Opinião João Almeida e Nuno Borges
Fernando, responde aí de cima: com Pogacar, Vingegaard e Evenepoel, entre outros, pode João Almeida ganhar Giro, Tour ou Vuelta? Aguardo resposta.
Se tiver mais um filho, chamar-lhe-ei Jorge ou Júlio. A razão, inspirada pelos êxitos de portugueses na Volta a França, é simples de explicar e de entender. Joaquim Agostinho ficou oito vezes no top ten do Tour: 1969,1971, 1972, 1973, 1974, 1978, 1979 e 1980. José Azevedo conseguiu-o por duas: 2002 e 2004. João Almeida chegou lá por uma: 2024. Se ainda tivesse dúvidas, olharia para um dos recordistas de vitórias na Grand Boucle: Jacques Anquetil ganhou em 1957, 1961, 1962, 1963 e 1964. Assim, Jorge ou Júlio parece-me um bom nome.
Falemos de João Almeida. É o primeiro português a ficar no top-5 das três maiores Voltas do Mundo: França (2024), Espanha (2022) e Itália (2020 e 2023). Este facto, por si só, coloca-o no pódio dos melhores portugueses de sempre, com permissão dos enormes Rui Costa, Sérgio Paulinho e Acácio da Silva. Não se sabe o que o futuro reserva a João Almeida, sobretudo porque integra a geração dos fantásticos Pogacar, Vingegaard e Evenepoel. Muito complicado, pois, vencer uma das três maiores Voltas. Talvez só o grande Fernando Emílio, especialista de ciclismo de A BOLA e falecido a 11 de maio deste ano, pudesse desfazer a minha dúvida. Fernando, responde aí de cima: com Pogacar, Vingegaard e Evenepoel, entre outros, pode João Almeida ganhar Giro, Tour ou Vuelta? Aguardo resposta.
Por fim, Tadej Pogacar. Tentei encontrar em alguns dicionários a palavra exata que definisse a Volta a França do esloveno. Não encontrei alguma que me satisfizesse por completo. Talvez canibalesco, herdada do cognome do enormíssimo Eddy Merckx, seja a mais aproximada. Ou sádico. Ou devorador. Mas canibal, sim, é muito boa: devora adversários com a facilidade de um predador insaciável. Acaba cada etapa sem, aparentemente, suar e, minutos depois, está com a pulsação de um comum mortal deitado num sofá. Que dizer mais? Nada. A não ser, claro: aguardar.
Por fim (agora sim), Nuno Borges. Nadal é Nadal, tenha o espanhol 20 anos ou 38, fosse o maiorquino o 261.º do ranking ATP e o maiato o 51.º. Vencer um título ATP é fantástico e inesquecível. Só três portugueses tinham chegado a uma final (João Sousa, Pedro Sousa e Frederico Gil), só um tinha vencido (João Sousa: Pune 2022, Estoril 2018, Valência 2015 e Kuala Lumpur 2013). Agora, Nuno Borges. No dia em que João Almeida carimba o 4.º lugar, Nuno Borges vence uma final de ATP e Rafa Nadal por 2-0. «Uma parte de mim também gostava que Nadal ganhasse, mas alguma coisa ainda maior dentro de mim, ajudou-me a conseguir vencer», disse, humilde. Bater Rafa Nadal é como fazer uma cueca a Cristiano Ronaldo.