A resistência, a regra e a excepção
da tentação
Um excelente anúncio: o treinador do FC Porto garantiu que não precisa de reforços no mercado de Janeiro. Assim sendo, só uma coisa é necessária: não contratar mais ninguém na próxima janela de transferências. E quando - digo mesmo quando, não digo se - surgir a tentação de cometer mais uma loucura, composta por uma parte de desmando financeiro e outra de ilusão desportiva, os responsáveis do Dragão só têm de cerrar os dentes e repetir quantas vezes for necessário: não, não precisamos de outro Waris e, portanto, não vamos contratar outro Waris. O problema é que, como proclamou o genial Oscar Wilde, pode resistir-se a tudo mas não a uma tentação. Todavia, como todas as regras comportam uma excepção, também aqui ela poderia ser reconhecida. Desde que fosse proveniente de Glasgow e se chamasse Alfredo Morelos. Em qualquer caso, imperativo é escolher os melhores jogadores para cada função. Como sucedeu com a inclusão de Nakajima no onze inicial, com as prerrogativas de um verdadeiro 10. Em sentido inverso pode apontar-se a persistente titularidade de Iván Marcano, absolutamente irreconhecível quando comparado com o nível que já havia exibido antes de trocar o Dragão pela Roma, e a assaz estranha quebra de rendimento do capitão Danilo Pereira.
Dos elos de ligação e outras redundâncias
Como se já não bastasse a famigerada e absurda «troca por troca», tenho ouvido ultimamente, com alguma frequência, nomeadamente em transmissões televisivas de jogos de futebol, menção a «elos de ligação», como se pudesse haver elos de outra natureza, ou como se um elo não fosse, por definição, o que junta dois elementos. Mas assim como não podemos falar em «subidas para cima» ou «descidas para baixo», não falemos também, por favor, em «panoramas gerais» ou em «elos de ligação».
ENTREVISTA IMAGINÁRIA
- A sua equipa pareceu algo desorientada…
- Algo desorientada? Não. Esteve mesmo totalmente desorientada. O que só prova, aliás, que cumpriu de modo escrupuloso e criterioso o plano de jogo em devido tempo preparado para esta partida.
- Desculpe? Importa-se de repetir? Receio não ter percebido bem… Não estava a dizer-me que não só a sua equipa estava mesmo desorientada como tal desorientação foi premeditada, pois não?
- Afirmativo! Era isso mesmo que estava a dizer. E não vejo qual possa ser o espanto causado por tal variante estratégica.
- Pode explicar um bocadinho melhor essa teoria? Receio que um de nós não esteja com o juízo bem afinado e esse não sou eu seguramente.
- Vou tentar dizer isto devagarinho, e com um desenho, a ver se logra alcançar e reter alguma coisa do que lhe vou agora ensinar. Então é assim: como dizia o grande Lucius Annaeus Seneca, «quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável». Posto isto, é absolutamente vital começar por escolher um destino e só depois averiguar o melhor caminho para lá chegar. Ora, onde quer que esteja o local de partida, há sempre quatro pontos cardeais para definir a direcção a seguir. Mas estes são mutuamente excludentes. O que quer dizer que se escolhermos o sul, por exemplo, não podemos seguir para oeste. Mas nós escolhemos estar norteados, isto é, seguir para norte. Logo, se seguirmos qualquer outra direcção tal significará que estaremos desnorteados. Assim, neste caso em particular não queremos estar orientados, ou seja, apontados a oriente. Donde, estarmos desorientados é tão bom como tão mau seria se estivéssemos desnorteados. Percebido?
- Qual a melhor direcção para sair daqui?