Futebol em observações

OPINIÃO22.12.202105:30

Custa acreditar que o presidente da FPF abandone o futebol. A não ser que vá presidir a instituição à qual não possa dizer não

Q UEM gosta de futebol, independentemente da preferência clubística, não pode aceitar incoerências dos órgãos das tutelas. As escolhas e a responsabilidade foram do presidente, os critérios ficam nos segredos das estratégias.
O atual presidente da FPF divulgou publicamente que no fim deste mandato terminará a sua relação com o futebol. Não coloca a hipótese de se candidatar a presidir o FC Porto ou a UEFA, mas mantém o sonho possível da nossa Seleção vencer um Mundial. A estabilidade das estruturas de formação das diversas seleções, masculinas e femininas, nunca pode regredir e parar de crescer. Alguns resultados estão à vista: são factos! Regressar à liderança do clube está fora das opções, mas fica sempre incerteza, porque a paixão do adepto é imprevisível! Confirmou a não disponibilidade para se candidatar à UEFA, bem como os motivos da saída do clube (no tempo atrás), para manter a independência clubística. Poderia ter evitado situações complexas e aproveitado opiniões livres qualificadas, sem interesses escondidos, apenas para contribuir para a qualificação do nosso futebol. Aguardemos para confirmar.
Mas o futuro a Deus pertence. Vai deixar obra feita mas também problemas bem graves por resolver. Entre outros, um Conselho de Disciplina que, desde o início, se revelou escolha polémica e inapropriada, que nunca conseguiu a coerência que as decisões carecem: foram polémicas a mais, com interferências infelizes no desenrolar das provas, quando deveriam acontecer decisões criteriosas, no tempo certo e não com prolongamentos que deixam no ar a dúvida da coincidência de prazos. Quem participa na aprovação da legislação desportiva na Assembleia da República não deve ser quem a aplica nos órgãos federativos. O presidente da FPF sabia certamente que os critérios de escolha ficaram feridos, por falta de garantia de critérios coerentes. Terá sido escolha consciente e livre? Basta analisar as sanções e os prazos da sua aplicação para facilmente se detetarem os diversos problemas criados. A escolha da senhora presidente do CD foi decisão do presidente da FPF e revelou-se foco de polémicas e obsessões que nada devem ter a ver com o futebol. Por outro lado, a coincidência de alargamento de prazos para decidir sanções é surpreendentemente preciso. O Benfica atingiu o ponto de exigir publicamente a queda desse órgão, tal a situação criada. O Conselho de Arbitragem também acabou por ser uma forte dor de cabeça. O futebol tem sido bastante prejudicado por escolhas indevidas e sanções díspares em função do tempo, o que seria ainda mais grave. Por outro lado, o crescimento do número de praticantes, mesmo sendo realidade, continua sem projetos realistas e urgentes. Voltemos ao início. Esta semana, numa restrita cerimónia, festejaram-se os 10 anos da presidência de Fernando Gomes na FPF. Comemoração inédita e que atingiu dimensão noticiosa alargada. Foi a primeira vez que em Portugal ocorreu essa distinção! Do Presidente da República, ao primeiro-ministro e ao presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, entre outras personalidades selecionadas, o reconhecimento foi unânime, inédito, com agradecimento e elogio pela obra construída, chegando a ser considerado como «visionário». Defendendo a coragem do êxito sistemático com ambição e com tanto e prestigiado elogio, custa acreditar que o presidente da FPF abandone o futebol. A não ser que vá presidir a instituição à qual não possa dizer não.
 


Fernando Gomes divulgou que no fim deste mandato terminará a sua relação com o futebol


LIGA

O Santa Clara venceu o V. Guimarães e ganhou confiança para subir na classificação. O Estoril empatou com o Famalicão, que a partir de agora contratou novo treinador: saiu Ivo Vieira e entrou Rui Pedro Silva. O Portimonense empatou com o Arouca que deu um salto na classificação. O Gil Vicente deu muito espaço ao Sporting que venceu folgadamente. O Tondela, em zona de risco na classificação, foi vencido pelo Paços de Ferreira, que mudou de treinador: saiu Jorge Simão e entrou César Peixoto. O Boavista venceu o Moreirense. O Benfica goleou o Marítimo. O Vizela foi derrotado pelo FC Porto, com Vítor Bruno no banco dos suplentes por castigo a Sérgio Conceição, num jogo disputado sempre com objetivo do golo, por ambos as equipas. O SC Braga venceu o Belenenses SAD, com um golo no primeiro minuto.


A SUSPENSÃO DOS TREINADORES

U MA equipa sem o principal líder no banco pode perder a sua capacidade máxima. Se, de facto, existem treinadores adjuntos que conseguem manter as dinâmicas e a capacidade de comunicação, há sempre uma perda relativa que só a presença do treinador principal é capaz de superar. Multem, se for caso disso, no momento certo e nunca por declarações a quente, meses atrás, com consequências como impedimento de estar no banco. Quem decide sanções não entende muito de futebol e, por vezes, cria suspeições que nunca deveriam ser possíveis. Quando os erros dos árbitros são de bradar aos céus (influenciando resultados), também eles deveriam ser castigados, até porque há momentos em que ninguém aguenta tanta infelicidade de quem apita e sai impune.


BONS EXEMPLOS

O Vizela foi uma boa surpresa. Subiu de divisão e na principal Liga começou a mostrar ao que vinha e ainda a forte ligação exemplar aos adeptos e à cidade. Futebol ofensivo, atrativo, velocidade de execução e sempre com espetáculo perseguindo a vitória. Pagou caro algumas exibições e infelizmente a memória é curta, porque houve resultados que mereciam outra decisão. Não há adeptos mais importantes do que outros, a não ser para cada clube. Como exemplo positivo, o Vizela faz promoção das viagens para os adeptos acompanharem a equipa, disponibilizando lugares em autocarros a preços acessíveis, sendo apenas superado, em termos de adeptos presentes, pelos quatro primeiros classificados, V. Guimarães, Gil Vicente e Boavista. Por falar em Boavista, merece destaque a goleada ao SC Braga, conseguindo o apuramento para a Final Four da Taça da Liga: 5-1 foi um regresso a tempos inesquecíveis.


REMATE FINAL

A poderosa UEFA, na qual só grandes competências são escolhidas, acabou por meter um golo na própria baliza, com fífia enorme. Fazer um simples sorteio sem definir posicionamentos correu mal, mesmo muito mal, dando uma imagem de descuido e não basta afirmar que se tratou de um erro técnico de software. Detetado o erro, anulou-se o sorteio. Horas mais tarde, foi repetido, já com os elementos adequados. Esperemos que seja um exemplo para reforço de exigência e que todos os procedimentos sejam sempre preparados com a devida antecedência e rigoroso critério, de verificação prévia.

“No dia do seu adeus ao futebol, a Kun Aguero caíram os ombros, pelo peso do seu glorioso passado ou do seu futuro incerto (…) A mim pareceu-me que não se despedia apenas um jogador mas uma época. De quando não havia outra escola que a do bairro e da rua; de quando os mais velhos ensinavam a astúcia do jogo aos mais novos de quando as pedras simulavam uma baliza e, com alguma sorte, descobríamos um goleador, como Kun, singular.” Assim escreveu Jorge Valdano!

Agentes desportivos envolvidos em suspeitas de fraude fiscal, de burlas e falsificações, sem se conseguir identificar o envolvimento com os clubes, durante anos tiveram roda-livre para agir, sempre com tolerância. Agora enchem-se publicações com títulos a denunciar aqueles a quem todas as facilidades foram permitidas, com conivência de muitos.

As contas de Portugal no ranking UEFA continuam complicadas. Contando a atual época e as quatro anteriores, Portugal mantém o sexto lugar ainda com larga margem sobre os Países Baixos, mas está já demasiado longe da França. Contudo, o problema maior vai colocar-se em 2023. Temos de alcançar mais vitórias internacionais ainda nesta época ou na seguinte, para evitar sermos ultrapassados pelos Países Baixos. Por isso, é urgente prestigiar e qualificar o nosso futebol a nível internacional e, para isso, é urgente reforçar a competitividade dos nossos campeonatos.

O dinamarquês Eriksen colocou um desfibrilhador, para continuar a jogar. Em Itália, a lei não permite essa situação. Por isso, há rumores que o dão a assinar contrato com o Ajax, num eventual regresso desejado. O Inter manterá sempre uma forte ligação com Eriksen.