Ainda está tudo em aberto (menos a Champions, claro)

OPINIÃO23.02.202206:00

Ontem fiquei a saber que 73% dos leitores de A BOLA entende que o Sporting ainda pode alimentar esperanças de chegar à liderança da Liga

F IQUEI contente em saber que tanta gente confia no Sporting, ao ponto de achar que ainda pode ser campeão nacional. Embora seja impossível ao Sporting apanhar o FC Porto, uma vez que toda a possibilidade está em o FC Porto deixar-se apanhar. Ou seja, para aquele feito tão inédito que é preciso recuar aos tempos em que nem eu era nascido - ganhar o campeonato duas vezes seguidas - não dependemos de nós; dependemos do FC Porto. Infelizmente o FC Porto tem demasiadas vezes o campo inclinado a seu favor, para usar um eufemismo muito comum.
No domingo passado, o Sporting ganhou ao Estoril, num jogo sem grandes incidentes e sem qualquer influência da arbitragem no resultado. Embora os 3-0 com que terminou não revelem a dificuldade da partida, o encontro foi calmo e cordato. A expulsão de Raúl Silva (Estoril) foi uma chamada de atenção oportuna do VAR, numa altura em que, embora apenas por 1-0, o Sporting já vencia, e os outros golos surgiram naturalmente contra uma equipa com menos talento e orçamento, e a jogar com 10.
Caso diferente foi o do FC Porto em Moreira de Cónegos. Venceu 1-0, mas o jogo teve bastantes incidências e terminou com mais uma charrafusca, acabando tudo à pancada e com expulsões depois do jogo terminar. Durante o tempo regulamentar houve duas expulsões, uma para cada lado, a começar pelo portista Grujic, e seguindo-se, cinco minutos depois, a de Steven Vitória, do Moreirense. O FC Porto teve sorte no final do jogo e a expulsão do jogador da equipa minhota pareceu exagerada a muita gente. Não significa que, caso se mantivesse em campo, o Moreirense empataria ou venceria o jogo, mas como é óbvio, o ímpeto que a equipa estava a ganhar esmoreceu, sobretudo depois de, num livre direto, a trave ter salvo a baliza dos dragões.
Ou seja, a continuar assim a tarefa do FC Porto fica facilitada, e a confiança vai, ela também, esmorecendo.


QUESTÕES DE CALENDÁRIO

J Á o Benfica tem este ano um dom especial para tornar tudo mais difícil para si próprio. Depois do empate do FC Porto com o Sporting, que fizera reduzir a diferença dos encarnados para quatro pontos em relação aos rivais da Segunda Circular, conseguiu empatar 2-2 no Bessa, depois de estar a ganhar 2-0. É obra! Veremos o que faz hoje, na Luz, frente ao Ajax, sendo que os holandeses não são o Boavista, muito longe disso…
O FC Porto amanhã também tem a segunda mão do jogo contra a Lazio, que venceu no Dragão por 2-1. O jogo é difícil e o calendário aperta, já que no domingo enfrenta o Gil Vicente, equipa que está em lugar europeu, apenas a quatro pontos do SC Braga… veremos. Já o Benfica enfrenta um V. Guimarães que tem desiludido esta época, mas que nunca é simples de derrotar pelos grandes, e o Sporting vai à Madeira, um dia antes, sábado; apesar de o Marítimo não andar pelos melhores dias (perdeu em casa, também, com o Famalicão, na última jornada) nada está assegurado. Por isso, como costumam dizer os treinadores é jogo a jogo, e ainda há 33 pontos em disputa para cada equipa, em face dos quais os seis que o Sporting leva de atraso em relação ao FC Porto; como os seis que o Benfica tem a menos do que o Sporting; como até - e atenção - os sete que o SC Braga tem de distância para o Benfica, podem não ser tanto como, à primeira vista parece. E tudo isto depende de fatores como a continuação ou não na Europa (problema que o Sporting arrumou, salvo um milagre maior do que o de Afonso Henriques, em Ourique) cujas hipóteses o Benfica verá hoje e FC Porto e SC Braga amanhã.
Particularmente, os portistas, tal como o Sporting, ainda têm de jogar duas mãos da Taça de Portugal, a primeira das quais em Alvalade, já a 2 de março, ou seja, de hoje a oito dias. Depois, o FC Porto, caso passe a Lazio, em Roma, terá a 10, na semana seguinte, um jogo dos oitavos de final da Liga Europa (tal como o SC Braga, se passar amanhã na Pedreira, o Sheriff). E o Benfica, se for capaz de ter um bom resultado, também tem a meio da semana (15 de março) a segunda mão de um encontro que pode ser decisivo, na Holanda. Quanto ao Sporting, é a 9 de março que defronta o City em Manchester, mas aposto que vão descontraídos, depois do 0-5.
Ou seja, há muitos jogos, sendo que na frente Europeia a única equipa que hoje se possa dizer estar definitivamente arrumada é o Sporting. Não é bom, mas para as contas internas dá mais descanso. Veremos como é com as outras três que compõem as quatro equipas portuguesas que vão à frente na nossa Liga.
 

Pablo Sarabia e Francisco Geraldes na vitória dos leões sobre o Estoril por 3-0 


VARANDAS E OS OUTROS

T AMBÉM é hoje, que às 21:30 se defrontam, na Sporting TV, os três candidatos à liderança do Sporting. É um combate desigual, pela força das circunstâncias, no qual Varandas vai com muito avanço. Como já escrevi, Ricardo Soares Oliveira tem alguns pontos interessantes no programa e Nuno Sousa é simplesmente uma tentativa de ressurgimento de um passado de que ninguém, salvo os próprios, tem saudades.
Embora seja favorável à limitação de mandatos, como aliás propõe Ricardo Oliveira (três mandatos, no máximo), penso que Frederico Varandas, por mérito próprio - sobretudo a contratação de Rúben Amorim, que se tornou no homem mais amado pelos sportinguistas - deve continuar à frente, no dia 5 de março. E, embora, não me envolva em qualquer candidatura, tenho o direito, como sócio, de exercer o meu direito de voto. Espero sinceramente que a estabilidade impere, e que algumas ideias trazidas ao debate façam Varandas e os restantes membros dos corpos sociais ponderar certas mudanças.
Insisto em várias que aqui fui deixando, como a separação do Conselho Fiscal e Disciplinar em dois (precisamente um Fiscal e outro Disciplinar) ambos eleitos em listas próprias e não na mesma que a do Conselho Diretivo. Claro que isso implicaria uma alteração dos Estatutos. E, motivados por essa alteração, poderíamos colocar à votação a ideia de as AGs (exceto as eleitorais e outras que se queira estabelecer, como expulsões ou readmissões) poderem ser feitas com sócios delegados, como acontece nos clubes que são pertença dos sócios, e não à moda do século XIX, com os que estiverem meia hora depois da primeira convocatória.
A segunda volta na eleição do CD e MAG, até para impedir que um presidente vencedor seja o mais detestado pelos sócios (o que é possível, como se sabe) e o método de Hondt aplicado às comissões fiscal e disciplinar, são outros pontos.
O objetivo destas mudanças é fazer com que o Sporting se torne um modelo de governança e de democracia entre os clubes portugueses; impedindo fenómenos como os que já tivemos e outros clubes, infelizmente, mantém. Frederico Varandas já entrou na história do clube, estaria na altura de a inovar, colocando o clube no século XXI também em termos estatutários, organizativos e de controlo dos atos dos dirigentes e dos sócios. Se encaro a mais que provável vitória nestas eleições como um reconhecimento do que já fez, chegou a altura de olhar para a frente e ver o que falta fazer.


CHAMPIONS

Acho muito bem que a UEFA não realize a final da Champions em São Petersburgo. É altura de mostrar que o futebol também defende a decência internacional e a prevalência da palavra dada em acordos, além da paz.


ÁRBITROS

Queixas da arbitragem toda a gente tem. Até o FC Porto. Mas o Benfica vir agora queixar-se, depois das exibições que tem feito e dos lenços brancos que se veem, é muito bizarro. E o recém-eleito Rui Costa, se aguenta esta época assim (veremos o que se passa esta noite com o Ajax) não pode manter as coisas da forma que estão para a época seguinte.


CIMEIRA

A cimeira de presidentes, a que o Sporting não faltou, foi para quê? Ao que parece para resolver os problemas dos confrontos nos jogos. Até à próxima; porque ou mudam certos presidentes ou as coisas não deixam de ser o que são…