Benfica ao sabor do vento: o que nos diz este mercado de transferências
Sporting arriscou em demasia ao colocar 'as fichas todas' em Ioannidis para o ataque (Foto Imago)

Benfica ao sabor do vento: o que nos diz este mercado de transferências

OPINIÃO01.09.202408:30

'Mercado de Valores' é um espaço de opinião semanal do antigo jogador Diogo Luís

Por norma, no mercado de transferências, concentramo-nos muito nas entradas e saídas de jogadores. Contudo, a pré época e a sua organização, podem-nos dizer muito mais do que o óbvio.

Sporting: Equilíbrio e risco

Um bom planeamento é fundamental para a obtenção de sucesso desportivo. No caso do Sporting devemos dividir o planeamento em duas partes distintas, mas que estão entrelaçadas: financeira e desportiva. Em função de se ter preparado devidamente, o Sporting atualmente é uma SAD estável. Tem as suas contas equilibradas e organizadas. Sabe até onde pode ir e tem a noção de que não pode ou deve cometer excessos. Assim, é percetível a forma como os responsáveis leoninos definiram os valores que podiam investir no mercado de verão. Em simultâneo, tentaram criar condições para manter aqueles que são os seus melhores ativos. Depois de criadas essas condições e com o valor de investimento identificado, os dirigentes e técnico leoninos definiram as posições a reforçar e os alvos preferenciais. De uma forma objetiva, contrataram o GR, central e ala esquerdo pretendidos. Os perfis dos jogadores contratados encaixam na forma como Ruben Amorim pretende jogar e são opções de presente e futuro. Se vão ou não ser certeiras, como sempre, só iremos perceber através do desempenho, até porque alem do perfil, caraterísticas e capacidade dos jogadores, a adaptação a uma nova realidade e à pressão de jogar num clube que luta por títulos não está ao alcance de todos. Apesar do Sporting ter conseguido preencher várias posições, houve uma que não teve sucesso: Ioannidis que era o plano A, B e C. Foi neste ponto que o Sporting errou. Não procurou ou definiu uma alternativa e deixou andar com a esperança que a situação se resolvesse. O avançado grego era a peça que encaixava e que Ruben pretendia. É certo que ainda falta um dia para o mercado fechar, mas esta opção parece muito difícil de concretizar. Uma coisa é certa, com a venda de Paulinho, o Sporting precisa de contratar alguém. A diferença é que Ioannidis é uma opção real, para o presente e, os nomes que se têm falado não dão a garantia de serem uma opção real, embora possam ser uma opção para o futuro. O Sporting arriscou e essa tomada de decisão pode condicionar o desempenho ofensivo da equipa pela falta de uma opção consistente para a frente de ataque.

FC Porto : organização

O Porto está a passar por uma fase complicada. Financeiramente a situação é muito débil o que obriga a ter uma abordagem diferente ao mercado. Com uma direção com apenas dois meses de trabalho, o plano foi muito bem preparado. Em primeiro lugar, definiram-se os alvos que se pretendiam e começaram as abordagens, com paciência, prudência e discrição. Posteriormente, definiram-se quais os jogadores que deveriam ser vendidos de forma a poder executar o plano e permitir a criação de um plantel com qualidade, competitividade e fome de vitórias. Desta forma, as coisas começaram a andar a partir do momento em que Evanilson foi vendido, sendo seguido por David Carmo e pelo empréstimo de F. Conceição que também gerou um retorno interessante. Estes três jogadores não só geraram liquidez para os compromissos de curto prazo, como permitiram o “ataque” aos alvos identificados. Ao dia de hoje, o Porto tem um plantel com qualidade e competitivo que faz com que seja, claramente, um sério candidato ao título, algo que há dois meses atrás seria difícil de perspetivar. De uma forma muito simples, a organização que se vê fora do relvado é similar à que se vê dentro do retângulo de jogo, estando todos em sintonia.

 

Benfica: ao sabor do vento

O Benfica passa por um período complicado, com decisões difíceis de compreender e que colocam em causa a liderança de quem gere. Numa primeira fase, as coisas até estavam a correr bem com o reforço das posições de lateral esquerdo e ponta de lança. Das que necessitavam de reforços, ficou a faltar o lado direito da defesa (que ficou resolvida a dois dias do fecho de mercado e com um jogador emprestado). As coisas começaram a mudar com a venda de João Neves, por um motivo simples: a questão que muitos colocam é por que razão o Benfica teve de vender um jogador em agosto, quando o ano fiscal termina apenas em 30 de junho de 2025? Só vejo uma conclusão possível e que deixa muita gente intrigada: o Benfica precisava de liquidez. Tendo em conta as vendas concretizadas nos últimos anos e os prémios obtidos com as prestações na Liga dos Campeões, como é que se justifica esta necessidade? A resposta é simples. Tenho abordado várias vezes este tema. Os custos no Benfica estão descontrolados, tornando mais difícil a criação de condições para a obtenção do sucesso desportivo. Se este ponto gerou burburinho externo, a renovação de Dí Maria acabou por fazer mexer várias peças. Em primeiro lugar a questão que se coloca é: quem é que decidiu a renovação, o Benfica ou o próprio jogador? Em segundo lugar e tendo em conta a gestão de Roger Schmidt na pré-época, esta decisão fez com que Neres percebesse que iria ter espaço reduzido e pedisse para sair. O mais estranho foi o facto do Benfica aceitar esta decisão sem se impor, até porque Neres, sendo ou não titular, era um jogador muito importante e com caraterísticas que escasseiam no plantel atual. Depois deste episódio e de algumas exibições coletivas menos conseguidas, foi João Mário a pedir para sair e a ver o seu desejo concedido. O segundo capitão da equipa, que jogou todos os jogos da pré-época, os dois primeiros do campeonato e que era uma peça chave para o treinador, pediu para sair e o Benfica aceitou e afastou-o das convocatórias! Já no caso de Morato, parece que o Nottingham veio aos saldos à luz. Vender o Morato por 11M€ é uma medida de gestão que não se percebe, tendo em conta que Otamendi termina contrato este ano e que assim sendo, o Benfica irá no próximo ano necessitar de ir ao mercado contratar outro central (quanto vai custar um central com a qualidade de Morato???). Esta venda demonstra, mais uma vez, falta de visão e preparação do presente e do futuro. A noção com que ficamos é que quem quiser sair, pede e sai. De julho para agosto o Benfica perdeu qualidade no seu plantel, por decisões internas e por uma gestão do treinador que deixa muitos jogadores desconfortáveis. O mais grave é que esta vontade de abandonar o clube não se centra apenas nos jogadores do plantel: Luís Mendes, administrador e número dois de Rui Costa, já se demitiu, Lourenço Pereira Coelho abdicou da sua posição de administrador, Gustavo Silva abandonou a área jurídica, vários elementos do scouting saíram pelo seu próprio pé e, como soubemos recentemente, no Seixal, alguns elementos com cargos de responsabilidade estão a apresentar a demissão. Quando a organização se transforma em desorganização e quando o caminho é gerido ao sabor do vento, fica muito mais complicado de alcançar sucesso desportivo. A pergunta que fica no ar e que ninguém consegue responder é: Por que é que, em diversas áreas, tantos quadros querem sair do Benfica? O que realmente se passa no clube?

A valorizar

Jota Silva

Carreira feita a pulso. A estreia em Inglaterra não podia ter sido melhor com um grande golo.

A desvalorizar

Rui Costa

O seu projeto desportivo assente em Roger Schmidt fracassou. O projeto empresarial do clube/SAD dá ideia de que nunca existiu.