Desafios do imediato
Pirotecnia pode voltar a sair cara ao Benfica (Maciej Rogowski/IMAGO)
Foto: IMAGO

Desafios do imediato

OPINIÃO16.11.202309:20

Se os clubes cultivassem um ambiente de competitividade, de respeito, o próprio jogo tornava-se muito mais admirado e seguro

Na última jornada da Champions o futebol foi maltratado, em alguns locais, e deixou uma imagem lamentável que exige medidas justas e decisivas. Os resultados, com mais ou menos sorte e eficácia, têm de ser o essencial da competição: jogar para tentar ganhar, e saber perder e vencer. E no espaço do jogo, apesar de alguns praticantes exagerarem nas atitudes indevidas, os adeptos são essenciais para apoiar a sua equipa, assim como o adversário dever fazer o mesmo. Quando a violência extravasa o espaço que as bancadas nunca podem assumir deixamos de ter desporto e passamos a ter arenas.

Há grupos de adeptos, com a camisola do fanatismo, que além de destruição causam problemas aos clubes que serão multados, ficando o clube como pagador. Acontece em muitos países, contudo interessa-nos salvaguardar o entendimento para nunca se cair no exagero que acaba por penalizar o clube, obrigando ao pagamento de quantias que fazem falta para manter equipas competitivas.

No jogo da Real Sociedad, o líder basco afirmou: «O presidente do Benfica está envergonhado e pediu-me desculpa (…) Estamos a falar de delinquentes que lançam tochas e que muitas vezes nem são sócios do clube». Os avisos aos encarnados (infelizmente, como de outro clube qualquer) não foram respeitados, alguns foram identificados nas imagens e a UEFA vai multar com grande rigor. A imprensa espanhola, que circulou pela Europa e não só, destacou «As tochas da vergonha», falando da violência dentro e fora do estádio, bem como dos confrontos antes do jogo.

O comportamento dos adeptos do Braga quando receberam o Real Madrid também foi excessivo e a pirotecnia obrigou a pagar multa de oito mil euros que deveriam ter destino mais útil. E estas situações acontecem na maior parte dos jogos, o que nos obriga a repensar metodologias que valorizem o jogo e nunca a violência invasora. Se os clubes cultivassem um ambiente de competitividade, de respeito, com formas de apoiar como cânticos de apoio, cartazes e encenações, o próprio jogo tornava-se muito mais admirado e seguro.

O treinador do cube da Luz assumiu que o «jogo provou uma grande diferença entre nós e eles. Estiveram melhor que nós em intensidade, foco e união». Aproveitando para reflexão, mesmo com equipas mais fortes, é possível criar estratégias que reduzam diferenças de qualidade, com mais entreajuda, velocidade e união para fechar espaços que dificultem a progressão de equipas mais fortes. Além disso, os jogadores, se beneficiarem do apoio integral dos adeptos, conseguem ir mais além, sabendo que todos na bancada estão a apoiar de princípio ao fim.

A diferença do valor dos plantéis é argumento de peso, contudo há treinadores que, mesmo com equipas menos fortes, conseguem um ambiente de confiança que surpreende muitas vezes. Esta jornada europeia teve resultados muito bons para alguns (FC Porto e Sporting), contudo outras equipas (Benfica e Braga) tiveram adversários muito poderosos, ainda por cima sofreram golos e oportunidades madrugadoras, bem como falhas nos primeiros minutos; mas mesmo assim conseguiram lutar até ao fim com dignidade.

Para se conseguir alcançar resultados nas competições europeias, com os plantéis possíveis, temos de criar um futebol mais rápido, mais intenso, com organização defensiva atenta, sem quebras de tempo por simulações e com o foco na dinâmica para marcar os golos indispensáveis, substituindo a circulação sem progressão por uma atitude de maior velocidade, incluindo remates de fora da área, tendo sempre o foco na baliza adversária. Mesmo com diferença de valores entre as equipas, há sempre uma oportunidade para surpreender, caso todos estejam confiantes e decididos. E essa mudança de qualidade tem de começar desde as camadas jovens.

Por outro lado, basta analisar o nome da lista dos clubes na Liga Conferência para questionar a razão porque os clubes portugueses são eliminados precocemente: falta de planeamento da FPF ou desinteresse dos clubes? Aí reside um espaço que deveríamos refletir para conseguirmos mais pontuação, mais encaixe financeiro pelas vitórias, porque há capacidade, só falta preparar com antecedência. Para além das análises e comentários de vários destinos, importa ter uma visão global estruturada com definição de prioridades, algo que nunca foi feito com rigor em continuidade. Nesta jornada europeia, FC Porto e Sporting conseguiram vencer e subir na classificação, enquanto Benfica e Braga, mesmo contra adversários muito fortes, ficaram aquém do esperado: a ambição é uma luta diária com raça.

A deslocação de um presidente ao balneário no intervalo, com um resultado infeliz, para exigir uma reação imediata, pode ter efeito contraditório e desvaloriza o treinador, o que é lamentável e infeliz.

Liga

Aemoção é presente, embora a qualidade do jogo não seja a mais elevada. Perde-se muito tempo sem nexo e falta uma consciência coletiva para elevar a qualidade do nosso futebol para outras dimensões que sirvam de exemplo. Contudo, para isso se conseguir, é imprescindível um jogo mais rápido, criativo, sem tantas paragens e teatro fora dos palcos. Só com uma mentalidade que valorize a competição poderemos acrescentar prestígio e admiração externa, porque talento nunca foi raro no nosso país.

A arbitragem carece de competência e imparcialidade, numa ação que nunca pode ser protagonista. É tão fácil, basta querer, saber e ser independente.

Na última jornada, em Guimarães, valeu a raça de todos para manter a dúvida até ao fim: Vitória marcou primeiro, mas os azuis e brancos conseguiram vencer por 2-1, com mais uma grande penalidade por marcar, porque Pepe foi agarrado dentro da área vimaranense e todo o estádio viu, menos o VAR e a equipa de arbitragem.

O Estoril voltou a revelar o potencial e venceu por 4-0 o Casa Pia, que teve como consequência a saída do treinador casapiano, com sentido agradecimento. O Vizela-Famalicão não teve golos. O Portimonense venceu por 2-1 o Chaves, que acordou um pouco tarde. O Moreirense foi ganhar ao Estrela da Amadora por um golo solitário, subindo ao quinto lugar. O Boavista recebeu o Farense, com o resultado igual a um golo, contudo após os 90’ o Farense conseguiu mais dois golos. O Rio Ave foi jogar a Barcelos com um jogo mais consistente e o resultado foi um empate a um golo. O Arouca, a precisar de vencer, perdeu com o Braga por 0-1, num lance de desatenção de um médio.

O dérbi de Lisboa colocou frente a frente o Benfica e o Sporting, num jogo de grandes emoções; Sporting controlou o jogo, criou oportunidades e ao terminar a primeira parte Gyokeres marcou um golo excelente. No reinício, Gonçalo Inácio foi expulso, embora o Sporting, com as alterações efetuadas, continuasse a controlar o jogo, mas o Benfica passou a ter mais bola e lances de perigo. No prolongamento, em três minutos, Sporting quebrou e Benfica (com a sorte do jogo) obteve dois golos e venceu o dérbi: 1-2; a arbitragem teve alguns lapsos que acabaram por ter influência no resultado.

Seleção Nacional

Para o lugar de Pedro Neto foi convocado Bruma. Dos 26 jogadores escolhidos inicialmente ficaram só 24 (por lesões de Pepe e Leão, sem convocar alguém, Nélson Semedo que foi substituído por Raphael Guerreiro e Diogo Dalot saiu e entrou João Mário). Portugal apresenta 7, Inglaterra 8, Arábia Saudita 3, Itália 1, França 2, Alemanha 1, Espanha 2. O selecionador convocou pela primeira vez o Bruma e o Matheus Nunes, deixando também impressões de mais atletas que estão a ser acompanhados para se conseguir uma equipa sempre mais forte. Na concentração para os dois jogos que vamos ter (contra o Liechtenstein, em Vaduz, hoje, e contra a Islândia, em Alvalade, no dia 19), deseja-se concluir esta fase só com vitórias. Assim, dos 26 convocados, só 24 entram nesta convocatória.

Remate final

A grande afluência à Assembleia Geral do FC Porto obrigou a adiar a reunião para o próximo dia 20. Unir o clube é imprescindível, valorizando a herança acumulada, descobrindo novos contributos e rumos para um futuro promissor, sem violência. 

Francisco Conceição, na equipa principal do FC Porto, no jogo contra o V. Guimarães, marcou o golo da vitória. Rodrigo Mora, no sábado passado, em Penafiel, tornou-se o jogador mais novo a marcar um golo na Liga II, com 16 anos, seis meses e seis dias.