Foi um prazer, Jonas
1 - Em poucos dias o Benfica despede-se de dois jogadores que representa(ra)m o seu atual ADN. Com a extraordinária transferência de João Félix parte um dos símbolos do Seixal e, também, da relevante capacidade de atração que a Academia suscita nos últimos anos. Lá está a deteção do talento, se necessária a sua contratação e, depois, a completa sedução. Pessoal e profissional. João Félix é a referência desta estratégia e o Atlético de Madrid o seu destino. Já Jonas é um dos marcos do Benfica, que soube que teria de combinar sempre juventude com experiência, disponibilidade com sagacidade, confiança com esperança. Sim, Jonas chegou ao Benfica já que não contava em Espanha em razão do seu estatuto de não comunitário. Era um a mais lá. No Benfica, em razão da igualdade de direitos legalmente consagrada em relação aos brasileiros(as), passou a somar. Marcou golos e entusiasmou. Decidiu jogos e fez-nos acreditar, jogo a jogo, que a vitória era possível. Agora sabiamente resolveu, e bem, deixar os relvados. Se João Félix partiu, na linha destes novos tempos de comunicação, com uma despedida nas redes socais, Jonas disse adeus numa noite emotiva em que o jogo frente ao Anderlecht, num relvado ainda de férias, foi claramente o facto secundário. Foi verdadeiramente um jogo de apresentação para os novos jogadores à ordens de Bruno Lage mas foi, acima de tudo, um jogo de despedida em que Jonas jogou dez minutos, vestiu a sua camisola 10 e a Luz, sempre justamente agradecida, lhe tributou largos e sentidos aplausos. Aqueles momentos, bem intensos e com uma emoção contagiante, representaram puro agradecimento. Acredito que foram mesmo os «melhores anos» da sua carreira. Por mim, digo que o aplaudi centenas de vezes, o cumprimentei dezenas de vezes e que tenho algumas camisolas, com registos pessoais, que deixarei a meus netos com a nota que Jonas foi um marco na equipa do Benfica nesta década do século XXI. E nesta varanda de Verão, com o tempo a aquecer - e decerto os fogos a aparecerem -, a saudade invade-me. E nela está a referência João Félix e o marco Jonas. Jogaram poucos minutos juntos na segunda parte da época que agora terminou. Mas um e outro saborearam uma reconquista marcante. E a mensagem de João Félix ao Jonas e a homenagem que o conjunto dos colegas lhe dedicaram antes do arranque do jogo na passada quarta-feira mostram um comprometimento pessoal - e coletivo - que importa realçar. Estava ali o homem e o jogador, o cidadão e o colega, o dez e o pistolas. Estava o jogador que nos deixa saudades. Mas com a certeza que o Benfica continuará a ser um clube conquistador, a referenciar jogadores de eleição, a detetar jovens com talento puro e a chamar outros menos jovens que encontrarão no Seixal e na Luz o espaço, o ambiente a as condições para expressarem, no relvado competitivo, as suas qualidades singulares. Jonas foi, para mim, um desses jogadores. Mas a justiça exige-me que aqui escreva que já em outras décadas do século passado e na primeira deste aplaudi, porventura que não em momento tão intenso de despedida, outros jogadores e homens que foram determinantes para outras conquistas históricas do Benfica. Sei que vivemos tempos em que o presente já é quase história. Mas nesta varanda de verão que me contagia a alma não esqueço grandes Senhores que fizeram grande e europeu o nome do Benfica e outros que o ajudaram a resistir em momentos complexos da vida desta instituição, que é uma referência e um marco na história do desporto, e do futebol, em Portugal. E a extraordinária primeira página na quarta-feira deste jornal diz tudo. Foi também um prazer JONAS!
2 - Jonas também conheceu bons árbitros e conviveu com momentos de menor acerto de alguns árbitros. É a vida. A vida vivida e a vida sentida. Mas olhemos para o quadro principal de árbitros para a época desportiva que agora arranca. São vinte e um (21) e oriundos de onze associações distritais de futebol. Seis do Porto, três de Lisboa e também de Braga, dois de Leiria e um do Algarve, de Castelo Branco, de Setúbal, de Évora, de Santarém, de Vila Real e de Aveiro. E se olharmos para a lista de doze (12) que integram a categoria C2 vemos que três são Porto e outros três de Lisboa e os outros seis são originários da Madeira, de Aveiro, de Santarém, de Castelo Branco, de Setúbal e da Guarda. Chegamos, assim, à conclusão que sete Associações Distritais e Regionais de futebol não estão representadas nas duas listas principais da arbitragem portuguesa. E lá está, também, o interior de Portugal com a exceção - que é uma surpresa - do distrito de Coimbra. As outras cinco, para além das associações dos Açores, são as de Bragança, Beja, Portalegre, Viseu e Viana do Castelo. É o Portugal do interior que não tem clubes na Liga NOS - com a relevante e meritória exceção do Tondela - e que resiste na Liga 2 com o Covilhã, o Académico de Viseu e o Chaves. Por ora… e antecipando um Verão quente na justiça desportiva e, já agora, pressinto na justiça comum… Mas, para aqui, nada como escrever, lendo, ao Sábado…
3 - Esta semana, que agora termina, foi uma semana de aniversários. E trago aqui o registo que a amizade está para além das cores das nossas paixões. Na segunda o Manel fez sessenta e comemorou, em grande - mesmo em grande - na sexta. Na quarta o Joaquim fez os mesmos sessenta, mais o IVA máximo e abraçado por uma maioria de sportinguistas. Mas não deixando de, vivendo a vida, beber o seu JB com cinco pedras de gelo. Sempre penta! Na terça o Zé Maria, na subtileza dos seus nove anos, não deixou de proclamar que era apenas da Seleção Nacional. E na sexta o Bruno, rodeado de amigos do coração, não deixou de reafirmar a sua lealdade ao Benfica e a sua fé numa nova reconquista. E o desportivismo é, também, esta amizade nas diferenças. Na certeza que o homem - e a mulher - que tem amigos nunca é pobre. E, como também nos ensina António Lobo Antunes, a amizade não tem ciúmes. A amizade é um dos prazeres da vida. Desta vida. Desta vida vivida!