Besta Negr(eir)a
Por cá, consta que se pagava em ‘fruta’ e até houve quem tenha confessado...
TIVEMOS conhecimento recentemente que a Fiscalia espanhola apresentou denúncia contra o ex-árbitro José María Enríquez Negreira, alguns dos dirigentes desportivos do Barcelona (anteriores e atuais) e contra o próprio clube (por ter personalidade jurídica). Em causa vários delitos, entre eles, corrupção (ativa e passiva) desportiva. No sistema penal espanhol, por um lado, averigua-se o elemento objetivo quanto ao possível delito de ter sido prometido, oferecido, recebido, solicitado ou aceite benefício (ou vantagem) de qualquer natureza e não justificada ou indevida. Por outro lado, o elemento subjetivo passa pela possibilidade do delito poder ter sido concretizado com o intuito de determinar ou alterar, de forma deliberada e fraudulenta, um resultado desportivo. O foco incide sobre o facto do Barcelona, ao longo de muitos anos, ter contratado serviços de consultoria a Negreira que foi vice-presidente do Comité Técnico de Árbitros. O equivalente a Fontelas Gomes na arbitragem nacional. Este organismo é responsável por premiar ou castigar árbitros, fazendo-os subir ou descer de categoria, designando-os para determinados jogos de elevada dificuldade, entre outras possibilidades. Dessa contratação de serviços de Negreira, resulta a dúvida: os pagamentos que lhe foram feitos teriam a finalidade de alterar ou falsear resultados? Não é fácil para quem julga, pois para se poder acusar e mandar para trás das barras, é preciso provar-se inequivocamente que o jogador A ou B cometeu penalty intencionalmente para beneficiar a equipa Y ou Z. Não se prevê como possível sem que os próprios jogadores em causa confessem. A Lei não pune nem manda para a cadeia com base em suposições. Acresce que a investigação também pode radicar no delito de mera atividade, sem provar que houve adulteração de resultado. Sempre foram €7,3 milhões entre 2001 e 2018. Generosos. Por cá, segundo constou, pagava-se em ‘fruta’ carnal e até houve quem tenha confessado (Jacinto Paixão) mas já dentro do horário da prescrição.