Há perder… há ganhar e, acima de tudo, melhorar o VAR

OPINIÃO08.04.202106:05

A tecnologia que auxilia a arbitragem é valiosa e deve desenvolver-se. Seria errado não melhorarmos o que há a melhorar e exigir igualdade nas condições de uso

C ONFESSO que só entrei uma vez no Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas, mais conhecido por ser o campo onde joga o Moreirense. É no fim de uma descida, ao lado de um simpático, bem abastecido e conhecido restaurante (o São Gião) e tem umas instalações dignas, mas modestas.
Entrei lá, parece-me que foi há séculos, ou numa vida anterior, embora na realidade fosse há apenas dois anos e meio, em 12 de agosto de 2018. Fui como presidente da Comissão de Fiscalização do SCP (organismo transitório após a queda de Bruno de Carvalho), acompanhando o presidente da AG, Jaime Marta Soares, o presidente da Comissão de Gestão do Sporting, ilustríssimo Artur Torres Pereira; e um outro dirigente, também da SAD, meu velho amigo e camarada de profissão, Luís Marques, e o mais que popular José Sousa Cintra, destacado pelo CG para a SAD (e acho que ainda me estou a esquecer de mais alguns, a quem peço antecipadamente desculpa).
Da viagem, ficou o companheirismo e um excelente almoço. De Moreira de Cónegos a inexcedivelmente simpática receção dos dirigentes do clube local (justamente no citado restaurante, onde devo ter engordado uns quilos). Do jogo, a última vitória que o Sporting obteve ali. Foi por 3-1 e começámos a perder aos seis minutos, com um golo de Heriberto. Bruno Fernandes empatou aos 16 e Bas Dost só aos 74 e depois aos 92 fixou o resultado final. O Moreirense bateu-se bem, perante uma equipa então treinada por Peseiro e com os traumas que na época ainda se viviam. No final do jogo, Sousa Cintra com a sua proverbial alegria, disse ao presidente do Moreirense: «Tem aqui uma bela equipa e uma bela casa; espero que ganhem aqui todos os jogos.» Era o primeiro jogo fora do Sporting e o primeiro em casa dos visitados. Se vencessem todas as outras equipas, seria fantástico para o Sporting.
Tudo isto para falar de algo tão simples como o empate que o Sporting cedeu em Moreira de Cónegos, há dias. Não é inédito (o que continua a ser extraordinário é que uma equipa não perde um jogo para o campeonato na jornada 25); não é sequer um resultado que se possa considerar mau, em relação a outros competidores (o Benfica empatou lá 1-1 e o Porto ainda tem de lá ir). É o que é, dois pontos perdidos, ficando o avanço sobre o segundo reduzido a 8.
Mas, aqui entre nós, quem no início do campeonato apostasse que chegaríamos à 26ª jornada com 8 pontos de avanço sobre o Porto e 11 sobre o Benfica, seria considerado doido varrido.
 

Líder Sporting deixou dois pontos em Moreira de Cónegos


QUESTÕES DO VAR

P OSTO isto, e sem desmerecer a exibição e a luta do Moreirense, que tem uma posição tranquila na tabela, há que dizer que o estádio onde joga tem particularidades que interessa ressaltar. As bancadas ficam perto do terreno de jogo e chegam muito abaixo; por consequência, as câmaras de televisão necessárias para que, na Cidade do Futebol, se analisem os lances estão demasiado baixas. Quem sabe um pouco de televisão sabe que isto provoca erros de perspetiva similares aos erros de paralaxe que levam os árbitros a avaliar mal alguns lances, como aqui já explicou Duarte Gomes.
Acresce que um fora de jogo por 2 cm, sendo fora de jogo, é uma questão de um frame, ou seja, de uma imagem das que se sucedem num filme. É quase nada. Há quem defenda uma espécie de tolerância, como nos radares de velocidade para os automóveis. Seria uma solução, mas tem sempre o risco dessa tolerância gerar uma nova questão. Imaginem que a tolerância é de 5 cm. Se a infração (fora de jogo) for de seis, haverá sempre quem conteste.
Parece-me, outrossim - e sem querer colocar em causa as decisões tomadas em relação ao jogo do Sporting -, que as condições de análise é que devem ser iguais. Ora, sendo verdade que naquele (e noutros) campos não existem condições semelhantes às que vigoram em Guimarães, Braga, Luz, Alvalade ou Dragão, o caso já merece mais atenção.
Não pretendo, de modo nenhum, colocar em causa o VAR; aliás, enquanto me lembrar do golo de Ronaldo frente à Sérvia dou graças por haver auxiliares tecnológicos de arbitragem. Apenas que haja vontade e coragem para melhorar o que pode ser melhorado.
De resto, o Sporting jogou até melhor do que em jogos que venceu. Aliás, os dois golos fora de jogo não resultaram do facto de os jogadores estarem em fora de jogo; quero com isto dizer que não receberam a bola vários metros à frente da linha; num caso, Pote estava apenas 2 cm adiantado, e noutro (genial golo de Paulinho a picar a bola por cima do guarda-redes) o marcador estava em jogo e o problema foi de Pote, que lhe passou a bola. Azar? Talvez, se lhe quisermos chamar assim. O azar existe nos jogos, como a sorte, a célebre estrelinha é que não houve. E aqui aproveito para recordar que Rúben Amorim fez bem em lembrar que já não podem falar de estrelinha. Na mesma jornada, o Porto marcou o golo da vitória no último lance, e o Braga nos descontos. Ao mesmo tempo, o Benfica, ganhou com um penálti e teve sorte em não empatar, embora tivesse criado diversas oportunidades de matar o jogo.
Enfim, houve estrelinhas, mas não foram de Rúben nem do Sporting.


E AGORA? 

S EGUE-SE o Famalicão, em Alvalade. Os famalicenses estão com uma performance fantástica desde o início de março, quando perderam com o Boavista 0-3, no Bessa e, na sequência, Ivo Vieira ocupou o lugar de treinador. Seguiu-se, logo, um empate em casa com o sempre difícil Braga e, depois disso, dois jogos avassaladores: 4-0 ao Marítimo, na Madeira; e 2-0 ao Paços de Ferreira, equipa que agarrou um lugar europeu, uma vez que o Guimarães já está nove pontos atrás, no sexto lugar.
Acresce que, como está mais do que dito, o Sporting não ganha ao Famalicão desde que este voltou à Liga, embora fique claro que, se há clube onde a tradição não é o que era, é, justamente, o Sporting.
Claro que os adversários mais diretos dos leões também hão de perder pontos. Desde logo, porque jogam entre si e um deles, se não ambos, sairá prejudicado. Depois, porque numa estatística feita por um jornal da concorrência, até se considera ser o Sporting quem tem os jogos menos difíceis. No entanto, o único resultado admissível face ao Famalicão é a vitória. Tem de ser. E de Paulinho, que finalmente se mostrou, espera-se que tenha desbloqueado o inibidor de golos e nos dê alegrias.
Tal como escrevi após o empate com o Porto, o mais importante era vencer o os três jogos seguintes. Santa Clara, Tondela (fora) e Guimarães. Conseguimos, e empancámos em Moreira de Cónegos. Os três jogos seguintes são Famalicão, Farense (fora) e Belenenses SAD. Temos de conseguir vencê-los, para chegarmos à 29.ª e ao embate em Braga, no mínimo, com os pontos de avanço que agora temos. Duas jornadas depois, à 31.ª, o Benfica recebe o Porto; e na 33.ª vai o Sporting à Luz. Bom é entrar no reduto dos nossos principais rivais já com o campeonato resolvido a nosso favor. Nem é pedir muito, o principal esforço está feito: 20 vitórias em 25 jogos, nenhuma derrota. Se mantivermos o ritmo, está ganho. E os jogos que aí vêm não são mais difíceis do que aqueles que já conseguimos. Trabalho e confiança, além do esforço, dedicação e devoção do nosso lema.


FC PORTO

Ontem à noite (escrevo estas linhas antes do jogo contra o Chelsea) fomos todos tripeiros, morcões e portistas (escolham o termo que mais gostam). Por várias razões: uma é estilo patriótica - gostamos mais dos nossos; outra é desportiva -, as vitórias do Porto somam pontos para o ranking dos clubes portugueses e poder ter três representantes na Liga dos Campeões, como acontece este ano, é muito bom; a última é para não irritar o treinador Sérgio Conceição, que é boa pessoa, ainda que ferva em pouca água.


RACISMO

Se há desporto onde o racismo menos devia existir, além do basquetebol, será o futebol. É raro uma equipa não ter jogadores de várias proveniências, cores e culturas. No entanto, o que se passou no jogo entre o Valência e o Cádiz, em que Juan Cala (Cádiz) foi acusado de atitudes e palavras racistas dirigidas ao defesa Diakhaby, do Valência e com possível transferência para o PSG (o jogador nasceu na Guiné-Conacri, ex-colónia francesa), voltaram a colocar o tema numa agenda de onde nunca saiu. Tudo isto é triste. Mas as punições para os jogadores que comprovadamente tem atitudes ou palavras xenófobas têm de ser necessariamente muito, mas mesmo muito, duras.