Começar mal é destino surreal

OPINIÃO17.08.202306:30

Os campeonatos são prova de resistência, de intensidade, capacidade de sofrimento, talento, erros e compromisso

Anova época do futebol iniciou-se de forma que levanta muitas preocupações e mantém acesas as mesmas que causam problemas enormes, sem que haja coerência e saber para corrigir atempadamente. Os campeonatos são uma prova de resistência, de intensidade, de capacidade de sofrimento, de aplicação sistemática, de talento, erros e compromisso. Por isso, os palpites e comentários sobre os jogadores, vindos de quem pretende baralhar as mentes para prejudicar alguns e fazerem outros acreditar que são invencíveis, são protegidos pelos deuses dos palpites e examinadores de árbitros, embora mediante os clubes favoritos (ou seja, da capital). E dessa forma uns são beneficiados de forma inaceitável e outros proscritos como inimigos a derrotar sempre. Dessa forma, o nosso futebol está continuamente em regressos a passados, a polémicas cada vez mais agressivas e destrutivas. A FPF vai ser alvo de eleições e talvez nessa data se poderá criar uma nova fase, mais imparcial e rigorosa, para um futuro melhor, porquanto jogadores e treinadores poderão conseguir as condições indispensáveis para um todo mais coerente e prestigiado. Vícios que fomentam violência não merecem tolerância, porque é urgente erradicar o fanatismo ignorante. Dividir por cores de camisola os ódios, é um drama a vencer imediatamente.

Há responsáveis que já saíram para outros cargos e, agora, só falta eleger quem tem a capacidade de valorizar o jogo e os seus praticantes. Mudar o rumo ao futebol, como destino de desenvolvimento e criatividade, é a única solução. Contudo há sempre Velhos do Restelo que lutam para manter tudo na mesma.


A LIGA

OS jogos da primeira jornada revelam resultados que surpreenderam: vitórias folgadas do Gil Vicente em Barcelos e do Casa Pia em Faro; do Famalicão em Braga; do Sporting em Alvalade (só no último segundo do tempo de compensação, conseguiu vencer o Vizela); o Guimarães foi jogar ao Estrela da Amadora e venceu, com uma atitude de grande caráter e exemplar dimensão do seu treinador, que por ter perdido a eliminatória da Liga Conference, decidiu sair: coerência!; o Rio Ave venceu o Chaves, o Arouca e o Estoril conseguiram o resultado mais fantástico, mas justo e cada vez mais raro: 4-3; o Moreirense recebeu o FC Porto, numa primeira parte sem velocidade, com falhas e passes transviados de ambas as equipas, num jogo lento e previsível. No segundo tempo e com as alterações, o ritmo foi aumentando, o Moreirense marcou, mas o FC Porto conseguiu dar a volta ao resultado e, com menos um jogador, em virtude de lance mais intenso. Nico González pelo pouco tempo que esteve em campo, deixou indicações importantes; o Boavista venceu o Benfica num jogo que teve 17’ de compensação! Curiosidade da jornada: não houve empates. Verificamos arbitragens com equilíbrio, algumas com pequenos lapsos e outras que continuam a manter a falta de qualidade indispensável. É urgente alcançar condições para valorizar nacional e internacionalmente o nosso futebol, para conseguirmos subir no ranking europeu, pelas verbas que permitem aos clubes reforços significativos, desde que a arbitragem consiga dar um salto enorme de competência. A transmissão da comunicação após o contacto em direto no estádio, de Árbitro/VAR, tem de ser muito diferente do que alguns desejavam para travar o futuro. Todos seguem o jogo e, portanto, o que o árbitro terá a dizer naquele momento, seria certamente muito mais cuidado e exigente, não dando oportunidade de invenção a comentadores que teriam de ouvir o que efetivamente foi dito, não podendo assim ser desmentido.
 

Eustaquio foi um exemplo na vitória do FC Porto em Moreira de Cónegos


DRAGÕES

ESTES momentos iniciais, são espaços com uma elevada carga de surpresa, quer porque ainda há possibilidade de transferências, quer pelo reforço da equipa na última oportunidade, quer pela transferência para um clube de outro país, o que permite entrada de capitais, sem desvalorizar a força coletiva. Tradicionalmente, o Moreirense é um adversário que cria sistematicamente muitas dificuldades aos azuis e brancos. A suspensão do treinador é sempre um problema porque sai dos carris habituais, embora o adjunto Vítor Bruno já com larga experiência para ocupar pela 13.ª vez a liderança no banco, enquanto Sérgio analisa noutro local, funcionando sempre com a eficácia habitual. Sérgio cumpre castigo e, por esse facto, não fez a tradicional conferência de imprensa na véspera do jogo. Finalmente, o reforço Varela apresentar-se-á nesta semana com total dedicação e empenho, para ser a mais valia que o clube precisa. Todos deram o seu melhor, contudo Eustáquio foi um exemplo de combate, de apoio, sempre em jogo sem parar. Sobre Sérgio Conceição, Eustáquio afirmou: «Logicamente que é a nossa força máxima, é o nosso líder, mas mesmo de fora comunica sempre connosco e ajudou-nos muito ao intervalo. A verdade é essa (…) Os jogos são todos difíceis, especialmente em campos como este». A continuidade de Taremi e a recuperação de João Mário permitiram maior intensidade e maior criatividade para Otávio e Pepê. Com o tempo, os avançados e médios que entraram para o plantel vão, com as dinâmicas de Sérgio, conseguir um desenvolvimento qualitativo ao jogo dos azuis e brancos. Há jovens que estão a afirmar-se e que poderão atingir patamares de grande qualidade. O desenvolvimento do futebol não passa pelos inúmeros programas onde se discutem ninharias apenas para atacar adversários, mas antes por uma reflexão cuidada para se conseguir melhorar o essencial e afastar as constantes provocações e fracos argumentos que nada acrescentam ao jogo. Ainda se fossem capazes de analisar as movimentações coletivas e individuais, os equilíbrios, as dinâmicas, os espaços onde nascem as jogadas de perigo, o jogo tornava-se um exercício mental muito melhor e desafiante. Contudo, o passo decisivo tem de começar pela arbitragem e pela humildade em apitar (somente quando necessário e sem perdas de tempo) para que o jogo mantenha vivacidade e uma ocupação de espaços que causem ruturas que originam golos. De facto, o árbitro que cumprir exemplarmente, é aquele que ninguém recorda do que fez nesse jogo.


REFLEXÃO DO PRESIDENTE DA LIGA

«OFutebol és Tu» foi o feliz título, num texto amplo, cirúrgico, apontando objetivos essenciais para promover o regresso das famílias aos estádios, não para provocações, mas antes para celebração do jogo. Abordou várias questões como a redução de preços e parcerias de desenvolvimento, para promover a presença dos adeptos em família, cuja importância é essencial. Elencou vários temas, como por exemplo, o aumento do tempo útil de jogo, a verdade dos jogos, mas sem influências que causem conflitos e, por isso, muito mais qualidade das arbitragens. A justiça desportiva foi também referenciada com rigor e preocupação, para que a transparência seja um elemento unificador e não um foco de polémica e violência. Precisamos de subir degraus no ranking europeu, que tem de ser ajustado e que prejudica o futebol português, para oferecer as mesmas condições a todos. O futebol, como atividade económica que envolve muitos milhões, merece estabilidade e fair-play para ser cada vez mais não só «o Futebol és tu», mas alargando o universo: o futebol é de todos e, por isso, tem de ser defendido com imparcialidade. Convém recordar que o jogo é responsável por avultadas verbas para impostos e, portanto, merece um tratamento à medida das suas gigantescas contribuições. Quanto à justiça desportiva, foram reduzidos prazos e é urgente refletir e dialogar com rigor, os fundamentos que levaram à criação do TAD, para cumprir os objetivos e funcionando como última instância. O presidente Proença foi claro, exaustivo e apontou caminhos para evolução constante e sem espaço para ‘profetas da desgraça’. Temos condições para dar um exemplo a muitos outros, como é timbre da nossa história.


REMATE FINAL

– A Taça dos Clubes Campeões Árabes foi conquistada pelo Al Nassr, com dois portugueses que revelam mérito: Luís Castro como treinador e CR7 que marcou os golos da vitória.

– A Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência usou a palavra crime, para o que aconteceu numa bancada do Estádio Municipal de Braga. Caberá agora ao Ministério Público, definir o enquadramento respetivo.

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