Claro que a culpa foi do árbitro
Miguel Nogueira e os problemas técnicos no VAR durante o FC Porto-Arouca. Lusa/FERNANDO VELUDO

Claro que a culpa foi do árbitro

OPINIÃO09.09.202310:00

O CA fez bem ao divulgar as conversas árbitro/VAR. Mas as Ligas querem mais...

Na edição de A Bola da última quarta-feira, foram apresentados os resultados de um inquérito sobre o que devia ser alterado no futebol, levado a cabo pelo Fórum Mundial das Ligas, junto de 41 Ligas nacionais, cinco de África, nove da Ásia e Austrália, seis da América do Norte e Central, 20 da Europa [incluindo a Liga Portugal], e uma da América do Sul, cujos resultados, embora maioritariamente conservadores, apontaram, de forma clara, para o incremento da transparência, com 61% das Ligas inquiridas a mostrarem-se favoráveis à divulgação pública e ao vivo, das comunicações árbitro/VAR; e sobre o mesmo princípio ser aplicado às conversas entre o árbitro e os jogadores, treinadores e demais elementos constantes da ficha de jogo, as opiniões apontaram no mesmo sentido, com uma vantagem de 46% a 42 %, abstendo-se 12% de tomar posição. É neste contexto mais alargado que teve lugar, pela primeiro vez no nosso País, uma sessão promovida pelo Conselho de Arbitragem da FPF, que será repetida mensalmente, divulgando as comunicações árbitro/VAR em alguns dos casos mais mediáticos, para fazer pedagogia relativamente a questões de arbitragem e, de alguma forma, oferecer mais transparência a uma área historicamente opaca. É bom que tenha acontecido esta sessão, e que não só seja a primeira de muitas, como ainda signifique uma mudança de paradigma, evitando aquele tipo de desconfiança sistemática que inevitavelmente nasce do secretismo militante.

Numa época (decisiva, como nenhuma outra antes dela) que começou particularmente turbulenta com o VAR - o erro de posicionamento de linhas no Casa Pia Sporting e o apagão no FC Porto Arouca, foram os highlights - há que ser absolutamente claro e afirmar, sem medo da demagogia barata que anda por aí à solta:

a) - O VAR foi a melhor coisa que aconteceu à arbitragem, desde a invenção do apito;

b) - Nunca houve tão poucos erros de arbitragem nos jogos, como agora;

c) Comparar os resultados da arbitragem antes e depois do VAR é comparar a estrada da Beira com a beira da estrada;

d) - Não deve ser levado a sério que vocifera contra o VAR quando se sente prejudicado, e se cala muito caladinho se a sua equipa é beneficiada;

e) - A tecnologia é boa, pode ser ainda melhorada, mas só a qualidade de quem a usa a torna mais ou menos eficaz;

f) - É preciso, pois, ser cada vez mais rigoroso na seleção dos vídeo-árbitros;

g) - Não havendo volta atrás, o futuro aponta para a especialização de cada função, que tem como consequência a responsabilização de quem erra. Se isso não acontecer, estar-se-á a promover, por via corporativa, a mediocridade.

Está muito em jogo na presente temporada, e a cada mau momento, a tentação para atirar culpas próprias para costas alheias é irresistível, como se viu recentemente no FC Porto-Arouca (1-1), que os dragões protestaram. O penálti foi mal revertido? Não. O protocolo foi adulterado? Não. Então a única explicação, funda-se numa desesperada tentativa, perante o mau futebol praticado, de usar a desculpa vai velha do mundo: a culpa foi do árbitro...