Estou irritado consigo, Otávio

Ainda sou do tempo em que um jogador ‘à Porto’ não cai... Faz cair...

ESTOU irritado consigo, caro Otávio. Vê-lo de novo cair no chão com aparato e rebolar-se num aparente esgar de dor quando o adversário nem o atingiu ou mal lhe tocou irrita-me mesmo. Pela deslealdade em relação a um colega de profissão, ao público e até à instituição que representa. E, acima de tudo, pela deslealdade a si próprio. Fico irritado, porque cada minuto que está no chão sem necessidade nenhuma são 60 segundos em que me rouba o privilégio de o ver jogar. E que bem você joga… 

O Sérgio Conceição também deveria ficaria irritado consigo. Anda o homem há anos a inventar omeletas gourmet sem grandes ovos, a desenhar esquemas táticos e nuances que já davam para uma tese de doutoramento, a afirmar-se como um treinador de topo, a lapidar jogadores medianos em grandes jogadores para depois ter um jogador que acredita que uma boa forma de tentar ganhar um jogo é a simulação? 

Os adeptos do FC Porto também se deveriam irritar consigo, pelo menos se a cidade do Porto e os portistas ainda forem como os conheci quando aí vivi. Porque um jogador ‘à Porto’ não cai… Um jogador ‘à Porto’ faz cair… E, mal por mal, lido muito melhor com o mostrar dos pitons a um adversário do que com a simulação às vezes patética de alegadas faltas ou agressões.

Estou irritado consigo, Otávio, porque é injusto que a crítica tenha de falar de si como uma grande jogador, mas… Esse ‘mas’ não devia lá estar. Cola-se uma imagem que tem custos. Veja-se Taremi, que pode agora cair na área de forma causal e nem reclama penálti, mas leva amarelo na mesma pela fama de simulador; ou Sérgio Conceição, pegado de ponta por muitas atitudes que já teve e que já chega a ser advertido por coisas ridículas. 

Perguntará o Otávio, e entendo que o faça: «Jorge, tantos fazem o mesmo e é comigo que estás a implicar?» Caro Otávio, só os grandes jogadores me irritam. Do Otávio exigirei sempre mais do que de 99 por cento dos jogadores. E não, Otávio, não é nada contra o FC Porto, pelo contrário, é a defender o FC Porto. 

Quão injusto é a para uma enorme instituição, marca de Portugal no Mundo, que se usem ‘mas’ quando se comentam as grandes conquistas. E a culpa não pode ser só de quem critica. Se a razão estivesse sempre de um lado e a culpa do outro nenhuma discussão duraria mais do que um minuto.

Caro Otávio, está muito a tempo de decidir que legado quer deixar. Não roube a quem ama o futebol o direito a gostar muito de si sem ‘mas’…