Editorial: o caso de Casper Tengstedt
Opinião de Vítor Serpa
Só existem dois modos das equipas portuguesas valorizarem os seus plantéis e, dentro dos seus patamares próprios de interesses (desportivos e não outros), conveniências (de clube e não outras) e realidade económica conseguirem o melhor dos dois mundos, comprar barato e bom para depois vender caro e melhor. Parece uma fórmula simples e até pouco original, que pode ser seguida por qualquer clube do mundo que não faça do negócio puro e duro a sua prioridade de existência. Mas a verdade é que mesmo conhecendo o segredo, poucos conseguem beneficiar dele.
Há dois fatores essenciais para chegar ao sucesso. O primeiro é a qualidade da prospeção. Tem de ser necessariamente lenta e rigorosa, paciente e profissional. Há uma sensibilidade própria naqueles que têm por função a descoberta de talentos. São garimpeiros do futebol. Podem passar semanas, meses e anos a peneirar à procura do brilho escondido num jovem jogador de futebol. O maior dos exemplos que podemos apontar é o de Aurélio Pereira que, recentemente, foi homenageado na Gala da FPF. Nem sempre foi devidamente valorizado, mesmo no seu clube de sempre, o Sporting, mas, hoje, é reconhecido e seguido por todos os clubes nacionais.
O segundo fator de sucesso é o da qualidade da formação do homem e do jogador numa perspetiva una e indivisível. Ajudar a formar um caráter, um sentido de vida, uma superlativa valorização do mérito, a convicção de que não há sucesso sem esforço, sem suor, sem sofrimento são aspetos essenciais ao crescimento de um futebolista profissional e, assim, à concretização de uma estratégia de enriquecimento da qualidade do plantel de um clube.
Importante ainda que se diga, no que respeita à prospeção de talentos, que não devem existir fronteiras. No futebol, o mundo é sempre global e sendo importante a descoberta de jovens valores nacionais, não deixa de ser igualmente importante a descoberta de jovens talentos sejam eles de que nacionalidade forem.
O caso de Casper Tengstedt é paradigmático. Um jovem internacional das seleções jovens da Dinamarca que surge no Benfica numa fase ainda inicial de evolução, mas que tem vindo a afirmar potencialidades que justificam a sua escolha. Não é ainda, obviamente, Gonçalo Ramos, mas é bem possível que venha a ser o seu sucessor.