Do FC Porto para o Inter...

OPINIÃO12.04.202306:30

O FC Porto ganhou ao Benfica porque o que houve no FC Porto não houve no Benfica (e o Benfica também não teve contra o Inter...)

PARA lá de tudo aquilo que já se disse e se escreveu (de forma mais direta ou  mais prosaica) - o que eu acho é que o FC Porto ganhou ao Benfica porque o que houve no FC Porto não houve no Benfica: a velocidade certa e a dinâmica necessária, a força e a astúcia - e mais. E nesse mais houve uma equipa (toda ela, a começar no seu treinador) com uma personalidade vulcânica e poderosa, agitadora e espicaçante a deixá-la (à equipa) sempre mais próxima de ganhar o jogo, ganhando-o não por querer esperar por ele (e pelas suas vicissitudes) mas por querer determiná-lo.  

É, o FC Porto ganhou ao Benfica porque o que houve no FC Porto não houve no Benfica: um futebol em que o golo nunca deixou de ser mais desejo do que obrigação - com uma equipa (toda ela, a começar pelo seu treinador) a procurá-lo em ousadia, através de um jogo despojado de frivolidades, através de um jogo feito de matreirice e dentes afiados (mesmo que, amiúde, não o parecesse). E sem nunca deixar de ter, como verdade sagrada na sua ideia de jogo, a ideia de que, numa equipa (a começar no seu treinador), um sozinho nunca é suficiente… 

O FC Porto ganhou ao Benfica porque o que houve no FC Porto não houve no Benfica: um futebol sempre a encher-se da vontade de vencer e da esperteza para o conseguir (mesmo quando já estava a ganhar) - jogando cada momento do jogo não apenas para a manchete do dia seguinte mas também  para desafiar a sua história e, sobretudo, o seu orgulho.

O FC Porto ganhou ao Benfica porque o que houve no FC Porto não houve no Benfica: um futebol a nunca deixar de ser o que foi da cabeça aos pés da equipa (a começar no seu treinador): uma empolgada batalha psicológica, em que as suas manobras (por mais ou menos subtis ou sorrateiras que fossem) podiam não aterrorizar o adversário - mas abalaram-no, desconcertaram-no.

O FC Porto ganhou ao Benfica porque o que houve no FC Porto não houve no Benfica: uma equipa (a começar pelo seu treinador) a atirar-se ao jogo sem que fosse para o jogar dentro de dois preservativos. Aliás, melhor:  uma equipa (a começar no seu treinador) que nunca teve dentro de si um jogador que atirando dois olhos à janela - por um  olho visse a lama e pelo  outro olho visse estrelas. O que teve, pois, sempre (do treinador ao jogador) foi quem atirando os dois olhos à janela do jogo em vez de lama só visse estrelas, as estrelas que não lhes permitiam embrulharem-se nas suas sombras - e que se, por vezes, elas lhes fugiam, logo procuravam, lestos e afoitos, criar outra, a céu aberto, para lhe iluminarem o jogo (e o desafio).

Acabando, pois, na Luz, tudo como bem se sabe - o que se esperava era que, contra o Inter, o Benfica fosse um Benfica diferente. Mais à imagem do que fora até à sua sexta-feira de cinzas: uma equipa intensa, pressionante, dinâmica, a procurar bola e a saber o que fazer bem com ela. E a não deixar que o adversário largasse pelo campo o melhor de si. E não, não foi, de novo, nada disso.

Não foi nada disso - nem foi  equipa (a começar no seu treinador) capaz de usar o talento e a audácia para fugir a becos sem saída, para romper com o jogo a arrastar-se por rotina frouxa. Não foi equipa (a começar no seu treinador) capaz de mostrar coração mais quente, cabeça mais fria e pé mais certeiro. Não foi equipa (a começar pelo seu treinador) capaz de ter espalhar pela relva o esplendor que se lhe viu ao longo de todos estes últimos meses - na destreza para dar ao seu jogo um melhor critério e um melhor movimento. Não foi a equipa capaz de puxar pelo frenesim ou pela arte do engano que esfarrapasse adversários e marcações (tão à italiana). Não foi equipa que tivesse (por mais fugaz que fosse) o que já não tivera com o FC Porto: jogador que com matreirice na cabeça ou GPS nas chuteiras a levasse pelo melhor caminho para o golo (golo seu ou não) sem se perder por alçapões ou sem se enganar por atalhos. E assim, deixou que o Inter fosse o que foi tão tranquilamente: a imagem perfeita da traiçoeira equipa italiana…