Amorim: rir de coisas sérias
Rúben Amorim está a caminho de Old Trafford
Foto: IMAGO

Amorim: rir de coisas sérias

OPINIÃO09.11.202407:00

Rúben é alguém pouco comum no futebol português desde que terminou a carreira de jogador. A única entrevista que concedeu, a um humorista, revelou mais sobre o futebol português do que qualquer conferência de imprensa

Rúben Amorim despede-se do Sporting em Braga. Não posso de deixar de pensar que o destino é uma entidade que prima pela ironia. Será na Pedreira o adeus definitivo ao leão antes da ida para o Manchester United, local mais do que próprio para se fechar o ciclo do treinador no clube de Alvalade. Foi ali que o Sporting o foi buscar, é ali que deixa de o ter e onde nasce uma pergunta que me parece pertinente. O que fica neste futebol, após Amorim?

Rúben é alguém pouco comum no futebol português desde que terminou a carreira de jogador. A entrevista, já com alguns anos e a única que concedeu até hoje, ao humorista Rui Unas, no Maluco Beleza, revelou mais sobre certos aspetos do futebol português do que qualquer conferência de imprensa. Amorim teve liberdade de poder dizer as coisas como elas são, no tempo e formato que lhe assentavam na perfeição, e naquele seu jeito de rir ao falar de coisas sérias do futebol nacional.

Um futebol que Amorim começou por desafiar com toda a história do estagiário no Casa Pia e depois surpreendeu quem, talvez, achasse que seria lógico aceitar o convite do Benfica. Rúben não aceitou esse, nem o do Estoril e acabou em Braga. Por esta altura, ainda bastante debaixo do radar público. Até que Sá Pinto saiu.

O resto, o país sabe de cor. Numa altura em que se discutia se o Sporting era melhor opção que o SC Braga, Amorim não hesitou e atirou-se ao contexto mais difícil do futebol português na altura – vai agora para o mais complicado de todos em Inglaterra.

No Sporting, Amorim ganhou dimensão. Pelo primeiro campeonato, evidentemente, mas também pela forma. Não da equipa, mas dele próprio. Escrevi no final desse primeiro título o que, creio, todos viram, mas poucos, creio também, ainda admitiam.

«Amorim rompeu preconceitos clubísticos e conceitos absurdos da comunicação desportiva vigente e, já agora, lançou discussão séria sobre a formação de treinadores. Rúben assumiu que errou, assumiu que não era santo, assumiu que se excedeu, assumiu desde início que era benfiquista, e assumiu que copiou o FC Porto. E daí?  Não sei se o Sporting de Amorim iniciou uma era, mas era bom que o Amorim do Sporting marcasse uma tendência.»

Passaram três anos e meio desde então.  Tenho a sensação de que por cá pouco ou nada mudou. Também tenho a certeza de que Rúben também não e continua igual a si próprio. A rir-se de coisas sérias. Mais alguém consegue?