energúmenos, bandalhos, cobardes

OPINIÃO19.12.201903:00

Estou convencido de que, mais do que futebol, mais do que as vitórias do clube de cada um, os adeptos normais prezam a sua liberdade e a sua segurança, bem como a dos seus próximos. Aquela espécie de gente que entrou por Alcochete adentro, no dia 15 de maio de 2018, e aquela meia-dúzia que à porta do hotel de Ponta Delgada os apoiou, constituem uma ameaça a esses valores fundamentais.
Se há coisas em que dou razão e apoio Frederico Varandas é na luta que ele move a este tipo de canalhas que nada mais faz do que prejudicar o clube, ameaçar quem o quer levar para a frente e insultar quem o dirige. Sei bem o que é, podem crer, porque diversas vezes fui alvo das suas ameaças e injúrias. Aliás, por via das redes sociais, ainda sou. Como compreendem a minha liberdade pessoal foi coartada por gente assim. Ao ponto de ser desaconselhado pela família de levar um neto a Alvalade, pois, por duas vezes aconteceu-me ter de sair de lá com a proteção de seguranças ou polícias. O mesmo me aconteceu em Assembleias Gerais, ou de um modo geral nas ruas de acesso ao Estádio e em cafés e restaurantes das redondezas. Num país normal, proativo no combate a este fenómeno, estas coisas não aconteciam mais de um ano e meio depois daquele assalto que está em julgamento.
Podem vir com argumentos que as respostas se dão em campo, mas são completamente falsos. Nada, mas mesmo nada, pode justificar comportamentos daqueles. Ainda que o Sporting perdesse todos os jogos miseravelmente, nada do que essa gente faz - e que até as claques já repudiam - pode ser aceitável. Por isso, presidente Varandas, o primeiro cumprimento vai para si, neste momento. Escumalha. E mais do que escumalha, bando de energúmenos e bandalhos cobardes.
Deixe-me cobrir a parada!

Do LASK aos Açores

Asemana passada escrevi que Silas não tinha equipa para gerir e que não se percebia porque resguardava tanta gente para o Santa Clara. Digamos que, depois dos 4-0 nos Açores, poderia ser compelido a dar o braço a torcer. Pode ser que Silas tivesse razão (e digo isto porque ele há de conhecer os jogadores, o que não se passa comigo). Uma série de fatores concorreram para que as coisas lhe saíssem bem.
Em primeiro lugar, os 3-0 e o jogo miserável que fizemos em Linz, na Áustria, não parece ter deixado marcas, tendo em conta o resultado em Ponta Delgada; em segundo lugar, o adversário que nos saiu nos 1/16 avos de final, mesmo estando no pote dois, será teoricamente o mais fraco que existia no pote 1. (Mas o Istambul Basaksehir, com quem teremos de jogar a 20 de fevereiro em Alvalade e a 27 na cidade europeia da Turquia, parece melhor do que a fama e a curta história que tem). Por último, por via da derrota do Famalicão com o Benfica, o Sporting ascendeu ao terceiro lugar do campeonato com a vitória nos Açores. Isso faz-nos desculpar o falhanço incrível (até porque seríamos à partida a equipa mais bem posicionada para o fazer) de não manter o primeiro lugar no grupo de classificação, ficando no pote 1 com as restantes três equipas portuguesas e, o que é pior, perder meio milhão de euros com essa habilidade.
Porém, e a propósito de habilidades, é bom recordar, como o fez ontem nestas páginas Gonçalo Guimarães, que a recuperação do Sporting vista por Silas é só meia verdade. Sim, estávamos em nono e estamos em terceiro. Mas estávamos a sete pontos do Benfica e do Porto e agora estamos a 13 dos encarnados e a nove do dragão. Ou seja, ganhámos terreno a várias equipas pequenas, mas perdemos para os nossos tradicionais competidores.
Assim sendo, ainda não me convenço da bondade da opção de Silas. O Sporting tem de jogar para ganhar tudo por uma razão simples: já perdeu de mais esta época. E se a gestão do plantel é para fazer, não seria por certo a um jogo da abertura da janela de transferências. Pedia-se um esforço complementar a alguns jogadores. Posso estar a ser injusto, mas a energia e a força também estão nos sinais transmitidos. E a equipa com que entrámos em Linz era jeitosa para experiências em treinos, mas não era uma equipa ao nível de se bater com quem tem o potencial (ainda que não seja por aí além) do LASK.
A parte boa

Aparte boa é que o Sporting nos Açores parecia uma equipa. Não uma equipa maravilha, mas uma equipa estruturada e com esta particularidade que eu considero muito positiva: não jogava toda para Bruno Fernandes, não o obrigando a arcar com tudo às costas e não se atrapalharam uns aos outros.
Particularmente bom de ver, além do resultado, e de Bruno Fernandes, jogador que nunca desilude, foi Luiz Phellype a marcar dois golos à ponta de lança, com destaque para o primeiro (o segundo muito bem marcado, teve uma assistência exemplar); foi ver Acuña a dar tudo e a entrar pelo seu corredor de forma exímia; foi ver Bolasie marcar um tento, ganhar um penálti e, mesmo falhando um golo que parecia impossível falhar, deixar uma impressão positiva; foi ver Vietto a confirmar, a cada jornada que passa, as suas potencialidades; foi ver Ristovski a jogar pela sua ala e a fazer aquele passe para o segundo de Luiz Phyllipe. E ainda Mathieu (como de costume), mas também Coates seguros nos seus postos e Luís Maximiano a afirmar-se na baliza como um possível novo Rui Patrício. Sobretudo, ver Battaglia voltar a jogar, embora em tempo parcial, mas deixando a ideia que vem com a classe que lhe conhecemos.
Não quero com isto criticar ou afirmar que não estiveram à altura os jogadores não citados (Doumbia e Wendel, da formação inicial) ou Eduardo e Jesé, que entraram como substitutos. Apenas salientar que já parece haver uma equipa e alguns suplentes (se Battaglia continuar a dar estes sinais é natural que sente no banco Doumbia) que têm capacidade de jogo. Veremos se é assim já no sábado, em Portimão, para uma Taça da Liga que vencemos o ano passado, mas que não depende de nós ir à final four. Em dias de Taça de Portugal, onde já não estamos, seria fundamental um passo em frente na Taça da Liga.
Apenas uma última palavra para as galas Honoris e os prémios Stromp. Ao contrário de outros distintos sportinguistas nem me indigno nem acho dignos de polémica. Parece-me mais importante discutirmos aspetos mais sérios do clube, e desde logo os estatutos e a organização da SAD. Nesse aspeto, encontro-me com o que aqui escreveu Dias Ferreira no sábado passado. Não o acompanho na indignação com galas e prémios, mas dou-lhe muita razão em tudo o resto que escreveu.