África a falar português

OPINIÃO16.06.202306:30

Sonho ver djurtos, tubarões azuis, palancas negras e mambas no CAN

AMANHÃ estarei com os meus cambas na Ilha, a contemplar a belíssima baía de Luanda, num rodízio de emoções que se completa com um calulu a preceito - de peixe, claro! - um funge de chorar por mais e uma Cuca para completar a sinfonia dos sentidos. De olhos pregados na televisão, gritando «um só povo, uma só nação», vestido de palanca negra à espera de boas notícias de Duoala… Se Angola vencer a República Centro Africana fica com o CAN à mercê, já que depois recebe na Huíla o último do grupo: Madagáscar. A fé é tão grande que já me imagino no Lubango. Depois do jogo e da festa, subo ao topo da serra da Chela, percorrendo com vagar a impressionante cordilheira que serpenteia o acesso até um dos pontos mais altos de Angola. E poderei então gritar, esmagado por paisagem a perder de vista, «vivam os palancas negras, viva Angola».

Domingo estarei na cidade da Praia a gritar por Cabo Verde. Se vencerem o Burkina Faso, os tubarões azuis garantem presença no CAN da Costa do Marfim. Podem até empatar ou perder, consoante o que acontecer no Essuatíni-Togo. Vou beber um grogue de penálti e sujar os dedos com moreia frita. Para dar sorte, amanhã passarei primeiro por São Vicente a dar um mergulho na praia da Lajinha. Aproveito e faço uma visita ao Centro Cultural do Mindelo para assistir, ao vivo, ao músico Tiago Silva, que vai lançar o EP Kês D’meu.

Domingo estarei em Maputo à mesa com gente boa, mesa comprida ao ar livre, panelas fartas ao lume a prometerem uma matapa de elevar almas diretamente ao céu…. Uma xima a preceito, mas antes os camarões à zambeziana. Não faltam 2M ou Laurentina, cervejas que antes de matarem a sede já me devolveram à vida. De olho pregado na televisão, solenemente cantarei «ó pátria amada, vamos vencer». Seguro de que os mambas do meu querido Chiquinho Conde trarão do Ruanda uma vitória que deixe aberta a porta do CAN. E dançarei marrabenta.

Com a Guiné-Bissau apurada, sonho ver djurtos, tubarões azuis, palancas negras e mambas a pintar o CAN de português.

Há viagens que se fazem com o coração, pela estrada das boas recordações e promessas de visitas futuras. Como as de amanhã e domingo. Viagens também nas asas dos poemas do angolano Agostinho Neto, do cabo-verdiano Corsino Fortes, do moçambicano José Craveirinha ou do guineense Tony Tcheka.