Figura do 1.º terço da Liga: Roger Schmidt

OPINIÃO13.11.202205:30

Mentalidade, intensidade, agressividade, organização e confiança são características presentes no Benfica de Schmidt

R OGER SCHMIDT assume-se como a grande figura deste primeiro terço futebolístico em Portugal. Pegou no Benfica depois de dois anos frustrantes, em que as expectativas altas se transformaram em desilusões. Partiu atrás dos dois rivais, pelo simples facto destes terem mantido estabilidade nas suas estruturas. Foi obrigado a começar a época mais cedo, com jogos decisivos e que seriam determinantes para que o início de época tivesse a paz necessária e, sobretudo, a garantia de estabilidade financeira que a entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões proporciona. Teve a capacidade de suportar mais quatro jogos que os adversários diretos e em manter a equipa fisicamente estável e com uma forma de jogar atrativa e dinâmica. Optou por fazer pouca rotatividade quando muitos (eu inclusive) diriam que caso não fizesse uma gestão do plantel adequada, alguns jogadores fundamentais iriam cair em termos físicos e a equipa iria ressentir-se. Incutiu a sua forma de jogar e ‘entrou’ na cabeça dos jogadores. 


‘IMPÔS’ O SEU ESTILO

SÃO muitas as mais valias que Schmidt nos trouxe. A mentalidade que a equipa do Benfica apresenta e que lhe permite encarar todos os jogos para ganhar, é um dos seus pontos fundamentais. Por norma, apresentamos como referência as ligas inglesa e alemã pela intensidade que apresentam nos seus jogos, pensando nós que em Portugal tal seria muito difícil de suceder. E eis que aparece um treinador que nos consegue provar o contrário, de uma forma consistente. O Benfica apresenta uma intensidade e uma agressividade, tanto na recuperação de bola como no ataque à baliza adversária, que torna o espetáculo muito mais apetecível para adeptos e jogadores. Consegue ainda complementar estas duas características com uma outra que é a marca das grandes equipas de futebol, o respeito pelo espetáculo e pelo adversário. A nossa infância acaba por ser fundamental para a vida adulta. Nunca me esqueço o que um treinador de formação disse perante todo o grupo de trabalho: «Ter respeito pelo adversário é não tirar o pé do acelerador, é continuar a procurar a baliza adversária independentemente do resultado». E o Benfica de Roger Schmidt tem esta atitude bem vincada e que lhe vai ser muito útil no futuro, pelo simples facto de quando as coisas não estiverem a correr bem, os jogadores só têm de fazer aquilo a que estão habituados, que consiste na procura incessante pela baliza adversária. 


O CAMINHO ESCOLHIDO

M AS não é só pela mentalidade ou filosofia que conseguiu trazer para a sua equipa, que o treinador do Benfica é o destaque deste primeiro terço do campeonato. No futebol existem muitos caminhos para chegar ao sucesso. Cada treinador escolhe o seu tendo em conta um conjunto de fatores de análise, como os jogadores à disposição, o contexto em que se insere ou a cultura do país e do clube. O caminho de Roger Schmidt assenta em tornar os jogadores fortes psicologicamente, em acreditarem que podem vencer qualquer adversário, em valorizar o grupo em detrimento do individual e em simultâneo distribuir elogios quando for o momento oportuno. Não fala de si, fala do todo e no todo está a sua valorização.
Ao longo destes 24 jogos abordámos a importância de alguns jogadores na forma como o Benfica joga e a falta que iriam fazer quando estivessem indisponíveis. A realidade é que o Benfica já jogou sem Neres que era o grande desequilibrador, perdeu Morato precocemente, jogou sem Enzo em Israel, jogou sem Gonçalo Ramos, já jogou sem Rafa,.. e por muito complicado que fosse o adversário, a equipa deu boa resposta e os jogadores que entraram cumpriram sempre. O percurso de Schmidt tem outro factor extra que é a valorização dos maiores activos de uma SAD, os jogadores. Hoje, todos são valorizados, todos estão em alta, todos contribuem para que a equipa funcione, porque a base de valorização dos atletas não está na via individual mas sim no processo colectivo.


NÚMEROS CONFIRMAM

NEM sempre conseguimos transformar toda a influência de um líder em números, mas neste caso até isso se torna fácil: 24 jogos, 20 vitorias e 4 empates. Primeiro lugar num grupo da Liga dos Campeões que tinha como favorito o tubarão PSG (para não falar da Juventus). Invencível até ao momento. 64 golos marcados e 16 sofridos.  Todos estes números representam factos, que por si só, justificam a forma como a época está a correr. Mas o que o torna todos estes números diferenciadores é o processo, ou seja, a forma como Roger Schmidt faz a sua equipa atingir esta performance.


QUEM FICA NA HISTÓRIA

N O desporto e no futebol em específico, os que vencem ficam sempre na história, independentemente do caminho que seguem. Mas os que ganham e conseguem juntar características que tornam o futebol um jogo mágico, atrativo, com intensidade, agressividade, movimento, criação de oportunidades de golo ou compromisso, ficam num patamar acima de todos os outros.
É verdade que Roger Schmidt ainda não ganhou nada e que no futebol tudo muda muito rapidamente, mas já nos deu a oportunidade de desfrutar de um futebol diferenciador, que valoriza o espetáculo e transmite confiança aos jogadores e adeptos, fazendo com que a sua equipa seja ainda mais forte pela envolvência que está a ser criada em seu redor. 


A VALORIZAR

António Silva
Teve a sua oportunidade e agarrou-a com as duas mãos. Apresenta uma maturidade fora do vulgar, dentro e fora dos relvados. Numa semana em que completou 19 anos, voltou a exibir-se em grande nível, com dois golos frente ao Estoril e uma chamada à Seleção Nacional, que lhe permitirá estar presente numa grande competição mundial representando o País.

Casa Pia
Existem três palavras que definem o Casa Pia de uma forma transversal: equilíbrio, organização e discrição. Num contexto de transformação do futebol português, o Casa Pia pode ou deve tornar-se num benchmark para muitos clubes que necessitam de transformações substanciais das suas estruturas.


A DESVALORIZAR

Paços de Ferreira  
Dois pontos em 12 jogos resumem o desempenho no primeiro terço do campeonato. Com o fosso pontual a ficar cada vez maior para os adversários directos, a margem de erro começa a ficar muito reduzida.