma treta…»
I. Tabacaria
Há astros, ou melhor, pseudo-estrelas, que aparecem de um modo tão fulgurante como desaparecem. Na verdade, não passam de cometas. Ainda imberbes fazem meia-dúzia de jogos pela equipa principal e logo de seguida são transaccionados para casas mais poderosas, que coleccionam todo o tipo de promessas, em nome do seu suposto potencial, ainda que o mesmo não esteja provado porque «têm imenso espaço para crescer». Até que, de repente, desaparecem. Como aqueles homens dos filmes que, numa noite igual a todas as demais, saem para comprar cigarros e depois nunca voltam. Porque não foram à Tabacaria de Álvaro de Campos. Aquela que diz:
«Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim
todos os sonhos do mundo.»
II. Uma alcateia lusitana
Na sua obra Asinaria, escreveu Plauto (254-184 a.C.) que lupus est homo homini lupus («o homem é o lobo do próprio homem»).
Em 1642, o filósofo inglês Thomas Hobbes repetiu tal juízo, com as mesmíssimas palavras, na sua obra De Cive (Do Cidadão), mas sem citar a sua autoria original, razão pela qual passaram estas a ser-lhe injustamente creditadas. Seja como for, converteu essas palavras em sentença célebre para toda a eternidade.
Em 2020, Nuno Espírito Santo, um português com raízes em São Tomé, lidera na pátria do futebol uma fabulosa e cada vez mais temível alcateia de casta maioritariamente portuguesa. São lobos incansáveis e insaciáveis, velozes e ferozes, que agem como um verdadeiro pelotão de execução. Não só constituem, sem discussão possível, a melhor equipa portuguesa da actualidade, como gozam - estou certo disso - do talento suficiente para arrasar qualquer emblema nacional que padecesse da desventura de lhe ter calhado em sorte. Confesso que quando Portugal ainda tinha as suas outras quatro melhores equipas a lutar pela Liga Europa, sempre esperei que uma, pelo menos uma, pudesse permanecer em prova para podermos conferir ao vivo e a cores esse diferencial de poderios. Sabendo de antemão que a alcateia conta com um fantástico Diogo Jota, o qual, como bem sumariou a imprensa inglesa, «está a desmembrar equipas, membro a membro».