Jesus, jornalismo e casos de polícia

OPINIÃO27.11.202106:00

O futebol tornou-se vítima de uma sociedade desenfreada e, na verdade, entre aqueles que o acusam muito poucos são inocentes

EXCELENTE e oportuna a entrevista concedida por Jorge Jesus a este jornal, a propósito do seu jogo 600 em Portugal. Para já, ocupa o terceiro lugar entre os dez treinadores com mais jogos no futebol português, apenas ele no ativo e, por isso, muito provavelmente ocupará, em breve, a liderança de um quadro de honra verdadeiramente histórico.

Jesus anuncia a sua intenção de treinar até aos 75 anos, confessa continuar a sentir-se jovem e, mais do que isso, revela que todos os dias acorda com a mesma paixão pelo treino, pelo jogo, pelo futebol, enfim, pela profissão que escolheu. Goste-se ou não se goste da personalidade de Jorge Jesus, há factos que tornam objetiva a afirmação de que se trata de um dos melhores treinadores da história do futebol português. Com virtudes e com defeitos, como todos os homens, mas com convicções fortes e resultados palpáveis.

É uma entrevista importante e marcante porque se trata, também, do regresso das grandes entrevistas a um jornal desportivo, num tempo e que a tentação do mediatismo televisivo leva, não raras vezes, a escolhas contra natura e que se traduzem em comunicações pouco estruturadas e profundas. Jesus refere, aliás, com alguma nostalgia, o tempo de um «jornalismo diferente» em que o jornalista desportivo era formado nas redações dos jornais pelos seus mestres. Esse era o tempo em que todos aprendíamos com todos e em que as relações profissionais cuidavam de aprofundar conhecimentos e diferentes formas de entender o futebol e as suas especificidades. São tempos essenciais na história do futebol e do jornalismo português, mas tempos sem regresso. Não adianta suspirar pelo passado. O que verdadeiramente importa, agora, é conseguir criar, em conjunto, um futuro que não continue a afastar o jornalismo dos principais protagonistas do jogo. Nesse aspeto, vale a pena ir olhando para exemplos externos, como o do desporto profissional americano. Não para simplesmente os copiar, mas para servirem de base a uma nova ordem de relação entre o jornalismo da área do desporto e os principais atores desportivos. Uma condição essencial para um crescimento comum e sustentado.

Bem sei que não é fácil fazer acontecer o futuro. É mais fácil esperar pelo que o futuro nos oferece, mas a verdade é que o momento é crítico e não me parece que existam boas soluções fora de um quadro de compromisso, sensibilidade e de bom senso. A passividade e o laxismo podem tornar-se fatais. 
 

Jorge Jesus recebeu A BOLA no Seixal

Asemana deveria ter sido inteiramente dominada pela participação dos clubes portugueses nas competições europeias e, em especial, pela magnífica qualificação do Sporting para os oitavos de final da Champions. Infelizmente, uma vasta operação policial desviou as atenções para o lado mais opaco e triste do futebol. Não que a ação policial seja dispensável, pelo contrário, a investigação é essencial para o apuramento de todos os fortes indícios de ilegalidades e de indevido apropriamento de bens que lesam os clubes e o Estado português.  

No entanto, o encenado mediatismo a que se assistiu alimentou a crítica daqueles que odiando o futebol o consideram responsável por todos os males do mundo. Acontece a quem fala do que não sabe e do que não conhece. O futebol é apenas a vítima de uma sociedade que se tornou descontrolada na ambição, no desejo de sucesso a qualquer preço, no valor primeiro do dinheiro, como novo Deus universal. A verdade é que entre todos os que acusam o futebol, poucos são inocentes.    
O futebol tornou-se vítima de uma sociedade desenfreada e, na verdade, entre aqueles que o acusam muito poucos são inocentes 
 

A LIDERANÇA E A COMUNICAÇÃO 

Muito se tem falado, ultimamente, de Rúben Amorim, como um bom exemplo de liderança e de comunicação. Poucos serão ainda os que se apercebem de que não existem boas lideranças sem boa comunicação. Para alguns dos maiores especialistas do treino desportivo, existem quatro pilares essenciais em que assenta uma liderança: Desafio sustentado, objetivos claros, capacidade comunicacional e abertura para aprender.Rúben, por conhecimento, intuição e personalidade segue, de forma competente, esse caminho. 
 

O DESPORTO, PESO E MEDIDA  

Não são demasiado severas as medidas anunciadas pelo Governo para contenção dos efeitos da quinta onda pandémica que assola Portugal e o mundo. Parecem equilibradas e proporcionadas e permitem que a vida prossiga com algumas limitações, mas sem um confinamento agressivo e angustiante. No que diz respeito aos espetáculos desportivos, o mesmo peso e a mesma medida. A apresentação conjunta de prova de vacinação e de testes epidemiológicos é uma medida de defesa pública que não inibe a presença nos estádios.