Luis Enrique: o bom, o mau, o vilão

OPINIÃO07:18

'Para lá da linha' é uma opinião semanal

Não é fácil gostar de Luis Enrique. Ou melhor, tem dias. Sempre disse o que queria e como queria, e isso é bom, exceto quando não é. Enquanto selecionador de Espanha encantou-me. Lembro o empenho nos vídeos de convocatórias e dias de apresentações de convocados, com à-vontade evidente. No Mundial do Catar, inovava a ver os treinos numa plataforma e até tinha tempo para ser youtuber – ou twitcher, vá – com vídeos em direto em que contava o dia a dia da seleção naquele mundial no deserto. Foi criticado por andar distraído (deixou a seleção depois de ser eliminado por Marrocos) mas depois doou 30 mil euros a um fundo de apoio a crianças com cancro. Há ainda o Luis Enrique que perdeu uma filha de nove anos. Admirável, transformando uma tragédia em força. O bom.

O documentário produzido pelo canal Movistar+ mostra dois lados. «A minha filha Xana veio morar connosco durante nove anos maravilhosos, a Xana vive», diz a certa altura. Mas depois há a forma como o treinador do PSG fala com Kylian Mbappé para o motivar com um discurso sobre a forma como Michael Jordan defendia nos Chicago Bulls. É preciso ter estômago para lidar com esse Luis Enrique. O mau. Ou bom?

Depois há os jornalistas. A parte pior para os dois lados. Ele mesmo já disse que aceitaria reduzir o salário para não falar à imprensa, mas depois perdiam-se momentos como os deste sábado. Disse o que queria, claro, mas numa resposta teve de sublinhar que estava a brincar. «Gosto muito de todos os jogadores portugueses, até dos maus… [Pausa] Não, não tenho nenhum português mau aqui. Era uma piada. Tou de brincadeira», atirou, em resposta a um jornalista português. Ao ser questionado sobre quando regressa Gonçalo Ramos, disse que o PSG não pode depender de um jogador, um recado à ‘era’ Mbappé. Depois do empate com o PSV, tinha dito a uma jornalista francesa que não queria explicar a tática «porque ela não ia perceber». O vilão.

Três facetas numa só pessoa, mas se calhar todos somos assim. Temos dias bons e dias maus. Impaciências. Mas pelo menos que tudo termine sempre com um «tou de brincadeira».