As principais figuras da Liga portuguesa
Gyokeres é a maior esperança dos leões para ferir os dragões

As principais figuras da Liga portuguesa

OPINIÃO25.12.202311:50

A distância pontual não representa a supremacia do Sporting

Com 40% de jogos efetuados, podemos começar a tirar algumas conclusões. O Sporting é, até ao momento, um justo líder do campeonato, com um ponto de avanço sobre o segundo classificado (Benfica). É importante realçar que esta distância pontual não representa a supremacia que o Sporting tem vindo a demonstrar. É, claramente, a equipa mais consistente e competente do nosso campeonato. Aquela que apresenta um processo mais definido e oleado. Em função das caraterísticas dos jogadores que compõe o plantel, consegue ter muitas soluções dentro do próprio jogo. Ao fim de 14 jornadas, optei por destacar cinco intervenientes. Dois jogadores que se destacam pela sua qualidade e importância e três treinadores. Em qualquer um destes casos percebemos a influência que as suas lideranças e comportamentos têm na prestação das equipas que representam.

Gyokeres: a figura do campeonato

Gyokeres tem sido o grande destaque da nossa liga. Conforme tenho vindo a analisar, o Sporting acertou em cheio nesta contratação. É muito forte e disponível fisicamente. É móvel, intenso e agressivo. Desgasta constantemente as defesas adversárias. Tem uma mentalidade impressionante que o faz estar ligado o jogo todo. Cria empatia com os adeptos que se reveem na forma como o avançado sueco desempenha a sua função dentro do relvado. Ganhou o respeito dos rivais, bem demonstrado na forma como preparam o jogo com a preocupação de conseguir controlar Gyokeres. Valoriza quem joga ao seu lado, pelo facto de ter a capacidade de poder servir de referência ou como o jogador de profundidade, capaz de esticar o jogo e procurar imediatamente a baliza adversária. Permitiu a Rúben Amorim tornar o jogo do Sporting mais imprevisível. Valoriza a nossa liga, porque é efetivamente um jogador acima da média, e obriga os adversários a estarem constantemente no limite. Como referiu Rúben Amorim, Gyokeres valorizou o Sporting e o Sporting valorizou Gyokeres (fazendo-o crescer). Eu acrescento: Gyokeres valorizou a nossa liga e a nossa liga valorizou Gyokeres!

Diogo Costa: classe e competência

É claramente um guarda-redes acima da média. Este ano tem vindo, mais uma vez, a demonstrar toda a sua qualidade. Diogo Costa é calmo e seguro entre os postes. Tem enorme qualidade com os pés, o que permite ao FC Porto sair a jogar desde trás, desbloqueando linhas através da qualidade de passe do jovem guarda-redes português. Não treme, é distinto, concentrado, frio e focado. Analisando os primeiros 14 jogos do campeonato, percebemos que a equipa azul e branca está longe de ser uma equipa consistente e segura. Tem permitido que os adversários criem muitas situações de finalização. Ao fim da 14ª jornada o Porto tem apenas 11 golos sofridos e muito se deve à qualidade do seu guarda-redes, que tem camuflado muitos dos problemas da equipa. Tanto Diogo Costa como Gyokeres são dois jogadores que estão acima dos demais. Sobre eles não existem grandes dúvidas. Os clubes que vierem contratá-los terão a certeza que estes atletas farão a diferença nas suas posições, pelas caraterísticas e mentalidade que apresentam.

Rúben Amorim: a mentalidade

O Sporting tem sido a equipa mais competente e consistente da liga até ao momento. Se analisarmos plantel por plantel, o Sporting não será o mais forte. Contudo, existe algo que diferencia o Sporting de Rúben Amorim: o processo. Ideias bem definidas e constantemente desenvolvidas. Processos simples, movimentações bem delineadas e conhecidas, por todo o plantel. Jogadores com capacidade de jogarem em várias posições, de forma a poder ter um plantel mais curto, mas mais unido e participativo. Após a péssima preparação da última época, o Sporting aprendeu e optou por definir o perfil do jogador a contratar em detrimento da opção de fazer chegar muitos jogadores. Acertou em cheio com Hjulmand e, sobretudo, em Gyokeres. Com jogadores com o perfil ideal e com um grupo unido, falta um ponto para a equipa dar o passo seguinte: mentalidade. Por mentalidade, Rúben quer uma equipa intensa, viva, focada, concentrada, que saiba o que tem de fazer em cada momento e que seja adulta, que perceba o contexto que envolve cada jogo. A mentalidade é o que transforma uma equipa bem trabalhada e com boas individualidades, numa equipa temível, respeitada e admirada pelos seus adeptos. Até ao momento, e apesar de alguns percalços (derrota na Luz e Guimarães) o Sporting está a conseguir alcançar os objetivos. Como o futebol é o momento, janeiro e fevereiro irão (novamente) colocar à prova a equipa de Rúben Amorim, pela quantidade de jogos a realizar e pelas ausências de jogadores importantes. Não há dúvidas que o Sporting tem o ADN do seu treinador, sendo ele um dos responsáveis pela forma como a equipa se tem apresentado.

Rui Borges: a revelação

Na sua primeira experiência na Liga está a fazer um trabalho fantástico. Por norma, as equipas que sobem de divisão têm algumas dificuldades em se afirmarem no ano seguinte. O Moreirense foge, claramente, a esta regra. Trata-se de uma equipa composta por experiência e juventude, com uma ideia de jogo bem definida e que passa por querer assumir o jogo. Ter esta ideia é uma coisa, conseguir colocá-la em prática, e fazer com que os jogadores a sigam, é outra. É importante relembrar que nas primeiras cinco jornadas o Moreirense tinha, apenas, quatro pontos. Mesmo assim a filosofia manteve-se: equipa bem organizada, com jogadores com o perfil indicado para o estilo que o treinador pretendia implementar e com a convicção de que esta forma de jogar, ou o processo implementado, iria dar frutos. Apesar de jovem, Rui Borges conseguiu ultrapassar a difícil fase inicial e apresentar uma equipa desinibida, competente, com movimentos bem delineados e percetíveis. Ao fim de, para si, 15 jornadas, está em 6.º na classificação, com um futebol atrativo que valoriza todos: treinador, jogadores, clube e liga. Até ao momento, está a ser a equipa revelação, estando muito perto de conseguir alcançar o objetivo inicial (manutenção).

Álvaro Pacheco: a oportunidade

Esta época tem sido montanha russa para Álvaro Pacheco. Começou no Estoril onde apenas disputou seis jogos da Liga. Os resultados não apareceram mas a realidade é que tentou criar uma equipa que se focasse na baliza adversária. Conseguiu marcar 12 golos mas sofreu 15. Não conseguiu encontrar o equilíbrio necessário e acabou por sair . Passadas poucas semanas teve nova oportunidade, desta vez no Vitória. Um clube que tem uma massa associativa muito exigente. Álvaro Pacheco rapidamente se adaptou e ganhou a confiança, numa primeira fase, dos jogadores. É conhecido por ter treinos rápidos e intensos e por pedir aos seus atletas disciplina, coragem e espírito de equipa. Acrescenta uma visão que tem por base colocar os olhos na baliza adversária. As suas ideias passaram e os jogadores soltaram-se. Em sete jogos fez os mesmos 13 pontos que nas sete jornadas anteriores, mas com uma abordagem diferente, que permitiu produzir mais golos e um futebol mais envolvente e apelativo. Acabou por ganhar também a confiança e respeito dos adeptos vitorianos. Com um sistema de três centrais, encontrou um equilíbrio que não tinha no Estoril. O Vitória, dentro do relvado, demonstra ambição, alegria e intensidade. Álvaro Pacheco cria uma organização coletiva que permite que os jogadores tenham liberdade para se expressarem e acrescentar valor individual ao coletivo. Neste momento, desportivamente, o Vitória está a atravessar uma fase positiva e está com os mesmos pontos do quarto classificado! Por fim, não percebo como uma administração escolhe três treinadores tão distintos para o mesmo projeto. Uma das chaves do sucesso é saber onde e como se quer chegar. Definir o perfil de jogadores e treinador é fundamental. A realidade é que os perfis de Paulo Turra, Moreno e Álvaro Pacheco não têm nada a ver uns com os outros!