FC Porto 2024 - um ano histórico
Pinto da Costa, presidente do FC Porto (Foto: Nando Silva/Avant Sports/IMAGO)

FC Porto 2024 - um ano histórico

OPINIÃO20.01.202410:55

Ainda incerta a queda de Pinto da Costa - o velho imperador - mas mais do que certa a afirmação de André Villas-Boas como seu próximo sucessor

Há mais de quarenta anos que o FC Porto não vivia, como agora, uma razoável dúvida sobre quem vai ser o seu líder. E mais do que isso, sendo ainda incerta, no breve prazo de alguns meses, a queda de Pinto da Costa, é já uma certeza a afirmação de André Villas-Boas como seu próximo sucessor. O ano de 2024 traz, pois, ao FC Porto a clara perspetiva de ser um ano histórico, um ano transformador, um ano em que o clube lança o futuro em oposição a uma linha de continuidade de um regime já embalsamado.

Poderia ser, este, um ano de glorificação em vida do velho imperador portista. Não será, porque Pinto da Costa, agora com 86 anos, recusa-se a abandonar o trono do grande reino do Dragão. Mandaria o bom senso que, lúcido, ativo, embora com saúde debilitada, ajudasse a preparar o caminho para um futuro estável no seu clube, depois de quatro décadas de presidencialismo forte e inacessível. Não está no seu desígnio resignar o que para ele significaria desistir.

Pinto da Costa diz que não o faz porque coloca o interesse do clube à frente do seu interesse e da sua saúde. Não será verdade. Pinto da Costa pensa, eventualmente, com um fundo de razão, que afastar-se da presidência e limitar-se à passividade de uma vida de louvores e medalhas, o iria matar em pouco tempo. Não ter no dia a dia o prazer de inventar inimigos, de combater tudo e todos os que vivem fora da sua muralha, de fazer da ironia ácida uma ginástica mental seria condená-lo a uma insuportável mansidão. Não ter a rotina de subir para o autocarro da equipa, nos dias dos jogos, de aparecer como educador rigoroso e atento nos momentos de crise, de ver a equipa no camarote presidencial rodeado de uma corte fiel e submissa, seria condená-lo a uma reforma fatal. E não lhe dar o palco habitual nas televisões, nos jornais e na rádio, o poder inteiro da palavra punitiva sobre os que dele discordam, criar a admiração do seu discurso fluido, mas impiedoso, seria reduzi-lo a uma penosa insignificância, mais do que desportiva, social.

É preciso entender, neste plano bem mais alargado que o do Desporto, a razão pela qual Pinto da Costa se tornou um imperador dos tempos modernos. Não apenas porque exercia um poder absoluto no FC Porto, mas porque houve tempo em que esse poder se estendeu a toda a estrutura do futebol, a muitos e distantes clubes cujos dirigentes se tornaram seus súbditos e cujos treinadores sabiam dever-lhe gratidão. E ainda mais, porque esse poder se estendeu muito para lá do futebol, estendeu-se à classe política, ao poder do Terreiro do Paço, que ele tanto detestava, ao mundo financeiro e empresarial, que o ouvia com admiração e receio.

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Até abril, e depois, o desafio dos candidatos será o de manter a identidade do clube

Mas nem os imperadores são eternos. O poder efetivo de Pinto da Costa foi-se diluindo com o desgaste do seu regime e de todos os seus pecados. Foi, pois, na convicção de que adiar a mudança seria demasiado perigoso para o futuro do FC Porto que fez da candidatura de André Villas-Boas uma candidatura viável, coerente, necessária. E necessária, em primeiro lugar, para o FC Porto, mas também para o futebol português.

Pinto da Costa diz que por alguma razão todos os seus inimigos estão com Villas-Boas. É apenas a mesma fórmula aplicada e repetida com sucesso desde há quarenta anos, mas que, hoje em dia, neste novo tempo, se torna apenas um sinal de decadência. Ninguém acredita, portistas e não portistas que viram aquela imensa onda azul na Alfândega do Porto, que se juntasse ali uma multidão de inimigos de Pinto da Costa. Ninguém acreditará nisso, mas acreditará que nas próximas eleições a escolha será entre o passado e o futuro.

Eu não votei em Leo Messi

Por razões que estão ligadas à minha vida profissional mais ativa, a FIFA escolheu-me, há alguns anos, como único jornalista português a votar no The Best. Tem mantido, certamente por elegância, esse convite. Eu não votei em Messi. Porque Messi foi, em muitos anos, o melhor jogador do mundo e eu votei nele. Como votei Ronaldo quando achei que merecia. Mas Messi não foi no último ano o melhor futebolista do mundo, muito longe disso, e o prémio atribuído descredibiliza o voto, os votantes e, pior, o futebol mundial.

O congresso do jornalismo

Decorre o V Congresso do jornalismo num tempo de profunda crise... do jornalismo. Não pretendo, obviamente, discorrer o que penso neste espaço tão pequeno, mas sempre direi que há, com o jornalismo, um problema global e com o jornalismo português um problema Portugal. Sempre fomos um país desencorajado de ler e de apreciar jornais. Numa população escassa e desinteressada, não há negócio jornalístico que sobreviva. É a partir desta cruel realidade que se devem pensar e partilhar soluções. Como se percebe, não é fácil.