Coração, a epopeia de Braga e as coisas que mudam

OPINIÃO29.04.202107:00

Vamos andar até ao fim do campeonato com o coração nas mãos; não só sportinguistas, como portistas, benfiquistas e até bracarenses. É uma emoção como há muito não se vivia

JÁ vos falei do modo como ia morrendo durante o Sporting-Belenenses. Na semana passada descrevi-o recorrendo a um texto que aqui publicara José Dias Ferreira, que melhor do que ninguém explicou o que é o sofrimento de um sportinguista.  Tinha ele admitido que desligara a televisão durante o Farense-Sporting, no passado dia 16, por medo de lhe dar um fanico (e ainda por cima fazia anos no dia seguinte). Felizmente, o Sporting aguentou um 1-0 construído por volta dos 35 minutos por Pedro Gonçalves. E eu, ao contrário de Dias Ferreira fiquei a sofrer até ao fim.
No jogo em casa contra o B-SAD despedi-me praticamente da vida ao ver-nos a perder 0-2. Como aqui deixei registado, escrevendo a custo, já perto da meia-noite, não acreditei (eu pecador me confesso) que conseguíssemos sequer meter um golo, quanto mais empatar. Bem, isso  foi até Coates, aos 83 minutos, marcar o golo. Nessa altura voltou-me a esperança, mas não me baixaram as palpitações. E, quando aos 90 mais uma série deles, Jovane concretiza o penálti vi-me a comemorar um empate com o Belenenses, em Alvalade.
As coisas mudam, como diz o título do filme (1988) de David Mamet com Joe Mantegna, uma comédia que o The New York Times considerou genial, e que se baseia, precisamente, na troca involuntária de papéis, quando um engraxador é confundido com um patrão da máfia numa reunião de mafiosos (isto de máfia e futebol é coisa que tratarei a sério, mais à frente). Por ora, voltemos ao facto de se comemorar um empate em casa. É estranho… Não teria o Sporting a obrigação de vencer uma equipa claramente mais fraca? Claro que sim, mas a circunstância de, a sete minutos do fim, se estar a perder por dois e chegar ao empate, é um feito de raça que vi com o coração aos saltos, do princípio ao fim.
Em Braga… mas em Braga, meu Deus! Aos 18 minutos estávamos a jogar com 10, após dois amarelos a Gonçalo Inácio. Faltava quase tudo para jogar. Os bracarenses carregavam e Coates, Adán e o resto da equipa defendia. Paulinho defendia, Pote defendia, Nuno Santos defendia… Jamais uma equipa defendeu tanto e com tanta competência desde… o que me vem à memória é a defesa do Castelo de Faria pelo filho do Alcaide, Nuno Gonçalves. Resistência aos castelhanos que invadiram Portugal pelo Minho, quando o Alcaide exortou o filho à não rendição.
Nem esta história, ou lenda, aprendida na minha 3.ª ou 4.ª classe me preparou para o que foi o jogo. E, às tantas, zás! Fiz o que Dias Ferreira já tinha feito: mudei de canal. Mas tive tanta, tanta, sorte que quando fui espreitar o que se passava à Sport TV, vejo um livre a favor do Sporting, no meio-campo do SC Braga. Pedro Porro, com um passe de génio, ao que parece engendrado nos treinos, mas decidido ali no terreno por ele, coloca a bola em Matheus Nunes e este remata com toda a alma, corpo e vida, colocando a bola entre a trave mais próxima e o guarda-redes bracarense, também ele Matheus de seu nome.
 

Matheus Nunes marcou em Braga


ÁRBITROS E ÁRBITROS

EXISTEM árbitros bons e maus, alguns que têm azar, outros que têm sorte. Artur Soares Dias, que apitou o SC Braga- Sporting, descortinou uma falta sobre Tiago Tomás que não existiu. Mas foi essa falta que originou o livre, que deu o golo. É verdade, não o quero esconder, porque isso nada tem a ver com o que vi (e não vi) do jogo. Após o golo, o Braga voltou a carregar, talvez com menos discernimento, mas mais vontade. A eles o resultado afigurava-se-lhes injusto; eu não aguentava. Voltei a mudar de canal, e sempre que o relógio ou o telemóvel davam sinal de notícia temia o empate do SC Braga. Às tantas, voltei ao canal do jogo para espreitar. E nesse momento, absolutamente mágico, o árbitro dava por terminado o encontro; aos 97 minutos. O Sporting acabara de vencer um jogo com menos um jogador durante 80 minutos. Pela terceira vez, derrotava o SC Braga esta época. E só me lembro de, no início da Liga, a minha colega e benfiquista extrema, Leonor Pinhão, dizer que os três grandes eram Benfica, FC Porto e Braga, deixando o Sporting de fora. Não lhe levo a mal, mas recordo-lhe que o Benfica ainda discute com o SC Braga qual dos dois é o terceiro grande esta época. O Sporting, mesmo que perdesse todos os jogos, não baixaria de terceiro. E quero crer, com as devidas cautelas, que nunca se devem perder, que vai conseguir um feito histórico.
Será que Artur Soares Dias beneficiou o Sporting por marcar aquele livre inexistente? Ridículo. E a prova é que, no fim do jogo, não se falou da arbitragem. Nem Carlos Carvalhal, nem ninguém. A vitória foi fruto de trabalho, querer, determinação, e espírito de equipa dos Leões.
Já no Moreirense-FC Porto, que acabou para nossa felicidade empatado 1-1, o árbitro e o VAR prejudicaram o FC Porto, pelo menos num penálti claro. Também não temo dizê-lo, gosto da verdade. Mas, sejamos sérios: o FC Porto não perdeu o campeonato neste jogo. Mesmo caso o Sporting tivesse perdido em Braga e a distância pudesse reduzir-se a um ponto, nada indica que o FC Porto o ganhasse. A menos que tudo fosse normal, como enigmaticamente disse o presidente do FC Porto. Mas, o que conta é que o Sporting ganhou e o FC Porto empatou, alargando-se a diferença para seis pontos. Bela jornada.
Se Jorge Jesus se queixa da Covid (como se o Benfica fosse o único clube prejudicado pela doença); se Conceição se queixa dos árbitros, digamos que estão errados. O mesmo sempre achei em relação às queixas do Sporting nos infindos anos que andámos arredados da luta pelo título, ou o perdemos na reta final.
Sim, há árbitros que não merecem respeito e outros que merecem toda a consideração, nacional e internacional. Porém, geralmente, entre perdas e ganhos, as coisas ficam equilibradas. Salvo quando organizações com encontros misteriosos subvertem propositadamente a ordem desportiva, talvez para a manter a chamada normalidade. Mas aí, lá está, falamos de algo semelhante a uma máfia.
 

AS COISAS MUDAM

VOLTO aqui ao filme de Mamet e a Joe Mantegna. Este ator, depois das gerações imperdíveis de Marlon Brando, Robert de Niro e de Al Pacino, tornou-se num especialista a fazer de mafioso; aliás, o seu primeiro êxito foi em O Padrinho (parte III). As coisas mudam, como no título do filme referido, porque se posso criticar Hugo Miguel e a arbitragem (e contra mim e o Sporting falo)  no jogo do Moreirense contra o FC Porto, já tudo se altera quando se sabe e vê a agressão a um jornalista e operador de câmara da TVI.
Em primeiro lugar, vê-se que o velho Pinto da Costa, presidente do FC Porto se dirige ao jornalista (provavelmente para debater por que razão as coisas não foram normais e o campeonato anda a fugir ao FC Porto). No mesmo momento, por detrás do repórter alguém o agride (sabe-se que foi Pedro Pinho, um empresário do futebol com ligações próximas ao FC Porto). Se já é estranho este acontecimento; se, em si mesmo, constitui um crime público de agressão, não tendo a autoridade no local atuado, mais estranho achei que o senhor Pinto da Costa, como lhe chamam, nada tivesse dito ou feito. Não se ouve o líder portista reclamar contra a agressão, pedir para que lhe ponham fim. Um homem com tanta autoridade para tanta coisa, viu um jornalista ser agredido sem que se lhe conheça um gesto ou uma palavra de condenação durante tal ato. Depois, enviou um pedido de desculpas à TVI e ao jornalista (como naqueles filmes de que falei se enviavam flores à família do despachado). É revoltante! É miserável!
Como escreveu ontem Ricardo Quaresma aqui em A BOLA, «chega de assobiar para o lado», é mesmo tempo de agir. E de agir com firmeza. Não só sobre Conceição (por contraponto a Rúben Amorim), mas sobretudo em relação a Pedro Pinho e também a Pinto da Costa. Na minha terra (e penso que na terra de todos) diz-se «tão ladrão é o que vai à vinha, como o que fica à guarda». Penso que isto sintetiza bem a situação.
 

SUPERLIGA

A piada faz-se por si própria: Florentino Pérez gosta tão pouco da Champions, que fez por sair dela. O empate em casa com o Chelsea, na meia-final, após estar a perder, abre péssimas perspetivas para a segunda mão. Sim senhor, Florentino, as ideias devem ser para levar adiante!
 

NACIONAL

Só para deixar como última nota a vitória do Nacional sobre o V. Guimarães. Virão motivados a Alvalade, mas lá os esperamos, para vencer e colocar mais uma pedra a pavimentar o caminho.