EDITORIAL Ganhar é o melhor remédio
Será que Schmidt está disposto a apresentar ao Sporting uma solução... à Sporting?
Para o Benfica, o jogo de Arouca era perigoso. Porque poderia ficar desde já afastado da Final Four da Taça da Liga, o que aconteceria pela segunda vez consecutiva, mas, mais importante, porque dificilmente a equipa resistiria psicologicamente a mais um desaire.
Nunca é fácil jogar ou treinar numa equipa grande e mais difícil se torna em tempo de crise. A pressão parece insuportável, a exigência chega a ser cruel. E a verdade é que por muito eficaz que possa ser a ação psicológica sobre um grupo a viver tempos de desilusão e falta de confiança, nenhum remédio é melhor do que ganhar jogos.
É verdade que a vitória do Benfica, em Arouca, não correspondeu a uma fantástica exibição, mas surgiram sinais de mudança, a começar no conceito de jogo pensado por Roger Schmidt para a equipa, lançando o surpreendente trunfo dos três centrais, assente numa ideia inatacável: se a solução é meter os melhores em campo, então havia de começar pela entrada de Morato, sem, no entanto, prescindir de António Silva e Otamendi. A partir daí, dessa base de confiança numa maior solidez defensiva, Schmidt construiu o resto do edifício, ainda com muitas incertezas evidentes, ainda com óbvias dúvidas, mas com a ideia essencial de que o resultado era a prioridade e a exibição seria, apenas, um acessório.
Não será ainda pela vitória que a águia pode declarar que está definitivamente curada. Melhorou, sim, mas continua convalescente. Levantou voo, mas ainda voou baixinho e pelo que se viu está ainda longe de descansar os benfiquistas que, também eles, ficarão na dúvida sobre qual vai ser a opção para o futuro. Será que Schmidt encontrou méritos suficientes na alteração do sistema e continuará a testá-lo para apresentar ao Sporting, no dérbi da Luz, uma solução... à Sporting? Será que ficou convencido de que, assim, a equipa consegue o equilíbrio que lhe tem vindo a faltar? E, sobretudo, conseguirá acreditar mais em si própria e matar, enfim, o fantasma que lhe aparece em cada jogo?
Não deixaria de ser irónico que Roger Schmidt encontrasse uma solução à Rúben Amorim e não sentisse qualquer pudor em copiar os vizinhos da Segunda Circular. Questão em aberto: valerá a experiência de Arouca para o futuro, independentemente do adversário? É preciso ver as cenas dos próximos capítulos.