João Rego (foto Miguel Nunes)
João Rego (Miguel Nunes)

Devíamos todos ser mais João Rego

OPINIÃO10:01

O que têm em comum o jogador do Benfica e o cantor Bad Bunny? Levar-nos para a frente. 'Para lá da linha' é uma opinião semanal

Tem sido um início de 2025 difícil para mim e muitas pessoas que usam o comboio da ponte 25 de Abril para ir trabalhar. Sempre fiz a viagem em pé com apenas nuance entre o apertado e o muito apertado – exceto no verão, adoro-te agosto! -, mas o horário mudou e a oferta de carruagens, em hora de ponta, é manifestamente curta, pelo que, por vezes nem dá para entrar. Há seguranças na plataforma a tentar colocar as pessoas dentro e acalmar as que ficam fora. Já me enervei, atrasei, barafustei, mas pensei ser mais zen.

A empresa prometeu rever a posição e na última sexta-feira apostei em deixar de ouvir o habitual podcast falado que me acompanha nas viagens, pelo novo disco do porto-riquenho Bad Bunny. Pensei deixar as confusões para trás e alhear-me com os ‘phones’ ao som de Benito, descobrir o seu disco, coisa já tão rara hoje em dia, ouvir um disco do início ao fim. Ainda não ouvi tudo, porque felizmente a viagem é curta, porém já sei que «BAILE INoLVIDABLE» vai ser a música mais ouvida no meu Spotify em 2025 (desculpa Karol G, até chegaste às preferidas do ex-presidente Barack Obama).

Mas sexta-feira ainda tinha mais um sinal de que estaria na pista certa.

80 minutos no Benfica-Famalicão. Resultado em 3-0, tranquilo para os encarnados. Uma substituição de Bruno Lage, treinador do encarnados, faz entrar João Rego, fresco nos seus 19 anos, camisola dentro dos calções a obrigar a lembrar ídolo recente das bancadas. No minuto seguinte fez magia.

Aproveitou um mau controlo de bola de Rochinha, pegou na bola, ultrapassou-o, resistiu a um puxão do mesmo Rochinha com as duas mãos nos ombros, depois uma rasteira, deixou Rochinha para trás, correu com a bola no pé, olhou e centrou para Arkturkoglu, que de calcanhar deixou para Kokçu fazer o 4-0. Um golo que nasceu da vontade daquele miúdo em fazer alguma coisa, criar, não desistir.

Quando voltar a enfrentar a plataforma ferroviária, vou ser mais assim. Sem receio de não entrar, de não acontecer. Bad Bunny e João Rego virão comigo, e juntos não haverá carruagem apertada que nos vença.