E agora uma coisa completamente diferente

OPINIÃO26.08.202107:00

Pode um sportinguista falar do Benfica de modo desinteressado? Talvez… Mas eu não! Eu quero mesmo perceber o que vai na cabeça de Jorge Jesus

CHEGA sempre um dia qualquer em que uma vitória do Porto ou do Benfica alegra um sócio antigo do Sporting. Há vários motivos para isso; o mais óbvio é a vitória de um daqueles rivais colocar o Sporting em primeiro numa competição, ou mesmo dar-lhe um campeonato. Já aconteceu, e há de acontecer.
Desta vez, havia outro motivo: o facto de Portugal ter três equipas na Liga dos Campeões era importante, sobretudo para se chegar ao quinto lugar do ranking da UEFA e, a partir desse lugar, garantir que terá três clubes do seu campeonato na liga milionária.
O feito conseguiu-se, mas não sem sofrimento e sorte. Na primeira mão o Benfica não mereceu ganhar; em contrapartida, na segunda, não mereceu perder. Mas vamos por partes: se perguntarem a alguém desinteressado quem foi o melhor jogador do Benfica em qualquer das partidas contra o PSV, penso que a resposta quase unânime será Odysseas Vlachodimos, o guarda-redes. Se perguntarem qual o jogador menos elogiado e, até, um pouco destratado por Jorge Jesus (que na época anterior o afastou da baliza encarnada), a resposta é a mesma. E irrita-me não saber porquê!
Em Lisboa, o Benfica marcou dois golos um pouco às três tabelas, que contando na mesma, não são obras de arte (e concordo com Jesus quando ele afirma que não se trata de patinagem artística); em contrapartida, o PSV fez um grande golo e só não marcou mais porque entre Vlachodimos e o azar, tudo aquilo parecia bruxedo. Em Eindhoven, Lucas Veríssimo merecia uma multa pesada por estupidamente deixar a equipa com menos um jogador, logo aos 32 minutos, mas a partir daí, Jesus montou uma boa tática defensiva, centrada em impedir qualquer golo do adversário, os jogadores responderam muito bem, com destaque para Otamendi e, sobretudo, Vlachodimos.
Ora, visto isto e os factos, por que raio não refere o treinador do Benfica, que também já foi do Sporting, recordo, a grande exibição do seu (sublinho seu) guarda-redes? E ponho-me a pensar em respostas terríveis: terá Jesus um estilo de liderança que passa por preferir quem o adula? Terá embirrações inexplicáveis com certos jogadores, mesmo que lhes reconheça talento? Isso pode explicar o facto de ele não ser muito dado a promover jovens, como se viu no Sporting e se vê no Benfica?
Enfim, a resposta é mera curiosidade. Doravante, não podendo ser adversários na fase de grupos da Champions, Sporting e Benfica (como o Porto) competem na Liga portuguesa. Se na Europa quero que todos tenham muita sorte, por cá prefiro que seja o Sporting a tê-la, sendo que um azar por outro do Benfica ou do Porto, no campeonato, também calhava.
 

E AGORA, O SPORTING 

DEIXANDO o Benfica e passando a um clube mais interessante, que obviamente é o Sporting, uma nota prévia para referir o sorteio de hoje da Liga dos Campeões. Estando no Pote 1, ao contrário de Benfica e Porto, no Pote 3, não me parece que o Sporting tenha a vida mais facilitada. Basta ver quem está no Pote 2: Real Madrid, Barcelona, Juventus, Manchester United, PSG, Liverpool, Sevilha e Dortmund. É um pote de campeões crónicos. E mesmo no Pote 3, descontando as equipas portuguesas que não podem ser adversárias ente si, e no Pote 4, há inúmeros adversários de respeito. Como sportinguista, penso que o objetivo do clube deve ser passar à fase seguinte (embora dependa de quem está no grupo). Sendo totalmente realista, e isto é válido para as três equipas do país, não ficar em último e passar à Liga Europa não é um resultado desastroso.
Na frente interna, o falso Belenenses, que felizmente já vai sendo chamado B-SAD, foi despachado com dois golos em Alvalade. Mas podiam ter sido muito mais. O recital de desperdícios foi notável e Paulinho pareceu um anti-Vlachodimos, ou seja, não deixa nenhum guarda-redes brilhar, porque raramente acerta na baliza.
O caso Paulinho é também intrigante. Sendo eu um admirador confesso de Rúben Amorim, que já provou muito mais do que alguém poderia pensar quando chegou a Alvalade; achando eu que as suas escolhas são claras e a sua liderança impecável; reconhecendo-lhe, ainda, um discurso coerente e uma comunicação irrepreensível, não entendo a fixação em Paulinho. Admito, a bem de Rúben e de todo o universo sportinguista, que o jogador faça um trabalho invisível notável; que prenda defesas lá atrás, que abra espaços para outros entrarem e rematarem. Admito isso tudo, mas ainda assim parece-me que precisa afinar a pontaria. Dos sete golos que o Sporting marcou no campeonato, três são de Pote e os outros quatro dividem-se entre Jovane, Gonçalo Inácio, Palhinha e… Paulinho. É manifestamente pouco para o caudal ofensivo que, sobretudo com o Vizela e o Belenenses SAD, o Sporting demonstrou.
Posto isto, o meu desejo é que ele melhore e que faça muitos golos. E que seja devidamente pressionado por Tiago Tomás, que, apesar da juventude, dá sinais de querer afirmar-se e tem tido oportunidades para o fazer.


MEIO-CAMPO E LATERAIS 

N ÃO pode haver melhor notícia do que a permanência no clube de todos os que lá estão agora. Se vai ser assim, ou não, teremos menos de uma semana (até terça-feira) para o saber.
Desde logo, se como foi noticiado Matheus Nunes e Palhinha ficam no Sporting, é uma alegria imensa. Não haverá dois centrocampistas no nosso campeonato que se possam orgulhar de ser melhores e, sobretudo, de terem uma atitude e um entrosamento tão perfeito. João Mário, que no Benfica dá cartas, está praticamente esquecido em Alvalade - e não é, seguramente, por jogar mal.
Na defesa, tudo parece estar seguro. Adán e o recém-contratado Virgínia firmes na baliza; Coates, Feddal, Gonçalo Inácio, Luís Neto e mais uns jovens na defesa. Já os laterais é outra conversa. Aí temos Porro e Esgaio (à direita); Nuno Mendes e Vinagre (à esquerda). A competição é feroz, porque se Porro e Nuno Mendes foram fundamentais nas conquistas do ano passado, Esgaio e Vinagre dificilmente teriam entrado melhor.
Há quem refira que, inevitavelmente, o Sporting tem de vender um jogador (Nuno Mendes) por bastantes milhões. Mas há quem diga muita coisa, como se disse que Dany Mota podia vir do Monza para o Sporting, e uma série de outros nomes; sobretudo, há quem diga que o Sporting não precisa de vender ninguém, coisa que me agradaria muito. Até porque, como disse Rúben Amorim, o papel que desempenham os laterais é muito desgastante, sendo obrigados a correr quilómetros. Ter dois excelentes executantes para cada lugar seria ótimo (sem esquecer Matheus Reis à esquerda e Gonçalo Esteves à direita, que já são de recurso).
Depois os extremos, Pote, Nuno Santos e Jovane são fantásticos (para o primeiro, nem há palavras) e do ponta de lança já falámos.
De que precisaria a equipa, a meu ver, se houvesse dinheiro? (e se o Rúben estivesse de acordo, porque eu além de não ter curso de treinador, não percebo mesmo quase nada disto): de um defesa central que, além de Neto, possa substituir qualquer dos outros; e de um ponta de lança mais afinado, um striker, com sentido de golo. Se como estamos já temos equipa para disputar com honra e vitórias as competições onde nos encontramos, com duas contratações destas poderíamos sonhar na Europa.
 

Vlachodimos foi decisivo nos dois jogos para a chegada do Benfica à fase de grupos


CONFERENCE 

É mais do que justo, independentemente dos resultados desta noite, que se reconheça a carreira impecável de Paços de Ferreira e Santa Clara na Conference League, aliás com custos internos. Vencer o Tottenham em Paços, e mesmo o Partizan de Belgrado, nos Açores, é digno de registo e louvor. 


CENTÍMETROS 

Aos 62 minutos, Zahavi, o israelita do PSV, disparou uma bola que bateu na trave da baliza defendida pelo Benfica. É curioso pensar o que uma bola à trave provoca. Se entrasse, poderia o PSV passar a eliminatória, deixando Jesus em maus lençóis e Rui Costa, o presidente interino, com menos possibilidades de ser presidente efetivo. Isto é tudo uma questão de centímetros. 


BARREIROS 

Era o nome do Estádio do Marítimo, hoje é um batatal. Mas, em boa verdade, acho inacreditável obrigar uma equipa como o Porto a jogar naquele terreno para, no dia seguinte, o interditarem. Não se entende que antes de um jogo contra um candidato ao título, não se investigue se está tudo em ordem.