A real paixão contra o ‘gosto’
O futebol europeu é um tabuleiro que promove, como nunca, uma luta entre o poder financeiro, com dois blocos distintos: a Premier League e a Liga dos Campeões. Duas competições criadas no mesmo ano (1992), duas competições que foram rivalizando na capacidade de gerar receitas (com a diferença que uma é continental e outra é restrita ao Reino Unido). Não é por acaso que alemães, franceses e italianos estão sempre na linha da frente quando se fala de uma possível liga ultramilionária e (fundamentalmente) fechada; não é por acaso que os ingleses não são os grandes dinamizadores desta ideia, porque uma prova com estas características iria prejudicar a força dos campeonatos nacionais, logo a força da premiership, que ao contrário do que acontece em Itália, França e Alemanha não tem vencedores antecipados (só honrosas exceções contrariam o poder de Juventus, PSG e Bayern).
A UEFA bem pode negá-lo, mas mais cedo ou mais tarde a força do dinheiro vai obrigar à criação da tal Superliga. O primeiro passo foi a entrada direta na fase de grupos da Champions dos quatro primeiros classificados dos quatro primeiros do ranking - uma imposição da Associação Europeia de Clubes após uma série de ameaças e num período em que Michel Platini estava a perder o poder em Nyon. E muito mais estará a caminho.
Um adepto na China ou no Catar até pode considerar a Juventus uma rival do Bayern, mas os seus verdadeiros rivais nunca deixarão de ser o Inter e o Dortmund. Enfraquecer a competitividade local é tornar o futebol num concerto do Justin Bieber. Este belo desporto só é possível com adeptos reais, não adeptos de plástico que hoje são do clube do Ronaldo e amanhã do clube do Neymar. É substituir a paixão por um gosto. Vale dinheiro mas tem pouca essência.