De sorriso amarelo...

OPINIÃO16.06.202306:35

Negócios, avales e fianças, conversas e mentiras como as cerejas

NA verdade, temos quase a certeza de que estamos aqui satisfeitos numa hora de recreio do futebol, período de tempo em que se ouvem as mais estranhas conversas e mentiras como as cerejas. Compras e vendas de carne humana como nos tempos medievais. Os euros deixam de ter cotação, fala-se em milhões como se fossem só quarteirões, avales e fianças são o pão nosso de cada dia, compra-se e depois vemos como se paga ou se se paga.

O vermelho nas contas bancárias é a cor da moda, enquanto os juros são à cabazada. No lusco-fusco das salas de contabilidade, os tesoureiros e os secretários procuram fazer de um zero um mil, para ver se o erro passa aos fiscalizadores das contas quando da inscrição nas provas do clube. Nesta hora há muita gente que não desceu de divisão, mas ainda não festejam porque o dois e dois das contas não pode dar quatro mil…

Começamos pelo Estádio da Luz, onde ainda nem todos aterraram para a realidade. Saiu Grimaldo a custo zero, entrou Kokçu por milhões e mais milhões, batendo o máximo registo do abrir da algibeira dos encarnados. E muito mais há para anunciar quanto a saídas e entradas, esquecendo como será o amanhã e, como já se fala, com receio, de Schmidt travar o crescer dia a dia da revelação da época que findou, do pequeno gigante que é o João Neves. O Gonçalo Ramos irá falhar golos para outros lados, mas à custa de bom dinheiro, enquanto se procura um goleador a preceito e com Musa a continuar o homem a dias.

Rui Costa vai mostrar se é também bom negociador e comprar bom e barato, sem alimentar as sanguessugas dos agentes, dos angariados e dos primos destes.

Damos um salto até ao Porto, ao mundo do sempre maldisposto Sérgio Conceição, eterno cidadão zangado com o mundo. Ainda não se sabe se irá pregar a sua doutrina para o estrangeiro, mas tendo-se em consideração que o homem sabe bem do seu ofício e de gente raquítica faz atletas de eleição, só se tendo enganado no bracarense David Carmo, que custou uns bons milhões. Lá calha. O presidente Pinto da Costa, a par de ultimamente ter partido uns porquitos para retirar uns trocos e comprar uns milhares de acções, mostrando que é um cidadão que sabe dar valor nem que seja a um euro.

Vamos lá ver se ele dá instruções ao financeiro da SAD Fernando Gomes para não falar demais e procurar arranjar maneira de fazer umas compras sossegando e calando o treinador, tarefa difícil porque o fim de junho está a bater à porta e os senhores da UEFA ou da FIFA estão sempre prontos para marcar penalty. Vamos lá ver se o dragão arranja combustível para continuar a deitar fogo.

Há, também, quem esteja interessado que o grande jogador Otávio aproveite as férias para fazer um retiro para limpeza dos seus impulsos de misturar classe futebolística com mau génio. Aliás, o seu capitão, o ancião defesa Pepe, que nos seus 40 anos ainda não ganhou consciência que o futebol se joga com o chutar duma bola e não das pernas dos adversários. Ainda no jogo da final da Taça de Portugal, com outro árbitro que não fosse o amedrontado Pinheiro de Braga, aos cinco minutos, Pepe já teria recebido ordem de expulsão. Mas não aconteceu. Ele era preciso para erguer a Taça…

Vem depois o Sporting com um Rúben Amorim com dificuldade em ultrapassar a sua bipolaridade na formação do seu plantel. Vem um que vai ser promissor, mas logo vem outro para o lugar daquele, adormece, sonha e acorda para arranjar posição certa para o Pote e maneira de fazer de Paulinho um Halland.

Consome a vida do presidente Varandas, mais interessado em vender do que em comprar. Como médico quer curar e fortalecer a sua equipa com antibióticos e fortificantes e não com intervenções cirúrgicas que às vezes correm mal…

Tinha as contas bem feitas com o dinheirinho que viria, mais uma vez, da Champions, mas tudo falhou, da cabeça aos pés da equipa leonina, o que levaria a que o treinador também tivesse perdido o norte e uns dias ficava e outros talvez não… Agora anda à procura de um 6 e de um 9, números que lhe podem permitir que o 6 passe a 9 sem notar na camisola.

Em Braga mora a desilusão, embora se diga o contrário. O presidente Salvador não perdeu tempo, depois da derrota no Jamor, que a equipa foi mal preparada e dirigida. Certamente não estava a falar para o porteiro… Agora anuncia-se que o treinador Artur Jorge já ultimou o seu relatório das tarefas executadas, preenchendo várias folhas com o resultado do seu trabalho e com as suas exigências para o futuro. Ele sabe bem que os santos da casa não fazem milagres e está à espera que o presidente e o homem das Arábias digam de sua justiça, ao mesmo tempo que a Horta do Ricardo, muito mortiça com a seca do final do campeonato, espera que amanhã venham boas notícias de Espanha, embora sabendo que a Luz se apagou para as suas ambições.

A notícia do momento é a vontade da FPF para que se altere o mundo da arbitragem, tornando a mesma independente da entidade federativa ou da Liga, regressando à saudosa Comissão Central de Árbitros, constituída por gente independente e que nunca vestiu um equipamento preto e teve um apito na boca.

Lembramos o eng. Sousa Loureiro, um cidadão da Foz do Douro, no Porto, e que se impôs à frente de tão importante organismo, desconhecendo as cores dos clubes e só tendo os olhos bem assente no trabalho dos filiados. As boas intenções de Fernando Gomes & Cª. e o sim do presidente Proença, certamente que vão esbarrar na vontade dos clubes que perderão a possibilidade de fazer o seu jogo de interesses, querendo que os árbitros continuem a ser o pára-raios dos maus resultados, ainda por cima com uma comissão de análise para a elaboração da proposta com a presença da gestão actual da arbitragem e doutras personalidades que não são alheias às mesmas, com Duarte Gomes com credenciais para exercer a função. Mas só ele. Porque não foram convidadas figuras que não estão maculadas com o universo dos apitos?

Voltarão a entrar no baile das confusões as novas sociedades desportivas e aquelas que já existem. Empresas (?) que na maioria são a razão da criação de ninhos de movimentação de dinheiros desconhecidos na sua proveniência, saídos das mãos de gente que também pouco se conheça da sua idoneidade no âmbito desportivo e até da sua identidade, gente vinda até dos confins da Ásia, outros com interesse em agências de apostas desportivas. O secretário de Estado do Desporto terá de andar lesto a solicitar aos deputados na Assembleia da República para apressarem a discussão e aprovação da nova legislação que se pensa irá moralizar os negócios do futebol.