Assim sim, futebol português
Procuro sempre orientar a liberdade para ir mais além. Propor soluções, dar sugestões. A crítica gratuita não serve por ser redundante
S OU um crítico profundo de muitos dos vícios em que está mergulhado o futebol português. Sou porque entendo que tenho essa legitimidade. A legitimidade de quem viveu o fenómeno de perto, de quem esteve do lado de lá, de quem pisou relvados durante grande parte da sua vida. Conheço pessoas, as suas rotinas e processos. Conheço bons e maus hábitos. Conheço dependências, adulação e serventilismo. Não falo do que não sei, não censuro o que não conheço, não toco no que não percebo.
Procuro sempre orientar esta liberdade para ir mais além. Para propor soluções, para dar sugestões, pedir reflexões. A crítica gratuita não serve por ser redundante e não acrescentar valor.
A parte boa deste posicionamento é que também me permite exaltar bons exemplos, daqueles que me fazem acreditar que este universo tem muitas pessoas de bem. Gente capaz, íntegra e de valor. E hoje quero aqui enaltecer alguns desses casos, porque julgo serem a inspiração que precisamos para superar tempos difíceis.
A FPF cedeu as 88 camas da Casa dos Atletas como unidade de retaguarda a pacientes Covid-19. Ficou também responsável pela limpeza do espaço e alimentação dos utentes. O gesto é de uma nobreza inatacável mas não é virgem: no ano passado, mobilizou-se através da campanha Todos por Todos, angariando bens essenciais para oferecer a quem mais sofreu com a crise pandémica. Antes e de forma recorrente, aderiu a outras iniciativas para ajudar quem mais necessitava. Não tinha que o fazer, mas ao fazer mostrou o seu quilate ético. Chapeau.
A Fundação do Futebol da Liga Portugal e a Allianz, patrocinadora da Taça da Liga, vão doar duas toneladas de alimentos por cada golo marcado na Final Four. É um gesto bondoso, altruísta e que mais uma vez mostra o poder que o futebol tem quando quer ser poderoso. Que se marquem muitos golos então!
O treinador do Marítimo, Mílton Mendes, mostrou ser uma pessoa de bem ao sugerir que os jogadores profissionais (e eu acrescento treinadores, árbitros e dirigentes) pudessem doar dez por cento do seu salário a quem mais necessita. Uma ideia destas diz muito sobre o caráter de um ser humano. Bravo!
A associação Do Futebol para a Vida deu um passo em frente e está agora em vias de criar um lar para atletas negligenciados ou em dificuldades. Um gesto fantástico só possível devido ao contributo de nomes de peso do futebol nacional e internacional. Brilhante!
Como veem, por detrás da cada nuvem cinzenta, também se constroem coisas boas. Um dia só se irá falar destas, porque as outras vão todas desaparecer. Não duvidem, vão mesmo.