Do pó das dunas para as nuvens celestes

OPINIÃO17.01.202003:00

Gilberto Duarte e o 6x7

Simplesmente incrível a qualificação de Portugal para o Europeu de andebol! A vitória sobre a França, em especial, assumiu contornos épicos. Mas duas notas devem ser exaradas: i) a seleção disputou toda esta fase sem poder contar com aquele que é reconhecido como o melhor jogador português - Gilberto Duarte; ii) a equipa nacional deve ser aquela que hoje em dia melhor pratica o 6x7, isto é, jogar sem guarda-redes para ter mais um jogador a atacar. O que só sucede porque é assim que o sueco Magnus Anderssson ensinou o FC Porto a jogar.

Paulo Gonçalves

Do pó das dunas do deserto para as nuvens celestes. Sempre a acelerar. Obrigado, campeão!

Takumi Minamino

Takumi Minamino é um jogador japonês que realizou toda a formação no Cerezo Osaka, o clube japonês de onde também saiu, entre vários outros, Kagawa (que jogou cinco épocas no Borussia Dortmund - onde chegou pela mão de Jurgen Klopp - e três no Manchester United). Nesta temporada, com o emblema do RB Salzburgo, que representou desde 2015, apontou cinco golos e operou seis assistências na liga austríaca. Agora, a troco de 8,5 milhões, Minamino, 22 vezes internacional pelo Japão, acaba de  ser escolhido por Klopp para reforçar o fortíssimo Liverpool, a actual melhor equipa do mundo. Aposto singelo contra dobrado que no fim do ano estarão todos a pensar como é que Klopp descortina coisas que escapam sempre aos seus rivais. Talvez estes achem o preço do nipónico demasiado baixo para sequer repararem nele.

Canelas

Bravíssimo Canelas! Como gostaria que tivesse conseguido alcandorar-se a um plano ainda mais notável - as meias-finais da Taça de Portugal. Mas, por outro lado, é melhor tal feito ficar para  o próximo ano. É que, como as coisas estão agora lá pelos lados do Dragão, o Canelas ainda incorria no risco de dar cabo dos rapazes da casa-mãe…

Joker

Acaba de ser conhecido mais um estudo da prestigiada consultora e auditora Delloitte sobre os valores do mundo do futebol. Concluiu o mesmo que o FC Barcelona passou a ser o maior clube de futebol do mundo em receitas geradas (840,8 milhões de euros). Integram também este particular top dos cinco clubes com maiores receitas o Real Madrid (757,3M€), o Manchester United (711,5M€), o Bayern Munique (660,1M€) e o Paris Saint-Germain (635,9M€). Não cabem, portanto, neste inner circle, conjuntos como o Liverpool e o Manchester City, muito provavelmente as duas melhores equipas do planeta, ou até a Juventus.
Apurou-se também - sem surpresa alguma, diga-se - que as receitas de transmissões televisivas constituem, de longe, a maior fonte de receita individual (44% do total).
Disse a este propósito o sócio da Delloitte na área de Sports Business: «O crescimento da indústria do futebol continua a ultrapassar os outros setores e os clubes no top-20 da Money League geraram no total, pela primeira vez, mais de 9 mil milhões de euros de receitas em apenas um ano. O que é notável nesta edição é a aparente emergência do aparecimento de ‘mini-ligas’ dentro da própria Money League, com os clubes com mais receitas a distanciarem-se cada vez mais dos restantes.”
No que diz respeito aos clubes portugueses, o SL Benfica encontra-se no 24.º lugar (197,7 milhões de euros de receita total) e o FC Porto na 29.ª posição (176,2 milhões de euros). Conclusão: não há coincidências. Mas apesar de tudo o futebol não deixa de ser um jogo. Logo, com uma dimensão aleatória. Donde, os mais ricos, quando começa a competição, não serem, necessariamente, proclamados como vencedores concluídos que sejam os torneios.

Entrevista Imaginária

- Mais uma janela de transferências e mais uma resma de supostos reforços. Mas são só reservas e reservas das reservas. Não há limites para o desperdício e para o despautério? Porquê e até quando esta sobrelotação do plantel? Isto tudo tem de ter um fim - ou não?
- Ena! Tantas perguntas para uma só resposta. E, porém, esta é de uma clareza meridiana. Na verdade, tudo se resume a gerir o plantel como quem gere o Hotel de Hilbert. A matriz é exactamente a mesma: há sempre lugar para mais um!
- E eu a pensar que os hotéis só serviam para os estágios antes dos jogos… mas afinal que hotel é esse de que nunca ouvi falar?
- É um hotel que está sempre lotado, com um hóspede em cada quarto. E de cada vez que chega algum novo cliente o gerente solicita a todos os hóspedes que se mudem para o quarto imediatamente ao lado. Desta sorte, o hóspede do quarto 1 muda para o quarto 2, ao passo que o hóspede do quarto 2 fica com o quarto 3 e assim sucessivamente… ou seja, o hóspede do quarto N deve mudar para o quarto N+1. Logo, apesar de estar constantemente lotado, no Hotel de Hilbert há sempre vagas. Só existe um único problema neste modelo: para transferir o hóspede do quarto 1 para o quarto 2 este deve estar livre. E para o mesmo estar livre o quarto 3 deve estar livre também para o hóspede transferido do quarto 2. Por isso, o tempo de espera para disponibilizar o quarto 1 seria infinito, já que para tal acontecer também o enésimo quarto deveria passar a estar livre. Fui claro o suficiente ou ficou ainda com alguma dúvida?
- Sobre quê?
- Sobre quê? Sobre o que haveria mais de ser? Evidentemente que sobre este famoso paradoxo de Hilbert!
- Que quarto me recomenda?
 

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