Cristiano Ronaldo em alta ansiedade

OPINIÃO03.12.202205:30

Cristiano está demasiado ansioso para ter, neste momento, a lucidez própria dos homens-golo. Todos desejamos que ache o caminho...

ELE tem uma fama universal, dinheiro não lhe falta, uma coleção milionária de automóveis de luxo, passeia de iate, voa num jato privado e, além de tudo isso, possui alguns dos maiores títulos individuais e coletivos do mundo. E, no entanto, é humano.

Falo, como já terão percebido, de Cristiano Ronaldo. As coisas não lhe estão a correr como desejaria. Conhecendo-o, mesmo que não seja íntimo, percebe-se isso em cada gesto de desespero, em cada esgar de desilusão, em cada atitude de revolta, com ou sem explicação politicamente correta.

O que Cristiano Ronaldo verdadeiramente queria deste seu último Mundial é que a Seleção portuguesa o ganhasse, claro, isso nem se discute, mas, sobretudo, que ele pudesse provar aos olhos do mundo que continua a ser grande como os maiores. Um fenómeno que aos 37 anos de idade ainda conseguisse marcar, com a sua presença, um Mundial de futebol.

Não só não tem acontecido, como haverá quem comece a admitir que no caso do Manchester United a razão possa estar do lado de Erik ten Hag, não na atitude de desrespeito e até de humilhação com que pretendeu castigar CR7, mas na decisão de não o ter considerado, em muitos jogos, um titular indiscutível.

Acredito que Cristiano Ronaldo ache tudo isso uma profunda injustiça e, pior, uma traição. Aceito, como natural, que Cristiano tivesse a esperança de provar o erro do holandês, através de grandes exibições e de grandes golos neste Mundial. O problema é que à medida que as oportunidades se vão esvaindo em lances de golo desaproveitados, sobe a níveis demasiado elevados a tensão e ansiedade que é a maior das inimigas da lucidez no momento exato do golo e da autoconfiança que um goleador nunca pode perder.

Cristiano está interessado no jogo, motivado pelos objetivos, mas não tem a lucidez necessária ao homem-golo. Falha em gestos técnicos que nunca antes o vi falhar. Torna-se demasiado agradecido quando lhe passam uma bola e demasiado agreste quando a não passam. Fica irritado, tal como o vimos ontem, quando o selecionador o retira de campo, até em sua defesa, gerindo o desgaste físico e psicológico do jogador num jogo em que nada lhe saiu bem e onde até teve a infelicidade de deixar ressaltar uma bola nas suas costas para o primeiro golo adversário.

É dos livros. Quando estamos em dia não, nada nos sai bem. Seja no futebol, seja em qualquer outra atividade ou da vida.

Tudo isto apenas prova duas coisas: a primeira, que Cristiano não admite que já não possa ser, por inteiro, o que foi e o que gostaria de continuar a ser; a segunda, que Cristiano é um guerreiro que nunca se irá render e que lutará até à última gota de suor pela sua ambição, pela sua eterna sede de conquistas e de sucessos.

Como se resolve este problema durante um Campeonato do Mundo? Não sei nada de psicologia e, por isso, não ficarei aqui a dar palpites. Acho que todo o grupo pode ajudar e a equipa técnica liderada por Fernando Santos pode continuar a dar-lhe o inestimável apoio que sempre lhe tem dado, mesmo quando, por vezes, nos parece mais de caráter pessoal do que técnico.

Mas é verdade que todos devemos a Cristiano o desejo mais ardente de que, de repente, como que por artes mágicas, ele encontre, de novo, o caminho do golo, o caminho da alegria e da felicidade e, assim, o caminho da vitória e do sucesso da Seleção Nacional. Cristiano merecia sair em glória e os portugueses mereciam ter mais uma razão para acrescentar dimensão ao mito que, no futuro, fará de Cristiano uma das figuras mais estimadas e admiradas da História de Portugal.
 

OS ALEMÃES NÃO VÃO PERDOAR

Não é a primeira vez que surgem suspeitas de resultados combinados ou facilitados em fases finais do Campeonato do Mundo. O caso mais célebre, escândalo universal, foi o jogo dos 6-0 no Argentina - Peru, com a seleção da casa a ultrapassar o Brasil pela diferença de golos e depois da FIFA ter alinhado com uma conveniente mudança de horário dos jogos. E agora, por muito que os espanhóis se esforcem por provar inocência, os alemães não vão perdoar a forma displicente como a Espanha aceitou tão docemente a surpresa japonesa.
 

PAGOS A ÁGUA NO DESERTO

Quando se discute, em Portugal, introduzir, ou não, na Constituição da República os direitos dos animais, surgem, do Catar, mais motivos de preocupação sobre direitos fundamentais, porque parece haver uma exploração desenfreada de camelos. Os pachorrentos animais andavam lá na sua vida, longe de preocupações do universo do futebol, mas foram apanhados nas curvas do deserto com um aumento avassalador de novos utentes de todas as nacionalidades. O trabalho dos camelos tornou-se brutal e só têm direito... a água.