Copa América, emoções e árbitro
Messi lesionou-se na final da Copa América

Copa América, emoções e árbitro

OPINIÃO16.07.202408:45

O futebol é especial sobretudo por isto. Por nunca retirar da sua essência a mais genuína característica de quem joga, treina, arbitra ou apoia: a sua humanidade.

I. A imagem de Messi a chorar após ser substituído por lesão na final da Copa América 2024 transportou-me de imediato para o rosto desolado de Cristiano Ronaldo, quando foi às lágrimas pelo mesmo motivo, no jogo em que Portugal se sagrou campeão europeu na França.

Em fases diferentes das suas vidas e com oito anos de intervalo, os dois melhores jogadores dos últimos tempos lesionaram-se em momentos decisivos das suas carreiras, com as camisolas da respetiva seleção nacional vestida. Ambos saíram de campo mais cedo do que queriam, ambos ficaram desolados, ambos cederam às emoções perante o olhar empático do mundo inteiro.

O futebol é especial sobretudo por isto. Por nunca retirar da sua essência a mais genuína característica de quem joga, treina, arbitra ou apoia: a sua humanidade.

Os protagonistas do jogo podem ter talento inato, fama, estatuto, reconhecimento e riqueza material, mas haverá momentos em que será o coração a impor as regras pelos quais se regem. Seja a chorar de tristeza ou a rir de alegria, seja a pontapear garrafas irritados ou a festejar efusivamente, seja a barafustar com o treinador ou aos cânticos com colegas, as emoções é que mandam quase sempre, deixando quase todos expostos à sua mais básica vulnerabilidade. Que a evolução do jogo nunca lhe retire essa marca. É ela que o torna tão apaixonante. 

II. E por falar em Copa América, continua a ser gritante a diferença entre a UEFA e as restantes confederações de futebol, no que diz respeito à organização de jogos de topo. As imagens que vimos da final de Miami, onde vários adeptos columbianos tentaram aceder ao recinto entrando pelas condutas de ventilação (!), mostraram uma realidade "terceiro-mundista" que nunca podia nem devia acontecer em eventos dessa dimensão. Já não bastava termos visto vários jogadores uruguaios treparerem as bancadas para tentarem defender os seus de possíveis agressões ou gente eufórica aos saltos, com bebés de colo... ao colo! A falta de segurança evidenciada, aliada à enorme irresponsabilidade de muitos, podiam ter provocado uma tragédia como tantas que a história já nos mostrou que nunca mais se podem repetir no desporto-rei. Emoções sim, claro. Todas! Irracionalidade não.

III. Após o final de cada época, que geralmente acontece nas últimas semanas de maio, os árbitros que dirigem jogos profissionais usufruem de um curtíssimo período de férias (não mais do que dez, quinze dias) antes de voltarem aos seus treinos. É que o regresso oficial das competições pressupõe a realização de provas físicas muito exigentes, que requerem um período de pelo menos oito semanas de preparação intensa. Estamos a falar de cerca de dois meses de trabalho duro para testes que acontecem antes da realização do primeiro jogo oficial, regra geral a Supertaça Cândido Oliveira. Pelo meio vários juízes são nomeados para arbitrar jogos de caráter particular e outros para dirigirem jogos das primeiras eliminatórias UEFA, que se realizam cedo. Não há por isso tempo para parar e descansar, pelo menos para aqueles que estão bem cientes da responsabilidade enorme que a carreira exige e não querem perder o comboio. É quase certo que, entre todos os agentes desportivos que fazem parte do jogo, os árbitros serão aqueles que menos tempo têm para usufruir em pleno junto dos seus. A informação vale o que vale, mas serve para mostrar que esta coisa de arbitrar jogos de topo pressupõe sacrifício, dedicação e compromisso. Tal como acontece com as equipas, aqueles noventa minutos de jogo são apenas o culminar de muita entrega e trabalho de casa. É assim agora e terá que ser cada vez mais assim.