A punch line que não fez sentido

OPINIÃO13.02.202305:30

O processo Amorim funcionou no clássico mesmo que o resultado não o espelhe

RESULTADISTAS irão concluir que estiveram na eficácia e maturidade os alicerces da vitória do FC Porto no clássico e no seu inverso as razões do descalabro leonino. É uma visão comum, embora redutora sobre o que se passou num jogo que afunda o leão e mantém o dragão com expectativas legítimas e moral em alta para ainda chegar ao título. Na minha visão, desde logo, um clássico com tal riqueza estratégica não merecia que fosse desequilibrado por um ressalto e um pontapé de baliza, mesmo com toda a classe de Uribe e Pepê na assinatura dos dois momentos de finalização. A punch line não fez sentido.

Os dragões, ao contrário de outros clássicos, estiveram longe de sustentar o triunfo nas jogadas que Conceição foi lançando no seu lado do tabuleiro de xadrez. O técnico portista quis controlar o Sporting, com André Franco assimétrico, por dentro, a fim de tapar os passes verticais para o trio da frente (e libertar ainda o corredor para João Mário), o que começou a ser desmontado com os movimentos de Pedro Gonçalves com e sem bola, e mais tarde pretendeu segurar a vantagem ao baixar Galeno, tal como o extremo fazia em Braga, para impedir envolvimento pela largura ou abertura de espaço nos canais interiores.

Já o Sporting quis controlar e dominar o encontro na sua totalidade, e encontrou rotas de fuga para a baliza de Diogo Costa. É isso que explicam as estatísticas, sobretudo nas métricas dos passes progressivos, toques na área contrária e remates enquadrados. Na verdade, o processo funcionou, o resultado, importante face às distâncias (concordo), só não o espelha.

Amorim será olhado com desconfiança face às escolhas e às situações de Trincão e Esgaio, porém a forma como procurou (e encontrou) soluções deve ser sublinhada. Sporting, FC Porto e Benfica continuam a ter excelentes técnicos e... plantéis de riqueza bem diferente.