Antes de o mundo inteiro o chamar pelo nome
Senna da Silva
Cumpriu-se esta semana o 35.º aniversário (21 de Abril de 1985) da primeira vitória do brasileiro Ayrton Senna num Grande Prémio de Fórmula 1. Foi no Estoril e fez uma corrida totalmente à parte, quase absurda, sob chuva torrencial, depois de ter partido da pole position.
Esperei seis anos por esse momento. Na verdade, desde que tive a felicidade de assistir, também no Estoril, à disputa do campeonato mundial de karting de 1979, que disse de mim para mim que passaria a acompanhar a carreira daquele prodígio, à época mais conhecido como Senna da Silva, antes de o mundo inteiro o chamar pelo nome próprio e deixar cair o último apelido. Mas Senna era e será sempre único.
Um precedente idiota e perigoso
Por causa do vírus chinês, o Governo escocês decidiu proibir os eventos desportivos até ao dia 10 de Junho. Em corolário desta decisão administrativa, sustentada na tutela da saúde pública, as Federações locais decretaram o fim antecipado das competições. Ditado este, foi preciso entregar as correspondentes faixas de campeão. Por conseguinte, adoptou-se como critério para a atribuição do título a média de pontos por jogo. Foi então que aquilo que parecia ser um abrigo lógico provocou uma monstruosa cratera. Como sucedeu na Liga Júnior do Este da Escócia, cuja tabela classificativa, à data da interrupção da prova, era a seguinte:
Ou seja, o Kilwinning Rangers liderava destacado, com 11 pontos de vantagem sobre o 2.º classificado e mais 12 que o Auchinleck Talbot (3.º). Dito isto, pergunta-se agora: quem foi declarado como vencedor do campeonato? Pois bem, quer dizer, mal, o título foi atribuído ao terceiro classificado, o Auchinleck Talbot, apesar de ter menos uma dúzia de pontos que o Kilwinning Rangers. Como foi isto possível? Ora, porque assim como a realidade acaba sempre por ser mais imprevisível e criativa do que a imaginação, também o futebol gosta de dizer de si próprio que é uma caixinha de surpresas. E desta feita ela estava dissimulada na disparidade do número de jogos. Daí que, contas feitas, isto é, dividido o número de pontos pelo número de jogos realizados, o Kilwinning, que era o primeiro classificado com uma larga vantagem, tenha perdido o título em favor do terceiro classificado, o Auchinleck, uma vez que a média deste (2,56 pontos por jogo) era superior à sua (2,12) e à do Pollok, segundo classificado (1,9).
O vírus chinês
AOrdem dos Advogados proclamou o seu repúdio pelo facto de um despacho do Tribunal de Lisboa fazer referência ao «vírus chinês». Referência essa que, aliás, deveria ser lida na sua totalidade. Citando literalmente o despacho: «Devido ao surto pandémico que Portugal está a atravessar, causado pelo vírus chinês (Covid-19), não se mostra aconselhável, devido ao perigo de contágio, reunir num espaço fechado várias dezenas de pessoas, como seria o caso da leitura do acórdão.»
Tudo começou com uma queixa da Liga dos Chineses em Portugal, a qual se pretende indignada por ver a justiça portuguesa empregar a expressão («vírus chinês»). Podia talvez ter começado por lavrar uma genuína indignação pelo facto de o seu governo não ter ainda prestado ao mundo inteiro, pelo menos, um arremedo de explicação sobre as exactas circunstâncias em que foi criado o dito vírus. Sim, criado, porque do nada nada surge. E seguramente que também não há-de ser filho de pai incógnito. De momento, tudo quanto a Humanidade inteira até agora sabe de ciência certa são apenas três coisas: uma - o vírus procede de Wuhan; duas - Wuhan é a sétima maior cidade da China; três - países como os Estados Unidos, a França ou a Inglaterra têm vindo a exercer uma pressão crescente sobre as autoridades chinesas. De resto, ainda esta semana a Chanceler alemã, Angela Merkel, foi cristalina: «Quanto mais a China prestar contas de maneira transparente sobre a génese do vírus, melhor será para toda a gente no mundo».
Pese embora tais certezas, parecem cada vez menos as dúvidas sobre a participação do Instituto de Virologia de Wuhan, nomeadamente do seu laboratório P4, em toda esta tragédia. Que se traduz nisto: em última instância, uma realidade indetectável aos nossos olhos (um vírus, este chinês, ou qualquer outro futuro) pode vitimar qualquer um de nós. O que quer dizer todos. Afinal é disto que se trata quando se fala em armas biológicas.
O grande poeta americano Ezra Pound comparou, durante a II Guerra Mundial, a opinião pública americana a um louco que, isolado num manicómio, se recusa a acreditar que nas costas de um selo possam caber micróbios suficientes para matar um homem. Por falar em opinião pública: o que teria sucedido se este Instituto de Virologia não fosse chinês mas, digamos, iraniano?
Entrevista imaginária
-Posso fazer-lhe uma pergunta?
- Claro que sim! Só não tolero que me queiram pôr questões como as galinhas-poedeiras colocam ovos…
- Tenho uma dúvida…
- Se tem uma dúvida é porque não sabe o que gostava de saber. Logo, não pode falar do que não sabe. Fim de conversa.