Bolas!
1. Mais uma semana sem futebol a sério. Mas com uma grande notícia, que muito me alegrou: Jorge Valdano vai escrever neste jornal! Valdano! Para se fazer uma ideia de quão admiro o seu talento enquanto cronista creio que dizer isto será o suficiente: não faço a mais pequena ideia de quem sejam o segundo e o terceiro melhores autores de textos desportivos em todo o mundo. Tenho, porém, a mais profunda convicção de que não há ninguém, morto ou vivo, que alguma vez tenha escrito, seja com lápis, caneta de tinta permanente, máquina de escrever ou computador, a propósito de futebol, e desde que há futebol, com a beleza e o estilo do Mestre Valdano. Até parece que para ele sobra sempre um lado novo, que a bola só a si desvela. Mas não se trata de parecer - a verdade é mesmo assim. Agora também em A BOLA.
2. A propósito: quantos lados se podem contar numa bola? Depende da bola, claro. Mas também do que se queira contar. Assim, todas as bolas maciças possuem um único lado - o exterior. Já as bolas ocas gozam de dois lados: o de dentro e o de fora. Mas se estivermos a falar de uma clássica e pura bola de futebol, em forma de poliedro, a contagem é um pouco mais complexa mas o apuramento do respectivo resultado não concede margem para duvidas: a superfície externa dessa bola está dividida em 32 faces, das quais 12 em forma pentagonal e 20 em formato hexagonal, desta forma perfazendo 90 arestas e 60 vértices.
3. Todos os ofícios acabam por ter o seu próprio dialecto. Nuns casos mais perceptível do que noutros. Aliás, como em quase tudo o demais na vida. Os economistas, por exemplo, gozam da fama de nunca trabalharem com certezas, mas exclusivamente com estimativas. E por mais memórias que o tempo vá apagando duvido que alguma vez me esqueça do espanto que me assaltou quando julguei ter percebido que os analistas financeiros só calculavam taxas de crescimento, fosse ele positivo ou negativo. Agora, numa estranha mistura entre futebol e direito, é frequente ouvir e ler sobre a putativa existência de cláusulas contratuais que estipulariam «opções de compra obrigatória». Bolas! Isto não pode ser como pedir ao balcão «uma italiana bem cheia». Não pretendo explicar que juridicamente uma «opção de compra obrigatória» é mais do que uma impossibilidade, é uma verdadeira aberração. Ainda mais absurda que a famosa «troca por troca». Opção e obrigação são conceitos mutuamente excludentes, donde a sua junção constituir, como lhe chamavam os clássicos, uma «contradictio in terminis».