Cidadão Dias

OPINIÃO06.05.202107:00

Rúben Dias não é só mais um português de sucesso em Inglaterra: ele é o defesa que Guardiola precisava para a equipa atacar de outra forma

NÃO tem a elegância de Ricardo Carvalho, a agilidade de Fernando Couto ou os modos suaves de Jorge Andrade, mas tem tudo para vir a ser um dos melhores defesas centrais da história do futebol português. A forma  como Rúben Dias se impôs no Manchester City é um dos casos de maior sucesso nos últimos anos no futebol internacional pela simples razão de estar diretamente ligado àquela que poderá vir a ser a melhor época de sempre dos citizens, que se preparam para serem mais uma vez campeões em Inglaterra e chegaram, pela primeira vez, à final da Liga dos Campeões.
Não por acaso, Pep Guardiola voltou ao jogo decisivo da maior competição de clubes da Europa, dez anos depois da vitória frente ao Manchester United por 3-1, em Wembley. Não o conseguiu em três épocas no Bayern nem nas primeira quatro temporadas em Inglaterra. Fê-lo quando tornou o futebol da sua equipa um pouco mais pragmático, com muito mais transições rápidas e contra-ataques, porque talvez pela primeira vez desde que aterrou em Manchester  o treinador catalão tem uma defesa que permite à equipa partir e esticar muito mais o jogo sem se desposicionar ou perder equilíbrio nas transições defensivas. A chave desta mudança foi, indiscutivelmente, Rúben Dias. Guardiola precisou de um defesa para atacar de outra maneira. Touché.
 

Rúben Dias, o melhor em campo com o PSG


O facto de ter sido eleito pela UEFA o melhor jogador da segunda  mão das meias-finais diante do PSG foi apenas a confirmação de uma temporada assombrosa. O modo como deu (literalmente) o corpo às balas (ou bolas) causa natural impacto, mas essa é a face bulldozer, de aperto, do perigo a jusante, o último recurso, que não se deve sobrepor àquilo que o diferencia dos outros e é tantas vezes esquecido: a leitura de jogo. Rúben Dias apurou a intuição e melhorou os tempos de reação tornando-se temível na antecipação. Inteligente e altamente concentrado, está sempre no local certo, nem meio metro à frente ou meio atrás no chão ou no ar, vencendo mais duelos aéreos com os seus 1,86 metros do que outros jogadores da mesma posição com mais de 1,90 metros.  Leva um registo de menos de uma falta por jogo na Champions (nove em 10 partidas), tal como na Premier League (19 faltas em 29 presenças. Um termo de comparação? Harry Maguire, titular e capitão do rival Man. United, soma 39 faltas em 34 jogos). Começa a ser para o City o que Van Dijk foi para o Liverpool.
E pensar que tudo isto poderia ser diferente para o ex-capitão do Benfica se, no início da temporada em curso, não tivesse visto a sua equipa ser eliminada  pelo PAOK na terceira pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões, o que fez apressar a venda do seu passe para os citizens por €68 milhões... 

AS taças nacionais sempre representaram o lado mais romântico do futebol, pois numa prova a eliminar às vezes acontecem surpresas. É quando «há taça», como se costuma dizer. No caso português, a Taça de Portugal nunca foi sinónimo de ambição financeira, mas uma festa popular. De famílias. De adeptos. Compreende-se que em tempo de pandemia as normas sejam outras, que na eventualidade de a final poder vir a receber algum público um estádio como o de Coimbra seja o mais indicado para melhor capacidade de controlo. E admito, até, que nos tempos atuais tudo seja feito para impedir ajuntamentos, mas passar a final da Taça para as 20.30 horas de um domingo é, em si, a derrota do futebol do povo pelo telefutebol. É a regra mais uma vez a derrotar a exceção. É mais um produto na luta do zapping. Somos todos prime time.