Estatística de taças e tacinhas
Somar coisas tão diferentes é como comparar batatas com feijões, ou seja, um exercício estatístico para pacóvios...
É recorrente. No fim das épocas e, agora, também a meio com a Taça da Liga, faz-se a contabilidade dos títulos alcançados em todas as competições. Aliás, não sei por que critério, esta taça (finalmente sem adjacências redutoras ou jocosas, desde que o FCP finalmente a venceu) dá direito a uma consagração pateta, qual seja a de campeão de Inverno. Adiante.
O primado da estatística tomou conta do futebol. Para qualquer coisinha, logo surge uma discorrência estatística para provar qualquer série vitoriosa ou perdedora, ou qualquer feito ou defeito de qualquer equipa ou jogador. Eu que até gosto de análises estatísticas, confesso que me canso com tanta enxurrada de médias, sequências, medianas, desvios-padrão que aparecem para demonstrar a realidade ou o seu contrário. Dependendo do seu utilizador ou manipulador, podem ser um anestesiante ou uma vitamina, um bálsamo ou um purgante. Às vezes, dou comigo a olhar para a pletora de números e médias sobre um simples desafio e a chegar à conclusão de que vi, afinal, outro jogo. Outras vezes, o vencedor na relva é o derrotado na estatística e o perdedor real é o ganhador algébrico.
«A Taça da Liga dá direito a uma consagração pateta, qual seja a de campeão de inverno»
Em qualquer caso, as estatísticas são sínteses que exigem análise. Uma disciplina tão exacta que, todavia, muitas vezes serve de pasto a interpretações, discussões e aproveitamentos à la carte. Ou à mentira estatística ou, pelo menos, à sua não contextualização. Depois da vitória na Taça da Liga pelo FCP lá surgiu a obsessão de quem tem mais títulos. Ao que parece, Benfica e Porto estão empatados em títulos (82), contando, de igual modo, uma vitória no Campeonato, na Taça, na Supertaça, na Taça da Liga ou na Europa. Deixando de lado, a confusão entre títulos e taças (por exemplo, qual o título inerente a um só jogo da supertaça?), bastaria fazer uma ponderação da sua importância e dificuldade e os resultados seriam diferentes (o Benfica tem mais 7 campeonatos, mais 8 Taças de Portugal e mais 6Taças da Liga, o Porto iguala sobretudo à custa das Supertaças com mais 16 do que o Benfica…). Somar coisa tão diferentes (a nível nacional e a nível internacional) é como comparar batatas com feijões, ou seja, um exercício de estatística para pacóvios…
Schmidt foi aposta certa de Rui Costa
FOLHA SECA
Benfica Europeu À Schmidt
ESTA época, em encontros europeus, o Benfica fez até agora 11 jogos. Ganhou 9 e empatou os 2 jogos com o PSG. Marcou 28 golos (média de 2,54) e sofreu 9 (média de 0,8). Os mais zangados (para não citar a expressão de tanto agrado de Sérgio Conceição, aziados) dirão que sim, é verdade, mas… (há sempre um mas quando o SLB ganha, ao contrário de outros clubes, nos quais tudo é de um absolutismo incompatível com qualquer conjunção adversativa). Mas - continuando - dirão que tudo foi contra uma Juventus em crise, um Dínamo de Kiev a jogar na Polónia, um Midtjylland de um campeonato periférico (tal como o nosso), um Maccabi que, só por mero acaso, ganhou à Juve por 2-0, um Club Brugge, tricampeão belga que apenas somou uma derrota na fase de grupos e venceu em casa o Atlético de Madrid e o Leverkusen (e ao FCP, no Dragão, por 4-0) e, por fim, um PSG que, em Paris, jogou sem o Messi. A verdade é que, muito provavelmente, o Benfica de épocas anteriores (incluindo a boa prestação no ano passado) não teria sido capaz de atingir o nível de resultados desta temporada. E também as exibições: personalizadas, não temerosas, desinibidas e competentes, em função da natureza de cada um dos adversários. Para tal, muito têm contribuído factores que vão desde acertadas decisões directivas à qualidade do plantel. Aqui, permito-me apenas distinguir, o treinador Roger Schmidt. Aprecio o seu trabalho. Como líder de uma equipa e como gestor de jovens pessoas. Como comunicador sensato e inteligente (felizmente para ele, não percebe português e passa ao lado das questiúnculas e rábulas de cada momento). Excelente escolha de Rui Costa.
JOGOS FLORAIS
A República das Ilhas Marshall é o único país da ONU que não tem um único clube de futebol. Foi entretanto criada uma Federação de Futebol e vai ser inaugurado um estádio.
Uma oportunidade bem-vinda. Ora aí está uma boa oportunidade para alguns dos nossos árbitros-artistas-e-varistas irem para os 29 atóis e 5 ilhas deste país. Sem preconceitos, sem inclinações clubistas, sem interpretações ao sabor das influências, sem arrogâncias patetas, sem vícios mal disfarçados. E talvez a FIFA os escolha para o próximo Mundial!
FAVAS CONTADAS – 2
Ouço no basquetebol, hóquei, andebol e futsal: “faltam 2 minutos que são uma eternidade!” Uma relação misteriosa entre o eterno e o milagreiro. Já no futebol, 2 m. é o mesmo que dizer “o tempo está praticamente esgotado”. Como o tempo (in)útil é relativo!
FOTOSSÍNTESE
André Almeida. André Almeida terminou o seu percurso no Benfica. Excelente profissional, que sempre sentiu a camisola do clube com a fibra de quem nunca desiste, com alma até Almeida. A sua extensa polivalência (à direita, à esquerda, ao centro e à frente) foi um dos seus grandes méritos, certamente fruto de muito e laborioso trabalho. Como normalmente acontece com jogadores adaptáveis a várias funções, acabou por ser prejudicado por isso mesmo. No Benfica e na selecção nacional. Belíssima entrevista na BTV, com gratidão e sem tiques de vedetismo. Obrigado, André Almeida.