Só há um FC Porto?
André Villas-Boas anuncia candidatura à presidência do FC Porto. Foto: Grafislab

Só há um FC Porto?

OPINIÃO19.01.202409:15

Até abril, e depois, o desafio dos candidatos será o de manter a identidade do clube

André Villas-Boas é finalmente candidato à presidência do FC Porto e Jorge Nuno Pinto da Costa para lá caminha. Até abril, e por muito que ambos (e até o treinador Sérgio Conceição) se esforcem por colocar o foco nos resultados desportivos, os sócios portistas vão entrar em terreno desconhecido. Porque nunca, como agora, «o presidente dos presidentes» (para citar o seu adversário na corrida) teve uma oposição forte, aparentemente estruturada e com tamanha visibilidade.

Precisamente pela exceção, o anúncio na Alfândega do Porto foi transmitido em direto pelas televisões, mas a candidatura de AVB sabe que isso em 2024 já não chega. Houve lives nas redes sociais (no instagram, a página até foi desativada por denúncias…), hashtags e slogans curtos, que se aprendem e propagam rapidamente por públicos cada vez mais diversificados: «Só há um Porto», «Um Porto de todos».

O discurso começou por ir de encontro a esses lemas, com a proclamada gratidão pelo legado de Pinto da Costa. Mas… A seguir veio um enorme «mas». Villas-Boas disparou para a gestão do clube nos últimos 20 anos, foi às contas e aos reforços, à formação e às promessas por cumprir, ao medo e à falta de transparência. Falou para dentro, mas com toda a gente lá fora a ouvir. Não divulgou ainda quem tem ao seu lado, mas há adeptos que estão há já muito tempo ao lado destas críticas.

Num só Porto, como o dos últimos 41 anos, não havia lugar a distanciamentos internos. Num só Porto, o de Pinto da Costa, com os sucessos desportivos reconhecidos, as palavras mais duras eram sempre para os rivais. Os tais «inimigos» que o presidente garante, com a habitual provocação, apoiarem Villas-Boas. E que não foram mencionados na Alfândega.

Num só Porto, também não havia campanhas eleitorais. Pinto da Costa até afirmou, em entrevista à RTP, que não é agora que a vai fazer, mas lá vai dizendo coisas como «A cadeira de sonho dele acabou quando lhe acenaram com dinheiro», que provavelmente não diria agora se não estivesse… em campanha. Já Villas-Boas, na quarta-feira, não apresentou só um programa: mostrou que tem precisamente uma campanha bem montada.

Num só Porto, nenhum adepto celebraria uma derrota. Mas agora, em campanha, há quem de imediato escreva nas redes sociais a clamar por mudanças. Num só Porto, nenhum adepto usaria uma vitória como argumento de gestão. Mas agora, em campanha, elas são uma bandeira de apoio incondicional.

Para haver só um Porto, é preciso que os próximos três meses passem rápido, e sem muitas feridas. Ganhe quem ganhar em abril (e penso que o ‘segredo’ - além dos golos que entrarem ou não - serão os indecisos, que não estando totalmente satisfeitos com a atual administração, também ainda não estão crentes nesta mudança), adivinha-se um trabalho difícil para (re)construir o tal Porto de todos.