Kylian Mbappé: golpe psicológico no momento mais difícil
Desportiva_MENTE é o espaço de opinião quinzenal de Liliana Pitacho, Psicóloga e Docente no Instituto Psicológico de Setúbal
Kylian Mbappé, com apenas 25 anos, tem sido ao longo dos últimos anos reconhecido como um dos maiores talentos do futebol mundial na atualidade, um prodígio que desde cedo encantou o mundo com sua velocidade explosiva, habilidade técnica e frieza diante da baliza.
Desde que despontou no Mónaco e consolidou o seu lugar como estrela no Paris Saint-Germain, Mbappé conquistou, de forma merecida, destaque entre os adeptos do futebol mundial. A sua trajetória e o carisma elevaram-no ao estatuto de ídolo nacional em frança e tornou-o uma figura incontornável do desporto.
Contudo, os últimos tempos não têm sido fáceis para o jogador, casos com a justiça, fotografias polémicas, exibições menos conseguidas pelo Real Madrid, o seu novo clube, mas também a segunda vez consecutiva que Didier Deschamps o deixa de fora da convocatória. É exatamente sobre este último ponto e o seu impacto para atleta em termos de motivação e saúde mental que este artigo irá recair.
Mbappé sempre demonstrou todo o orgulho e dedicação na representação da seleção gaulesa, contudo, provavelmente, quando mais precisa de apoio e de se sentir de alguma forma acolhido e gostado, a não convocatória pode representar exatamente o contrário.
É verdade que o mundo pode ser injusto e o universo desportivo ainda mais, mas não seria inteligente e estratégico acolher Mbappé na seleção não só pelo que já deu à seleção, mas também por tudo o que ainda poderá dar ultrapassando esta fase difícil?
Para muitos atletas, a identidade está profundamente ligada ao sucesso e ao papel que desempenham no desporto. Segundo a teoria da autoestima de William James, o valor que uma pessoa atribui a si própria depende de uma proporção entre as suas realizações e aspirações. É verdade que o atleta pode não estar na sua melhor forma e claramente tem passado por problemas de adaptação ao clube merengue, mas excluí-lo da seleção nacional, especialmente para um jogador acostumado ao estrelato, cria um desajuste entre o eu ideal (ser líder e representar o país) e o eu real (ficar de fora), gerando frustração e pode levá-lo a questionar o próprio valor.
Este desalinhamento aumenta os níveis de ansiedade e a sensação de estar constantemente sob julgamento, o que pode ser devastador para a saúde emocional e o desempenho em campo.
Além disso, a exclusão em momentos de fragilidade pessoal agrava sentimentos de desamparo e abandono. O conceito de desamparo aprendido sugere que, quando alguém enfrenta adversidades sem apoio, tende a sentir-se impotente e a resignar-se.
E nesta situação será legitimo Mbappé (não estando com problemas físicos) sentir que foi abandonado pela seleção. Para um jogador, sentir que a seleção o deixa de lado num momento crítico leva-o a questionar o seu valor e a enfrentar um ciclo de baixa autoestima e desmotivação.
Este afastamento, ao retirar o apoio emocional de que precisa, pode impactar o equilíbrio e bem-estar do atleta conduzindo em casos extremos a situações de depressão, tornando mais difícil o seu regresso ao alto rendimento.