Todos a protestar
O momento em que Miguel Nogueira fala com a Cidade do Futebol por telefone

Polémica VAR Todos a protestar

NACIONAL05.09.202300:10

Ecos da polémica do VAR no FC Porto-Arouca: FC Porto responde ao Conselho de Arbitragem, Altice responde aos dragões, azuis e brancos formalizam pedido de anulação do jogo

Os protestos que se ouviram no Estádio do Dragão a propósito da polémica da falha do sistema de VAR no jogo entre o FC Porto e o Arouca, que obrigou o árbitro Miguel Nogueira a decidir anular, aos 87’, penálti a favor dos dragões sem ver as imagens, apenas com recurso a um telefone para contactar a Cidade do Futebol, ecoou ainda esta segunda-feira e com ricochete para vários lados. Primeiro protestou o Conselho de Arbitragem (CA), emitindo comunicado a esclarecer que a falha no sistema se deveu ao facto de as tomadas não terem corrente elétrica. Depois protestaram os dragões: primeiro a desmentir o CA, depois a formalizar o pedido de anulação do jogo cuja intenção tinham anunciado ainda na noite de domingo. Por fim protestou ainda a Altice, desmentindo a versão portista, reforçando o comunicado do CA.

«Ao analisarem o incidente, os técnicos concluíram que a única tomada elétrica disponível na área de revisão do estádio não tinha corrente elétrica e que ao longo do jogo o sistema de energia de reserva — também conhecido como UPS (Uninterrupted Power Supply) — esgotou-se. Esta tomada elétrica não possui energia socorrida ou assistida, de acordo com informação técnica. Assim que foi detetada a falta de energia, iniciou-se o processo de mudança dos equipamentos para o segundo sistema de energia de reserva (UPS), tendo o serviço sido completamente restabelecido ao minuto 101. A solução técnica que liga a Cidade do Futebol ao Estádio do Dragão não registou qualquer falha», esclareceu o CA ao final da manhã.

Tardou um pouco mas na parte da tarde o FC Porto respondeu. «Não corresponde à verdade que a tomada elétrica disponível na zona de revisão do estádio não possuísse energia socorrida. Esta tomada possui fonte de alimentação UPS», começaram os dragões por garantir. «Também não corresponde à verdade que a tomada em questão seja a única disponível na área de revisão do estádio. Junto desta existe um outro quadro elétrico com outra tomada disponível para utilização, conforme se pode verificar pela foto subsequente. Acresce, ainda, que não foram detetadas quaisquer falhas de energia no decorrer do jogo (antes, durante ou após o mesmo)», continuaram os azuis e brancos.

FC Porto mostrou foto das tomadas do Estádio do Dragão

Numa extensa nota, acrescentou a SAD portista: «A obrigação do FC Porto esgota-se na disponibilização de uma fonte de energia para que os técnicos da Altice, contratados pela FPF, aí conectem o cabo de alimentação destinado aos equipamentos do VAR, o que aconteceu, sendo que toda a responsabilidade de montagem do sistema e ligação de cabos é daqueles profissionais. Sucede que o referido cabo, conectado na origem à fonte de energia do estádio disponibilizada pelo FC Porto, não foi conectado aos equipamentos do VAR, levando a que o sistema tenha estado a funcionar suportado por baterias desde o início do jogo. Tal facto foi reconhecido pelos próprios técnicos da Altice quando substituíram o equipamento, tendo este passado a estar suportado pela energia do estádio.»

Termina o comunicado dos dragões: «Se não existiu qualquer falha de energia e se não foram rearmados quaisquer quadros elétricos, como se explica que o equipamento do VAR substituído não tivesse energia do estádio, mas o segundo equipamento já a tivesse? A energia não desaparece de um momento para o outro… A conclusão é elementar: o cabo da Altice do primeiro equipamento do VAR, conectado na origem à fonte de energia do estádio, nunca esteve ligado no destino ao equipamento do VAR por erro técnico.»

A Altice viu-se obrigada a marcar também a sua posição para «rejeitar qualquer responsabilidade». «Não foi detetada qualquer avaria no sistema de suporte ao VAR, nem se procedeu a qualquer substituição do mesmo», garantiu a operadora. «Assim que as equipas técnicas verificaram que a fonte de alimentação da UPS tinha esgotado a bateria, decorrente da falha de energia da tomada de alimentação disponibilizada pelo FC Porto, imediatamente ligaram uma segunda UPS, totalmente carregada, que possibilitou a restauração total dos sistemas e do respetivo serviço VAR. Aquando da referida falha do sistema de videoarbitragem, e antes da utilização da segunda UPS, foi comprovado no local, pelas equipas técnicas da Altice e do Futebol Clube do Porto, a existência de uma falha de energia na tomada elétrica do Estádio do Dragão. De sublinhar que foi a redundância da sua infraestrutura, pela existência de uma segunda UPS, que permitiu retomar o sistema de videoarbitragem.»

Derradeiro protesto do dia: o do FC Porto a pedir a anulação do jogo, formalizando a intenção, manifestada na véspera, de interceder junto do Conselho de Justiça por «má conduta da arbitragem» . E fê-lo em menos de 24 horas, quando tinha três dias para fazê-lo.

Os fundamentos do protesto não foram divulgados pelos portistas, ABOLApediu opinião ao especialista em direito desportivo João Diogo Manteigas. «Não me parece assistir razão para a FC Porto SAD poder avançar com um protesto nos termos do artigo 108.º e seguintes do Regulamento de Competições da Liga e do artigo 61.º e seguintes do Regimento do Conselho de Justiça da FPF. Isto, obviamente, se estivermos apenas no domínio do erro de arbitragem com base na falta de acesso pelo árbitro às imagens do penálti que o próprio assinalou e que foi revertido pelo VAR», diz o advogado, completando: «É verdade que a SAD do FC Porto poderá ter protestado o jogo com base noutros erros de arbitragem para além deste mas, quanto ao penálti revertido, o protocolo do VAR é explícito quanto à sua regra geral imperativa: não se invalida ou anula um jogo com base em erros no funcionamento da tecnologia VAR (tal como sucederá com o sistema de deteção automática de golos — olho de falcão ou outro — ou o DAG), em erros em que tenha participado o VAR (dado que este integra a equipa de arbitragem do jogo), quanto a decisões de não rever um incidente ou perante situações/decisões não sujeitas a revisão.»

Não me parece assistir razão para a FC Porto SAD poder avançar com um protesto nos termos do artigo 108.º e seguintes do Regulamento de Competições da Liga e do artigo 61.º e seguintes do Regimento do Conselho de Justiça da FPF

Também o antigo árbitro e comentador ABOLA TV Pedro Henriques considera não haver motivos para o jogo ser repetido. «Não foi violado nada em relação ao protocolo e seguiu-se tudo o que está previsto na lei. A regra diz que se falhar a Cidade do Futebol e não houver acesso a câmaras, o jogo continua como está e o VAR não pode intervir. Mas, se a Cidade do Futebol está a funcionar bem e tem as imagens todas do campo em direto, sempre que quiserem intervir de acordo com o protocolo podem fazê-lo. Se houver uma falha que não permite nem ver nem ouvir no estádio então utiliza-se o walkie-talkie/telefone», esclareceu e completou: «A equipa de VAR tinha as imagens todas, não conseguia era transmiti-las para o estádio. Neste caso concreto o árbitro confiou no que lhe disse o seu videoárbitro e tomou a decisão. O protesto do FC Porto não poderá dar na repetição do jogo. O VAR faz parte da equipa de arbitragem e tinha imagens, o que não conseguiram foi transmiti-las e isso faz toda a diferença.»

Não foi violado nada em relação ao protocolo e seguiu-se tudo o que está previsto na lei. A regra diz que se falhar a Cidade do Futebol e não houver acesso a câmaras, o jogo continua como está e o VAR não pode intervir. Mas, se a Cidade do Futebol está a funcionar bem e tem as imagens todas do campo em direto, sempre que quiserem intervir de acordo com o protocolo podem fazê-lo. Se houver uma falha que não permite nem ver nem ouvir no estádio então utiliza-se o walkie-talkie/telefone