Benfica com espírito do Bayern

Benfica com espírito do Bayern

OPINIÃO28.03.202306:30

Rui Costa precisa estar atento porque têm-se observado sinais bem mais estranhos do que os golos que o treinador vimaranense se queixou de ter sofrido na Luz

R OGER Schmidt  não podia ter sido mais esclarecedor na entrevista que deu a revista alemã Der Spiegl  ao colocar o Benfica no mesmo patamar de Real Madrid ou Barcelona. Mesmo sem ter ainda assinado qualquer conquista a verdade é que os adeptos já perceberam que este treinador tem qualquer coisa de diferente e  é para ficar enquanto for possível.

Foi o melhor reforço de Rui Costa, e disso dei conta nesse neste espaço, mas decorridos meia dúzia de meses é mais forte a sua influência, pela clareza das ideias e pela notável argúcia em ler a verdadeira identidade da águia, com especificidades que a aproximam do Bayern de Munique, em que a exigência é a vitória,  mas associada à chamada nota artística e ao  espetáculo. Não basta vencer, é preciso agradar à massa adepta e foi devido à fragilidade dessa relação que Julian Nagelsmann  não escapou ao despedimento.

«Chegámos à conclusão de que a qualidade, apesar de termos sido campeões na época passada, era cada vez menor. Depois do Mundial jogávamos cada vez pior e de forma pouco atrativa. A inconstância exibicional da equipa colocava em causa os nossos objetivos da temporada e foi por isso que reagimos», afirmou o antigo guarda-redes e atual CEO do clube, Oliver Kahn, antigo praticante de renome e agora com funções de decisão, uma política há muito seguida pelo emblema da Baviera, que se rege por princípios do absoluto respeito pelo adepto que paga o seu bilhete e quer ver o seu clube vencer e convencer.

Schmidt pensa exatamente da mesma forma e os adeptos benfiquistas que tiveram a felicidade de testemunharem ao vivo as grandes noites europeias da águia, com 100 mil nas bancadas da Luz, agradecem a Rui Costa por ter-lhes devolvido a esperança de poderem reviver esse passado glorioso, agora com lotações limitadas porque o conforto e a segurança a isso obrigam, mas com a garantia de presenciarem exibições de grande nível e com a firme convicção de que a águia reencontrou caminho dos grandes êxitos. 

O treinador alemão tem muito mérito nesta mudança porque soube interpretar o que se pretendia  dele e em vez de cansar as pessoas com lições de sabedoria estratégica e tática, que é o que se costuma fazer, preocupou-se em estudar a águia por dentro, a sua família, e tão bem o fez que logo concluiu não poder ser indiferente a forma como se conquistam títulos. Como disse na entrevista à Der Spiegl, quer vencer e ao mesmo tempo poder dizer ‘gosto deste futebol’, tal e qual a filosofia que caracteriza o Bayern e que Schmidt quer transportar para a Luz pela consideração que lhe merecem ao adeptos que, todos os meses, «poupam para ir ao estádio».

A renovação de contrato está em cima da mesa, com inevitável reforço do salário, segundo noticia A BOLA bastante longe dos vencimentos quer de Sérgio Conceição no FC Porto, quer de Rúben Amorim, no Sporting. Mas nem isso constituirá qualquer perigo, no caso de entrarem em cena eventuais interessados no seu trabalho, pois, como destacou o professor Jorge Castelo na noite deste domingo, em A BOLA TV,  Roger Schmidt é um treinador para quem a palavra conta.

A RGUMENTAÇÃO os mensageiros das freguesias rivais que, por ora, apenas se anunciam promessas porque no que se refere a títulos nem vê-los. É a arma mais fácil de manejar por quem sabe que, não podendo ocultar as evidências, apenas lhe resta fazer o que estiver ao alcance no sentido de atrasar o despertar do monstro, não sendo por acaso que o presidente portista tem exercitado a sua fina ironia através de ditos de gosto duvidoso e feitos de insinuações pouco claras com o propósito de suscitarem a discussão estéril e desviarem as atenções do ambiente que se vive no Olival de Gaia, onde, à parte a mais recente novidade da hora do fado, com que o senhor PC brindou os jornalistas numa manhã destas, nada se passa que justifique a curiosidade alheia, na opinião dele, obviamente.

Como alguém disse, não se sabe o que poderá acontecer até maio, mas Rui Costa sabe quem foi o autor da afirmação e deve saber também o que poderá esconder-se por detrás dela. O futebol jogado fora do relvado e a horas impróprias parece-me fora de moda, mas talvez as táticas sejam outras, mais modernas, de acordo com a evolução dos tempos.

O presidente do Benfica está atento, certamente, porque têm-se observado sinais bem mais estranhos do que os golos que o treinador vimaranense se queixou de ter sofrido na Luz. Estranhezas que devem merecer a atenção devida nas jornadas por realizar e nas quais os jogadores encarnados têm de estar preparados para enfrentarem dificuldades máximas.